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"SAC da reclamação"

“SAC da reclamação” é nova tentativa de Lula de reverter queda de popularidade

Lula
O presidente Lula (PT) durante discurso em Brasília (Foto: Reprodução/Canal Gov)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sugeriu, nesta segunda-feira (22), a criação de um canal de ligação do Governo Federal para que a população pudesse utilizar para fazer reclamações. A sugestão do "SAC da reclamação" foi dada após a divulgação de mais uma pesquisa que revelou piora nos índices de aprovação do presidente. Para especialistas, a opinião pública ainda tem pesado para Lula e ele insiste em apostar em canais de comunicação pouco efetivos.

“A gente deveria criar uma espécie de um 190, 180, um telefone para que as pessoas pudessem telefonar e se queixar se as coisas não estão acontecendo. Muitas vezes as pessoas não têm a receptividade que esperavam e não têm para quem reclamar”, disse Lula durante lançamento do programa Acredita, no Palácio do Planalto.

A declaração foi feita após divulgação da pesquisa Ipec, que voltou a mostrar avaliações negativas do petista entre a população. Nas oito áreas pesquisadas pelo instituto, o petista teve avaliação negativa maior que a positiva em seis delas. A pesquisa foi divulgada no último domingo (21) e ouviu 2.000 pessoas em 129 cidades. Os entrevistados foram ouvidos entre os dias 4 e 8 de abril.

O levantamento avaliou a opinião da população sobre as ações do governo Lula em oito áreas de atuação: educação, combate à inflação, segurança pública, combate ao desemprego, meio-ambiente, saúde, política externa, combate à fome e pobreza. Apenas na educação e meio-ambiente as avaliações negativas não foram maiores que as positivas.

"O Lula se acostumou nos seus dois primeiros mandatos com a economia indo bem por conta da alta dos preços das commodities, mas agora a realidade é outra. E o fato é que ele não está conseguindo apresentar bons resultados para a população e isso tá corroendo a sua popularidade e gerando nervosismo", avalia o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec e da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

Desde o último mês, a explicação do governo federal para a queda da popularidade é de que supostamente as pessoas não estão sendo informadas sobre os resultados do trabalho desta gestão. A falha na comunicação, na concepção do Planalto, é o que tem impactado negativamente a impressão das pessoas. Para Lula, a criação de um SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor) para que a população leve suas consternações ao governo, evitaria que as pessoas "fiquem xingando".

"Muitas vezes as pessoas não têm a receptividade que elas imaginavam e não têm para quem reclamar. Então, ao invés de as pessoas ficarem xingando a gente, é importante que a gente tenha ao menos um ouvidor para que as pessoas possam se queixar que o Sebrae, não é tudo aquilo que o Décio [Lima] prometeu, que o seu ministério não é tudo aquilo que se prometeu", afirmou.

Cerqueira avalia também que a iniciativa volta a evidenciar as dificuldades deste governo em entender o atual cenário de comunicação. "Essa ideia do Lula para criar um SAC da reclamação mostra a dificuldade do governo de conseguir ter acesso, em termos de uma boa capacidade de comunicação política, junto à população brasileira", pontua.

"A sociedade está cada vez mais antenada em redes sociais e menos nos meios tradicionais de comunicação. A fórmula do PT e do próprio Lula, de ter uma boa relação com esses meios tradicionais de comunicação para conseguir ter condições melhores de fazer uma comunicação política atualmente está ultrapassada", avalia Adriano Cerqueira.

Governo já anunciou estratégia para tentar reverter baixa popularidade

Essa não foi a primeira vez que Lula demonstrou insatisfação sobre a maneira com que as pessoas têm avaliado seu governo. No início do mês de março, o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, anunciou que o Planalto iria adotar novas estratégias para aprimorar a comunicação direta com a população.

A decisão foi tomada após levantamento feito pela consultoria Genial/Quaest mostrar a terceira queda consecutiva da popularidade de Lula entre o eleitorado brasileiro. Após os índices, o mandatário convocou uma reunião ministerial e cobrou de seus ministros mais divulgação dos resultados alcançados.

No encontro, Lula fez cobranças e pediu aos ministros para "agregar em indicadores que sejam compreendidos pela população, como os resultados do governo, da economia e das coisas que estamos fazendo". Antes de se reunir a portas fechadas com os chefes das pastas de seu governo, Lula exibiu os resultados alcançados no primeiro ano deste seu terceiro mandato.

Em um discurso à imprensa, o petista afirmou que os veículos de comunicação não estavam noticiando os bons índices do governo e tentou reverter esse quadro. A tentativa, contudo, não deu certo. Lula deu início à sua declaração tecendo críticas ao ex-presidente e seu opositor Jair Bolsonaro (PL), e chegou a chamá-lo de "frouxão".

Desde então, Lula tem tentando maneirar em seus discursos radicais para tentar dar espaço para os feitos do seu governo. Adriano Cerqueira avalia, contudo, que o governo ainda não conseguiu acertar as estratégias de comunicação e a iniciativa de criar um SAC da reclamação volta a evidenciar essa dificuldade – que a oposição não tem.

"O político hoje tem que ser um bom comunicador nas redes sociais, coisa que, por exemplo, o Bolsonaro faz com maestria e o Lula não tem essa capacidade. Ele tentou fazer aquelas lives no ano passado e houve fracasso de audiência, então fica difícil para ele explicar mais diretamente também para o seu público o que está acontecendo, enquanto o Bolsonaro e a oposição, têm muita facilidade em mostrar exatamente as dificuldades que a população brasileira está sofrendo desde que o governo Lula assumiu", analisa o cientista político Adriano Cerqueira.

Pesquisa Ipec volta a revelar dificuldades de Lula em seu terceiro mandato

Os resultados na pesquisa Ipec divulgados no último domingo mostram que a população não tem tido boas impressões das ações do governo Lula neste terceiro mandato. Nas oito áreas avaliadas, o governo teve bons índices em apenas duas. Uma delas foi a educação, em que 38% dos entrevistados avaliou como "ótima ou boa" a atuação do governo – 31% avaliaram como ruim ou péssima, 28% como regular.

O cientista político Adriano Cerqueira pontua que o resultado na educação não deve ser lido como um bom índice, pois a educação não costuma ser vista para a população como um grande problema. "Geralmente a população entende que a educação é a criança na escola e se não está tendo muita greve, se os processos estão acontecendo… isso tende a ser avaliado positivamente. A questão da qualidade da educação em si não é um assunto que chega a ter grande atenção da população, principalmente nas pesquisas", pontua.

No meio-ambiente houve um empate entre as avaliações: 33% dos entrevistados avaliaram a gestão na área como ótima ou boa; 33% como ruim ou péssima e 29% como regular. Para Cerqueira, contudo, o grande problema é a área econômica. A pesquisa avaliou a opinião brasileira sobre as atuações do governo no "combate à inflação" e 46% avaliaram como ruim ou péssima para 46%, 28% como regular e apenas 23% como ótima ou boa.

"O governo Lula não está sabendo enfrentar o problema dos preços altos e a população está sentindo que a renda dela está sendo cada vez menos suficiente para manter aquele padrão de consumo que ela tinha no passado. Por mais que o governo fale que a inflação está caindo, o que as pessoas estão sentindo em termos de aumento de preços é cada vez mais uma corrosão do seu poder de compra", avalia Cerqueira.

Sobre a gestão do governo federal para a segurança pública, 42% avaliaram como ruim ou péssima; 27% como ótima ou boa e 28% como regular. No combate ao desemprego, 39% acham a gestão ruim ou péssima; 26% como ótima ou boa e 31% como regular. Para saúde, 42% avaliaram como ruim ou péssima; 29% como ótima ou boa e 30% como regular.

Na atuação do governo em termos de política externa, 37% disseram que a atuação do governo é ruim ou péssima; 30% como ótima ou boa e 24% como regular. No combate à fome e à pobreza, 38% avaliaram o governo como ruim ou péssimo; 33% como ótimo ou bom e 29% como regular.

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