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Costuras políticas

Alckmin com Lula? Como a política de São Paulo pode interferir na eleição de 2022

Como a política de São Paulo pode interferir na eleição presidencial de 2022
Sala de reuniões da cúpula do governo de São Paulo no Palácio Bandeirantes. (Foto: Gilberto Marques/governo de SP)

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Maior colégio eleitoral do país, o estado de São Paulo provavelmente irá influenciar decisivamente na consolidação das chapas para a disputa presidencial de 2022. Com menos de um ano para as eleições, líderes dos principais partidos políticos já traçam as estratégias em torno das alianças que vão desde a disputa para o governo paulista até a escolha do candidato ao Senado. E essas negociações passam pela eleição a presidente.

Liderando as pesquisas de intenção de voto para a disputa ao governo de São Paulo, o ex-governador Geraldo Alckmin vai deixar o PSDB e negocia sua filiação com partidos como o PSD e o União Brasil (formado pela fusão dentre DEM e PSL). Alckmin, no entanto, passou a ser cortejado por petistas, para formar uma aliança que poderia envolver o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato a presidente, e o ex-ministro Fernando Haddad (PT) – que tem aparecido na segunda colocação nos levantamentos para o governo do estado.

Dentro do PT, uma das ideias seria que Alckmin fosse o vice de Lula – o que faria com que Haddad se tornasse o favorito para vencer a eleição a governador paulista. Nessa composição, o PSB, partido historicamente ligado ao PT, poderia abrir as portas para o tucano.

"Já disseram que vou ser candidato ao Senado, a governador, a vice-presidente. Vamos ouvir. Fico muito honrado da lembrança do meu nome. Vamos amadurecer conversando", admitiu Alckmin durante gravação do reality show "O Político".

No PSB, contudo, a composição é vista como “improvável”. Mas a aproximação entre ambos conta com a chancela do ex-governador paulista Marcio França (PSB). No cálculo de petistas envolvidos nas costuras para a candidatura de Lula, a composição poderia ainda chancelar o apoio do PSB ao ex-presidente petista.

"O Alckmin é um quadro nacional. Ele tem muita experiência, é um nome conhecido, ninguém tem com ele um ódio ou uma aversão absoluta", afirmou França no mesmo reality.

Líderes do PT também trabalham com a possibilidade de Lula apoiar a candidatura de Alckmin ao governo de São Paulo. Em contrapartida, ele apoiaria o petista na sucessão presidencial, garantindo um palanque forte no estado.

“As conversas estão acontecendo, o Lula inclusive já jantou com o Alckmin em São Paulo. O PT não vai abrir mão de dialogar com nomes que sempre defenderam a democracia, porque o objetivo é derrotar [o presidente Jair] Bolsonaro”, admitiu o líder petista de São Paulo.

Além disso, há pelo menos dois meses Haddad passou a procurar interlocutores de Alckmin na busca de uma aproximação para a disputa do próximo ano. Os dois também já estiveram reunidos em jantares na capital paulista. Apesar disso, aliados de ambos sinalizam que uma composição ainda não foi acertada.

“São Paulo é o maior colégio eleitoral do país. Lula será candidato [a presidente]. E estou à disposição para construir alianças no primeiro ou no segundo turno. Temos sorte de ter eleições de dois turnos. É preciso isolar a direita”, afirmou o Haddad recentemente, em um evento organizado pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Laboratórios e Estabelecimentos de Saúde do estado de São Paulo.

De acordo com Haddad, a movimentação é uma forma do PT não repetir os “erros” da última disputa presidencial. “Quem tem voto em São Paulo somos o Alckmin e eu; empate técnico, pelo menos a julgar pelo Datafolha. Ele tem ligeira vantagem. Mesmo quando uma aliança não é possível, você pavimenta o caminho para uma solução boa para o estado e o país no segundo turno, que não foi o que aconteceu em 2018”, afirmou o petista.

O último levantamento Datafolha, de setembro, mostra Alckmin na liderança pelo governo do estado com 26% das intenções de voto. Fernando Haddad aparece em segundo com 17%.

Bolsonaro "abre mão" do governo de São Paulo para se fortalecer no Senado

Os interesses nacionais também podem afetar o grupo do presidente Jair Bolsonaro na eleição em São Paulo. Inicialmente, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, vinha sendo cotado para concorrer ao governo paulista.

Mas Bolsonaro, em sua estratégia eleitoral, pretende priorizar a eleição de mais aliados para o Senado – Casa legislativa onde vem tendo mais dificuldades do que na Câmara. Por isso, Tarcísio agora tende a ser o nome do presidente para a disputa pelo Senado em São Paulo. E, por enquanto, o presidente não tem um candidato a governador no estado.

Doria busca atrair Moro para a disputa do Senado por São Paulo 

Disputando as prévias do PSDB para a candidatura presidencial, o governador de São Paulo, João Doria, tenta atrair o ex-juiz Sergio Moro para a disputa do Senado por São Paulo. Recém-filiado ao Podemos, Moro já sinalizou que pode se candidatar a senador, caso sua candidatura ao Palácio do Planalto não se viabilize.

Mas, nesse caso, em princípio o ex-juiz da Lava Jato seria candidato a senador pelo Paraná, o seu estado – Moro se filiou ao Podemos paranaense e teria de mudar de domicílio eleitoral para ser candidato. Porém, uma candidatura ao Senado por São Paulo poderia resolver um impasse no Paraná. O mandato do senador Alvaro Dias (Podemos-PR) se encerra em 2022; e apenas uma vaga no Senado estará em disputa em cada estado no ano que vem. Ou seja, Alvaro Dias tende a concorrer à reeleição.

Caso Moro seja candidato ao Senado por São Paulo, a negociação poderia favorecer uma composição de Doria para a disputa presidencial. Para sua sucessão no governo de São Paulo, Doria pretende lançar o vice-governador Ricardo Garcia (PSDB). Nesse cenário, a candidatura ao Senado ficaria com Sergio Moro. E o Podemos passaria a apoiar Doria na sucessão presidencial.

Além do PSDB e do Podemos, a composição pode atrair ainda lideranças do União Brasil (partido resultante da fusão entre DEM e PSL), que recentemente se reuniram com Moro em Brasília. O novo partido tenta filiar Geraldo Alckmin. Mas caso, seja preterido, poderia indicar um nome para ser vice de Rodrigo Garcia na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes.

“Minha expectativa é de que uma parcela majoritária do União Brasil possa definir apoio pela nossa candidatura. Venho dialogado muito com os dirigentes do União Brasil, Luciano Bivar, Antônio Rueda e ACM Neto, e a minha proposta é ajudá-los a formar um grande partido em São Paulo”, disse Garcia.

No PSD, Datena pode ajudar Ciro Gomes na disputa presidencial 

Após anunciar que deixaria o PSL, o apresentador de TV José Luiz Datena sinalizou que pretende disputar uma cadeira do Senado por São Paulo. Datena chegou a ser cotado para a disputa presidencial pelo PSL, mas decidiu deixar o partido após a fusão com o DEM alegando falta de espaço no novo União Brasil.

Antes disso, Datena já havia se reunido com o pré-candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, e até recebeu convite para ser vice na chapa do pedetista. Em entrevista à revista Veja, Datena afirmou que pretende ajudar Ciro Gomes mesmo no PSD – partido que hoje tem o senador Rodrigo Pacheco (MG) como pré-candidato a presidente.

"Não impede eu estar no PSD e continuar achando o Ciro um grande cara, e até talvez ajudá-lo se for preciso politicamente. Minha admiração pessoal pelo Ciro é grande, se houver necessidade de uma ajuda minha, ele terá", disse Datena.

Aliados de Ciro Gomes, por sua vez, afirmam que o pedetista tenta construir uma “frente ampla” de apoio no estado de São Paulo. E isso poderia incluir uma aliança com o PSD. “São Paulo é o centro da crise. Mas é também por onde o Brasil pode sair da crise. Tenho conversado com diversas forças em todo o Brasil. Em São Paulo, o PDT participa de uma construção ampla com Alckmin, Datena, [Gilbarto] Kassab [presidente nacional do PSD] e Márcio França [ex-governador, filiado ao PSB]”, disse Ciro Gomes durante palestra no Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos.

Metodologia da pesquisa citada na reportagem

A pesquisa Datafolha citada na reportagem foi realizada entre os dias 13 e 15 de setembro e ouviu 2.034 pessoas de 16 anos ou mais em 70 cidades do estado de São Paulo. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

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