A Câmara Municipal de São Miguel do Oeste (SC) puniu a vereadora Maria Tereza Capra com a perda do mandato por quebra de decoro ao ter chamado um gesto de saudação de um grupo de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro de “saudação nazista” em um vídeo de novembro do ano passado. Apenas ela própria votou contra a cassação, contra 10 votos a favor. A sessão em que ela foi cassada durou mais de oito horas, começando na sexta-feira (3) e se estendendo pela madrugada deste sábado (4).
Falando em defesa própria, Capra diz ter sido alvo de ameaças e apelou para a “representatividade da mulher”, reclamando que sua colega de casa Cristiane Zanatta (PSDB) se ausentou da sessão. Membros da mesa disseram que, durante o processo de inquérito parlamentar, ela optou por ficar em silêncio.
“Todas as manifestações da defesa foram feitas após o prazo”, disse o relatório da comissão de inquérito. “A conduta da vereadora, inicialmente de imputar um crime àquelas pessoas, extrapolou completamente os limites do aceitável, pois, em investigação preliminar e depois confirmado pelo Ministério Público estadual, ficou comprovada cabalmente a inexistência de qualquer ato nazista ou apologia”, acrescenta o documento.
Como argumento adicional pela quebra de decoro, o relatório cita que a vereadora foi condenada em segunda instância 2015 a seis anos de detenção em regime inicial semiaberto por crime contra a lei de licitações, quando foi secretária municipal. “Tal conduta é antagônica ao exercício do mandato”, comentam os parlamentares.
O advogado da vereadora, Sérgio Graziano, disse ao Estadão que o processo é perseguição política. “Nunca vi tamanha injustiça” em 31 anos de atuação, comentou. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, insistiu na tese do advogado em publicação no Twitter: “sofre perseguição política e foi cassada por questionar saudação nazista feita por bolsonaristas”. Gleisi acrescenta que o “PT vai recorrer contra esse absurdo”.
O Partido Nacional Socialista Alemão, sob Adolf Hitler, que comandou a Alemanha entre 1933 e 1945, matou milhões de pessoas que considerava inferiores, em especial judeus, ciganos, deficientes e homossexuais, além de dissidentes políticos. A saudação nazista, com a mão direita em riste e com a palma para baixo, era acompanhada das expressões “Heil Hitler” (“Ave Hitler”) e “Sieg Heil” (“Viva a Vitória”).
Um gesto de saudação com o braço direito estendido e mão reta com palma para baixo, geralmente feito em direção à bandeira e associado ao patriotismo, não é similar superficialmente à saudação nazista somente no Brasil. Nos Estados Unidos, a saudação de Bellamy, feita por crianças junto com o juramento à pátria (“pledge of allegiance”, em inglês), foi inventada pelo clérigo cristão socialista Francis Bellamy em 1892. Tanto Bellamy quanto os nazistas se inspiraram, aparentemente, na saudação romana representada na pintura O Juramento dos Horácios (1784), do artista francês Jacques-Louis David.
Outros hábitos culturais brasileiros podem ser confundidos com os adotados por intolerantes: anualmente, na cidade histórica de Goiás, católicos fazem na quinta-feira santa a Procissão do Fogaréu, em que se vestem com capuzes pontiagudos. A semelhança das vestimentas dos fiéis com as dos membros do grupo racista americano Ku Klux Klan já causou intrigas e banimento das fotos do evento religioso em redes sociais nos últimos anos.
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