Os governos federal e do Distrito Federal vão reforçar o esquema de segurança em Brasília para as comemorações do 7 de setembro, feriado da Independência, para prevenir manifestações na Esplanada dos Ministérios, mesmo sem previsão de mobilização ou protestos no radar das autoridades policiais. O efetivo destacado para o evento é maior do que o da posse de Lula, em 1º de janeiro.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, chegou a encaminhar ofício ao governo do Distrito Federal alertando para possíveis atos organizados pelas redes sociais, mas não tornou pública nenhuma evidência concreta de risco de atos.
Dino disse ter colocado a Força Nacional à disposição do governo local para atuar no feriado, sob a coordenação de um Gabinete de Mobilização Institucional, grupo criado para definir a atuação da segurança no local durante o evento.
Já a oposição vem pedindo para a população não participar do 7 de setembro de Lula, que deve ser vermelho e não verde e amarelo. Os oposicionistas entendem no esforço de segurança do governo uma tentativa de mostrar serviço, principalmente, depois do fiasco das forças de segurança que falharam em conter os atos de vandalismo do dia 8 de janeiro.
O próprio alarde que os governos federal e do Distrito Federal têm feito sobre o esquema de segurança é entendido por analistas de segurança como um esforço de dissuadir eventuais protestos, mesmo sem evidências de que estejam sendo convocados.
Em entrevista à imprensa para detalhar o esquema de reforço do policiamento, o secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública do DF, Alexandre Patury (o número dois na hierarquia da pasta), disse que “as corporações estão vigilantes contra eventuais ameaças”.
O alinhamento entre as instituições de segurança vem sendo feito há três meses, com reuniões e mapeamento de informações pela inteligência dos governos. De acordo com Patury, “nossas inteligências são praticamente uma só. Tudo isso fruto de um aprendizado na dor que nos fez crescer”, ressaltou, em referência ao 8 de janeiro, quando prédios públicos foram tomados e vandalizados por manifestantes em Brasília.
Patury disse que o governo do Distrito Federal tem forças efetivas para garantir a segurança na Esplanada dos Ministérios, mas decidiu aceitar a ajuda do governo federal, “ou de quem quer que seja”. Ele disse que tem orgulho da polícia local, independente do que aconteceu em janeiro, inclusive com a prisão de comandantes da Polícia Militar do DF, os quais supostamente teriam "facilitado" a entrada de manifestantes em locais como o Palácio do Planalto.
“O que posso prometer é que no dia 7 de setembro não acontecerá nada organizado nem parecido com o que aconteceu no passado”, afirmou.
Efetivo para o 7/9 será maior que o da posse de Lula
O comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Adão Macedo, destacou o protocolo de ações integradas entre os governos local e federal, e disse que se criou uma expectativa para o feriado a partir das incertezas do 8 de janeiro.
Ele garantiu que “todo efetivo e logística da PM foram colocados pensando em todas as hipóteses”, e que o policiamento poderá fazer frente a qualquer ameaça, mesmo sem nada mapeado, mas admite uma certa preocupação com ações isoladas.
Embora os responsáveis pelo policiamento não falem no número de homens escalados para garantir a segurança em Brasília, a estimativa é de que pelo menos dois mil homens da Polícia Militar e outros quinhentos policiais civis estejam espalhados pelos principais pontos da capital. Devem estar presentes ainda integrantes da Força Nacional, segundo a vice-governadora Celina Leão. Mas não se sabe quantos policiais estarão no terreno sob as ordens da Força Nacional.
Segundo as estimativas dos órgãos interligados para o desenho do esquema de segurança no feriado, são esperadas cerca de 30 mil pessoas nas arquibancadas montadas ao longo da Esplanada, e mais dez mil nas áreas próximas ao local do desfile.
Nos prédios que ficam localizados na Praça dos Três – Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal –, a segurança também contará com efetivos próprios das polícias legislativas e do STF, além do Comando Militar do Planalto. Os edifícios estarão protegidos por grades.
Até mesmo a ocupação dos hotéis e o monitoramento de ônibus fretados em deslocamento para Brasília estão sendo monitorados pela segurança. Vídeos de redes sociais também foram encaminhados pelo Ministério da Justiça e analisados pela inteligência da operação.
“Poderia dizer que são vídeos no padrão rotineiro que a gente recebe, mas não vou dizer isso. Não temos direito de descartar informação, porque não toleraríamos algo acontecer e no meio de tantas mensagens ter um fundo de verdade”, disse Patury, secretário-executivo de Segurança Pública do DF.
O acesso a veículos de passeio e ônibus na Esplanada dos Ministérios será fechado às 21 horas de quarta-feira (6), véspera do desfile de 7 de setembro, e reaberto somente após o meio-dia, quando a programação já tiver sido encerrada e a Polícia Militar verificar a total segurança da área. Também deve haver procedimento de revista pessoal na entrada do desfile.
Será proibido portar armas, explosivos, hastes de bandeiras, objetos pontiagudos, garrafas, latas e outros objetos que possam colocar em risco a segurança da população. Também não será permitida a utilização de drones sem autorização no espaço aéreo local.
Gabinete de Mobilização Institucional ficará ativo por dez dias
O Gabinete de Mobilização Institucional foi instalado no dia 1º de setembro, e as atividades registradas ao longo de dez dias serão apresentadas dentro de um mês.
“Ele funcionará no Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob), da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal”, disse o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, que comanda a pasta. Ele afirma que o gabinete pode tornar a comunicação e as tomadas de decisões mais rápidas e eficientes.
Como apoio às equipes, a região será monitorada por meio de imagens de câmeras e drones enviadas ao Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob).
Outra afirmação do governo com objetivo aparente de demonstrar eficiência é que o alto-comando da segurança pública do Distrito Federal e representantes de órgãos de segurança federais estarão no local. Isso facilitaria a tomada de decisões de forma mais célere, por meio do Gabinete de Mobilização Institucional.
“Quem quiser vir para a Esplanada para ver o desfile num ar de democracia, será muito bem-vindo. As pessoas que querem vir para o DF fazer bagunça, as forças de segurança irão agir”, disse a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, que assumiu o controle das operações enquanto o governador Ibaneis Rocha estava fora do Brasil em missão oficial.
Segundo a assessoria de imprensa do governo do Distrito Federal, o governador estará no desfile. Ibaneis Rocha chegou a ser afastado do governo após os atos de 8 de janeiro, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, com a nomeação de um interventor federal.
Lula vai assumir narrativa de comemoração para ofuscar legado de Bolsonaro
No primeiro desfile de 7 de setembro de seu mandato, Lula tenta mudar a conotação dos desfiles do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afastando o caráter político das celebrações da Independência. Os governistas chamam de "caráter político do 7 de setembro" o fato de Bolsonaro ter conseguido resgatar o patriotismo e o senso cívico de parte da população durante seu mandato.
O tema do desfile neste ano será “Democracia, soberania e união”. A cerimônia terá início às 9h com a Fanfarra do 1° Regimento da Cavalaria de Guardas, os Dragões da Independência. O desfile deve contar com a participação de dois mil militares, que irão desfilar pela Esplanada dos Ministérios e fazer demonstrações aéreas para o público presente.
Na véspera, Lula deverá fazer um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, para fazer um apelo pela união nacional. Para tentar dialogar com a direita, Lula incluiu nos slogans do 7 de setembro a defesa da Amazônia. Para seu público esquerdista, voltou ao discurso da importância da vacinação.
Oposição quer marcar celebrações com doações de sangue e “Fique em Casa”
Enquanto muitas autoridades se programam para celebrar a Independência ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na tribuna montada na Esplanada, a oposição planeja marcar a data com um gesto em prol da saúde pública.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) lembrou o episódio da facada recebida pelo seu pai ainda na primeira campanha presidencial, no dia 6 de setembro, em Juiz de Fora (MG), e pediu aos apoiadores do ex-presidente que aproveitem a data para doar sangue.
O senador fez o pedido nas redes sociais e já há um número de agendamentos recorde em alguns hemocentros, como o de Brasília, por exemplo, segundo a assessoria do parlamentar.
Flávio Bolsonaro voltou às redes sociais para pedir que as pessoas aproveitem o mês de setembro para fazer esse gesto para reforçar os estoques de bancos de sangue no país.
Outros apoiadores e movimentos ligados ao ex-presidente consideram que não há o que comemorar neste dia 7. Eles também fazem campanhas para que as pessoas aproveitem a data para ficar em casa, numa tentativa de esvaziar as comemorações.
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