O ministro da Casa Civil, Rui Costa, resolveu recuar de sua atuação na articulação política do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diante das diversas críticas que o governo enfrentou nas últimas semanas. A estratégia faz parte de um movimento do Palácio do Planalto no intuito de pavimentar a relação do Executivo com a base de apoio do Congresso Nacional.
De acordo com integrantes do governo, o recuo de Costa deve beneficiar, principalmente o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Apesar de ser o responsável direto pela articulação com a Câmara e com o Senado, Padilha era apontado pelos parlamentares como um "ministro sem tinta na caneta", pois os acordos assumidos por ele precisavam do aval da Casa Civil. Com a mudança na estratégia, a expectativa é de que os acordos de Padilha passem sem entraves pela pasta de Costa.
Desde que assumiu a Casa Civil, Rui Costa sinalizou que sua pasta ficaria restrita à gestão e não entraria na articulação política do governo. A pasta dele, no entanto, é responsável pela liberação e distribuição imediata das principais demandas dos deputados e senadores.
É pela Casa Civil, por exemplo, que se passam as nomeações para os cargos de segundo e de terceiro escalão do governo. Além das emendas parlamentares, o governo Lula tem usado os cargos em estatais e em agências reguladoras para abrigar aliados políticos de partidos do Centrão que integram a base.
Resistência do ministro em receber parlamentares resultou em derrotas para o Planalto
A resistência de Costa em receber os parlamentares virou um dos principais entraves para a articulação política do governo. Deputados e senadores fizeram chegar ao presidente Lula as queixas de que não estariam sendo recebidos pelo chefe da Casa Civil ou até mesmo tendo agendas canceladas de última hora.
Essa estratégia resultou na derrota que o governo sofreu na Câmara dos Deputados na votação que derrubou trechos do decreto de Lula sobre o Marco do Saneamento. Deputados escalados pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para negociar com o Planalto acabaram não sendo recebidos por Costa, o que irritou os parlamentares. Após a derrota, o ministro da Casa Civil reconheceu o erro na estratégia.
"Acho que nós temos que reconhecer um erro nosso. Eu tinha pedido duas ou três vezes que nós fizéssemos antecipadamente uma reunião com os líderes para apresentar o decreto [do Marco do Saneamento]. E, pelo excesso de trabalho, essa reunião, e pela agenda dos parlamentares, nós não conseguimos fazer essa reunião com antecedência", explicou o ministro em entrevista à GloboNews.
Depois disso, o ministro da Casa Civil passou a ser criticado por conta de sua atuação durante a tramitação da Medida Provisória que reestruturou a Esplanada dos Ministérios. O texto foi aprovado no limite do prazo e só foi apreciado pela Câmara depois que Lula entrou diretamente nas negociações.
Com a avalanche de críticas por conta de sua atuação política, Rui Costa reduziu suas declarações e aparições públicas nos últimos dias. Além disso, ele começou a reservar espaço em sua agenda para receber parlamentares.
Atuação de Rui Costa resultou em críticas entre os aliados de Lula
Além das críticas por parte de deputados e senadores de partidos de centro como MDB, PSD e União Brasil, Rui Costa também passou a ser alvo de "fogo amigo" até mesmo entre integrantes do PT. Reservadamente, integrantes da bancada petista avaliam que a escolha de Costa para a Casa Civil foi um erro diante de sua inabilidade política.
Nos últimos dias, por exemplo, o ministro se envolveu em uma polêmica depois de classificar Brasília como uma "ilha da fantasia". Para integrantes do governo, Rui Costa errou o "timing para cometer tamanho sincericídio". A avaliação interna é de que o posto de ministro deveria pesar na hora de fazer tais declarações.
Durante um evento na Bahia, o ministro da Casa Civil criticou a escolha da capital do Brasil, alegando que a estrutura de Brasília deixa os legisladores distantes da realidade de pobreza encontrada em outras grandes metrópoles.
“Era melhor [a capital] ter ficado no Rio de Janeiro, ou ter ido para São Paulo, para Minas ou Bahia, para que quem fosse entrar num prédio daquele, ou na Câmara dos Deputados ou Senado, passasse, antes de chegar no seu local de trabalho, numa favela, embaixo de viaduto, com gente pedindo comida, vendo gente desempregada”, declarou Costa.
A deputada federal Érika Kokay (PT) também afirmou que a declaração de Rui Costa "é típica de quem não conhece a cidade e o DF". "Aqui é a capital da República, terra de gente trabalhadora. Gente que trabalha, produz, estuda, que sofre com a falta de serviços públicos, que dança, que ri, que se manifesta das mais diversas formas e que, além de tudo isso, sedia e recebe muito bem quem vem para cá trabalhar pelo país", argumentou a correligionária do ministro.
Sem citar o chefe da Casa Civil de Lula, Lira pediu "comedimento" a ministros e reforçou que declarações como as de Rui Costa "não ajudam" na articulação do governo. Diante das críticas, Rui Costa usou as redes sociais para dizer que "não foi feliz com as palavras" e que as declarações tinham sido apenas um "desabafo".
"Na sexta-feira passada, eu estava em Itaberaba, na Bahia, num evento de entrega de mais um hospital. Lá, desabafei e demonstrei minha inconformidade com o processo de escolhas e decisões tomadas. Ao citar Brasília como centro do poder político, não fui feliz nas minhas palavras, o que permitiu que alguns transformassem a minha declaração em um ataque à cidade ou ao seu povo", escreveu.
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