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Perfil do chefe da Casa Civil

Rui Costa usa o posto de “primeiro-ministro” para seguir dando as cartas na Bahia

Rui Costa
Ministro da Casa Civil, Rui Costa (Foto: reprodução/Canal Gov)

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O senador e ex-governador da Bahia, Rui Costa (PT), atualmente ministro da Casa Civil, foi uma das primeiras escolhas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para compor a equipe de seu terceiro mandato. Sua missão é coordenar os outros 37 ministérios e liderar a reedição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Este prestígio, aliado ao seu estilo centralizador e pragmático, fez com que analistas rapidamente o incluíssem na lista de possíveis candidatos à Presidência pelo lado governista em 2026, rivalizando com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), caso Lula não queira ou possa se recandidatar.

No entanto, quase um ano e meio após a posse, Costa não conseguiu expandir sua influência além do Palácio do Planalto, onde trabalha próximo ao gabinete de Lula. Sem agregar valor à sua imagem no cenário nacional e com uma interação errática com o Legislativo, o chefe da Casa Civil tem gerado insatisfações entre os colegas da Esplanada dos Ministérios.

Na função de articulador político, que divide com os líderes governistas no Congresso e com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), ele tem tido a sua pior avaliação. Segundo pesquisa Genial/Quaest* divulgada no fim de maio, a rejeição entre os deputados alcançou 39%, enquanto só 29% avaliaram a sua articulação politica como boa.

Dentro do governo, ele e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, são os principais representantes da ala cada vez mais apoiada por Lula, que se opõe à postura da equipe econômica em favor do equilíbrio fiscal. Eles defendem a ampliação dos gastos federais em obras de infraestrutura, visando estímulos artificiais à economia e ganhos eleitorais imediatos, seguindo a mesma estratégia que levou ao colapso da gestão de Dilma Rousseff (PT).

Recentemente, ele e Silveira conseguiram derrubar o ex-presidente da Petrobras Jean Paul Prates (PT) para alinhar a empresa com o viés desenvolvimentista do governo.

Um dos fatores que fortaleceram a parceria entre Costa e Silveira foi a proximidade do ex-governador com Carlos Suárez, empresário do ramo de gás natural, que recebeu acenos do governo Lula e prestou serviços ao governo baiano. No início de 2023, Costa se dedicou a acelerar iniciativas para promover o uso do gás pela indústria, incluindo a rede de gasodutos Brasduto, avaliada em R$ 100 bilhões, que foi incluída nas prioridades do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

Um sinal do apoio de Costa ao gás e a Suárez foi a pressão que fez para emplacar Efraim Cruz, ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e defensor do gás, ao cargo de secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia. O titular da pasta vê a chance de promover a industrialização de Minas Gerais pelo gás.

Questões do governo ficam em segundo plano para Rui Costa, em favor da Bahia

A centralidade esperada de Rui Costa no Lula 3 revelou-se ilusória, com sua projeção ficando aquém dos petistas mais notórios que ocuparam a pasta anteriormente, como José Dirceu e Dilma. A principal razão para isso é que todos os seus movimentos, juntamente com sua vasta experiência política, foram direcionados para garantir vantagens ao seu reduto eleitoral. Para seguir dando as cartas na Bahia, ele abdicou da busca por soluções para os dramas cotidianas que cercam a Presidência. Mesmo assim, Costa permaneceu leal ao plano de reeleição do presidente e manteve-se firme no núcleo duro “palaciano”, inclusive cuidando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Na semana passada, em entrevista à Rádio A Tarde, de Salvador, José Dirceu defendeu Costa no papel de gerente da Esplanada. "Ele tem coordenado o governo e não vejo razão para críticas a ele", afirmou. "Faço uma avaliação positiva da sua gestão, porque este é o papel que o presidente lhe atribuiu. Não podemos cobrar dele aquilo que não é sua atribuição", ressaltou, referindo-se à articulação política. Após críticas generalizadas à atuação de Padilha, Costa foi pressionado a ajudar o governo diante das recentes derrotas no Congresso.

Sucessão do governo estadual em 2026 já fomenta racha no PT baiano

A ambição de Rui Costa para consolidar uma posição de destaque no cenário estadual já gerou uma crise interna no PT baiano. A eleição de Jerônimo Rodrigues (PT) para o governo em 2022 consolidou a hegemonia do PT na Bahia, onde o partido completará 20 anos no poder, após 16 anos consecutivos sob a gestão de Jaques Wagner, atual senador, e Rui Costa. No entanto, Costa já sinalizou em entrevistas que pretende disputar o governo novamente em 2026, contrariando a expectativa de reeleição de Rodrigues, apoiado por Wagner.

A Bahia é o estado com maior votação para o PT. Na eleição de 2022, Lula obteve 72% dos votos daquele eleitorado e perdeu em apenas dois dos 417 municípios baianos.

Para completar o ambiente hostil ao ministro em Brasília e favorecer o fogo amigo, o chefe da Casa Civil foi citado no início de abril em uma delação premiada da Polícia Federal (PF), que investiga fraude na compra de respiradores pulmonares durante a pandemia de Covid-19, em 2020, quando ele era governador.

Dias depois, Lula aproveitou uma agenda pública em Pernambuco para elogiar Costa, chamando-o de "primeiro-ministro" e destacando sua trajetória na Bahia. Em paralelo, Costa mostra-se rancoroso com a PF, dificultando discussões para amenizar cortes orçamentários.

O desgaste de Costa aumentou após uma empresária que vendeu e não entregou respiradores ao governo da Bahia afirmar à PF que a Polícia Civil do estado se recusou a mencioná-lo nos depoimentos sobre a fraude. Ele nega qualquer participação. O contrato, no valor de R$ 48 milhões, resultou na devolução de R$ 10 milhões por parte da mulher, que alegou ter fechado a venda com autorização de Costa e a mediação de um empresário baiano que se apresentou como amigo do governador e da então primeira-dama, Aline Peixoto.

Com o aval da Assembleia Legislativa, a esposa do ministro da Casa Civil, que é enfermeira, foi eleita conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) da Bahia no início do ano passado. O cargo, que é vitalício até a aposentadoria compulsória aos 75 anos, tem uma remuneração mensal de R$ 42 mil. O TCM é responsável por analisar as contas dos prefeitos baianos e exige de seus conselheiros “conhecimentos de administração pública”. Curiosamente, Costa defendeu em 2017 a extinção do tribunal, argumentando que isso economizaria R$ 200 milhões para o estado. A indicação de Aline irritou a base petista na Bahia e aliados de Lula, com o senador Jaques Wagner manifestando publicamente sua oposição à candidatura dela.

O foco do ministro nas questões do seu estado fica evidente se examinar a sua rotina. Segundo levantamento do jornal Folha de S. Paulo, de janeiro ao começo de maio deste ano, Costa recebeu 43 prefeitos baianos, todos de sua base aliada, mantendo a média de um encontro a cada dois dias úteis. Desde que assumiu o cargo, ele já se reuniu com 114 chefes do Executivo municipal da Bahia, mais de um quarto do total, incluindo os de cidades pequenas. Com isso, ele reservou mais tempo a esse grupo do que aos próprios ministros, os quais deve coordenar, sem registros de agenda com colegas como Silvio Almeida (Direitos Humanos), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Márcio França (Pequenas Empresas).

Busca por investimento chinês para a Bahia marca a atuação de Rui Costa

Uma prova evidente do esforço pessoal de Rui Costa em favor da Bahia é a concertação que viabilizou importante investimento do grupo automotivo chinês BYD no estado. Ele e Lula, que frequentemente visita a Bahia, empenharam-se em incluir na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma tributária a prorrogação de incentivos fiscais para fábricas de automóveis já instaladas no Nordeste, beneficiando a unidade de carros elétricos da BYD na Bahia, a partir do empreendimento encerrado pela Ford.

Em outubro de 2023, ao visitar o Polo Industrial de Camaçari (BA), antes reservado à Ford, para o lançamento da pedra fundamental da nova fábrica da BYD, Costa elogiou a parceria entre Brasil e China para transformar o parque brasileiro de energia renovável em uma “nova Arábia Saudita”. Neste ano, o Congresso analisa outro programa que favorece os veículos chineses a serem produzidos na Bahia, o Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que prevê renúncias fiscais de R$ 20 bilhões.

Ainda visando atrair mais investimentos chineses para a Bahia, Costa foi designado por Lula para ir à China no começo deste mês, dentro de grande comitiva do governo, com a especial missão de obter o apoio de Pequim para acelerar obras estratégicas, incluindo a construção da Ponte Salvador-Itaparica, na capital baiana.

Para o professor de Ciências Políticas e consultor eleitoral Paulo Kramer, o comportamento de Rui Costa se insere na disputa de poder entre os diferentes grupos internos do PT, unidas apenas pela figura de Lula. Nesse sentido, nenhum dos sucessores de José Dirceu na Casa Civil conseguiu aglutinar maiorias dentro da legenda para firmar a sua influência.

O também professor aposentado da UnB Flávio Antônio Testa acrescenta ainda um detalhe sobre o modo de agir de Costa, a atuação em favor de interesses empresariais na Bahia, como os da BYD, e na combinação entre os políticos mais fortes do estado. “Ele não está preocupado com questões da Casa Civil. Tem foco estreito”, diz.

Metodologia

A pesquisa Genial/Quaest foi realizada entre 29 de abril e 20 de maio de 2024. Foram ouvidos 183 deputados federais em exercício. A coleta dos dados foi feita presencialmente ou por meio de questionário estruturado online. A margem de erro é de 4,8 pontos percentuais.

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