Manifestantes d de direita na Avenida Paulista protestando contra STF e Lula| Foto: Reprodução / YouTube Fio Diário
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Juntando milhares de manifestantes na Avenida Paulista (SP), no último domingo (14), um movimento que prega a liberdade e questiona os abusos do Supremo Tribunal Federal (STF) deu sequência a um outro tipo de manifestação de direita: atos sem a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Devido às ações judiciais movidas contra o ex-mandatário, a avaliação de apoiadores é que a direita deve continuar com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) apesar da cautela de Bolsonaro sobre esse tema.

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A primeira manifestação ocorreu em 9 de junho e, assim como essa última, focou em pedir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes por conta das prisões dos manifestantes do 8 de janeiro. Eles também criticaram a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Bolsonaro não manifestou publicamente apoio nem repúdio às manifestações.

O movimento foi criado pelos influenciadores digitais Keven Rodrigues e Samantha Pozzer, do canal Space Liberdade (leia, abaixo, como o movimento surgiu), e posteriormente contou com apoio do empresário Guilherme Sampaio e do advogado e jornalista Marco Antônio Costa.

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Questionado sobre a ausência de Bolsonaro nas manifestações, Marco Antônio afirmou que os problemas jurídicos enfrentados pelo ex-presidente impossibilitam a participação dele nesse tipo de ato. No entanto, defendeu que a sociedade civil precisa se organizar para protestar contra as decisões do Supremo que, em sua visão, limitam a liberdade de expressão.

De acordo com ele, manifestações nas ruas são uma ferramenta para discutir os poderes do STF, as restrições à liberdade de expressão e também o regimento do Senado, o órgão que tem a atribuição de processar e julgar ministros do Supremo.

Ele cita como pontos que merecem debate a competência exclusiva do presidente do Senado para pautar processos de impeachment de ministros do Supremo e a "falta de base jurídica" de algumas das decisões do STF.

“A prisão do Daniel Silveira não tem o mínimo de fundamentação jurídica. E vemos nesse caso que é a utilização do aparato estatal do Judiciário para colocar medo nas pessoas. As pessoas hoje têm medo do Alexandre de Moraes e a sociedade civil precisa se organizar”, disse Antônio.

Ele também afirmou que é necessária maior participação de políticos nos debates. Já manifestaram apoio a pelo menos uma das manifestações a deputada Carla Zambelli (PL-SP), o senador Eduardo Girão (Novo-CE), o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), entre outros.

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“A nossa classe política precisa acordar para isso. Não adianta concordar comigo só no gabinete. Eles precisam usar a população na rua e mostrar que existe uma união”, disse Marco Antônio.

Indagada sobre a manifestação, a deputada Carla Zambelli (PL-SP), que participou da convocação do último ato, classificou como positiva a mobilização popular e lembrou que muitos dos atuais parlamentares também eram ativistas antes de serem eleitos.

“Acho que é positivo porque surge gente nova, já que hoje todos os antigos ativistas são políticos. Precisamos de uma nova leva de ativistas, que nos ajude a refletir fora o que fazemos ou devemos fazer lá dentro. Como foi o impeachment de Dilma, que não teria acontecido sem os movimentos de rua”, disse a parlamentar.

Como o movimento surgiu e é organizado?

O advogado e jornalista Marco Antônio Costa, comentarista do programa Sem Rodeios, da Gazeta do Povo, é uma das principais lideranças do movimento. Além do Sem Rodeios, ele também participou de muitos programas de opinião na TV Jovem Pan News, onde teve popularizado o apelido de "Superman". Marco Antônio também mantém um canal pessoal no YouTube que tem quase 100 mil seguidores.

Outra liderança do movimento é o empresário paulista da área do agronegócio Guilherme Sampaio. À Gazeta do Povo, ele contou que participa de manifestações contra o governo Lula desde 2005, primeiro mandato do petista, e que, por conta da reeleição em 2022, decidiu voltar a organizar protestos.

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"Em 2005, eu fazia parte do Movimento Reforma Brasil. Na época, conseguimos levar de 30 mil a 50 pessoas nas ruas pelo impeachment de Lula por conta do mensalão", lembrou. "Sempre gostei de ativismo político e em 2023, quando o Lula voltou ao governo, tive vontade de reativar os movimentos de rua. No Twitter, surgiu na sala do Space Liberdade o encontro com Marco Antônio e ele topou fazer novas manifestações", disse Sampaio.

Ele acrescentou que a manifestação contou com organização e recursos próprios. Ele disse ter dado R$ 10 mil de seus recursos pessoais para custear cada manifestação deste ano – até o momento foram duas. Marco Antônio disse que investiu cerca de R$ 7 mil para despesas como contratação de carro de som e grades de proteção.

Outras duas lideranças do movimento que participaram da organização das duas primeiras manifestações são o influenciador digital Keven Rodrigues e a advogada Samantha Pozzer. Os dois criaram um canal de lives em áudio no aplicativo Space, da rede social X e também publicam conteúdo em um canal no YouTube chamado Space Liberdade, que possui mais de um milhão de seguidores. Em 2023, a dupla teve sua página no “X” derrubada no inquérito das Fake News (IQ 4781), presidido pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.

Contudo, Marco Antônio e Guilherme Sampaio romperam a parceria com Keven Rodrigues e Samantha Pozzer, alegando divergências. O advogado e o empresário dizem que pretendem organizar novos atos em diversas cidades no dia 7 de setembro deste ano.

Sob pressão da Justiça, Bolsonaro adota cautela em críticas ao STF

Mas o que explica a ausência do ex-presidente nessas manifestações? A avaliação de aliados é que, apesar de haver interesse do presidente nas pautas tratadas nos atos, a presença do ex-mandatário poderia acentuar o atrito com a Suprema Corte, principalmente após o indiciamento no caso das joias sauditas.

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Nos bastidores do PL, a orientação é não elevar a temperatura e responder às acusações à medida que elas sejam divulgadas. Nesse contexto, a sigla estaria apostando mais na defesa feita por aliados políticos do ex-presidente, como a bancada na Câmara dos Deputados.

O posicionamento não é novo. Na manifestação de 21 de abril, no Rio de Janeiro, o presidente se conteve em tecer críticas ao Judiciário e deixou que o pastor Silas Malafaia, um dos organizadores da manifestação, criticasse Moraes. Na época, especialistas ouvidos pela reportagem avaliaram que seria uma forma de o ex-mandatário fazer ecoar seu discurso contra o magistrado.

Ao defender Bolsonaro das acusações feitas pela investigação Tempus Veritatis, que apura suposta tentativa de golpe de Estado, Malafaia classificou Moraes como "ditador da toga" e disse que iria provar com leis que o ministro seria uma "ameaça à democracia".

Atos sem Bolsonaro dependem de maior mobilização

Para especialistas ouvidos pela reportagem, manifestações sem a presença física ou apoio declarado de Bolsonaro só terão êxito se conseguirem estimular a participação popular sem depender de uma figura política central. Na avaliação do professor Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), os movimentos organizados pelo ex-presidente e por ativistas independentes estão conectados.

“Movimentos sem o ex-presidente podem virar tendência, mas dependem muito da capacidade de mobilização extra-Bolsonaro. A dificuldade de consolidação desse tipo de manifestação é a falta de uma figura de projeção nacional que dê corpo político para as pautas que estão sendo defendidas”, disse Elton.

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Para o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, a realização de manifestações sem o ex-presidente indica uma tentativa de despolitizar o 8 de janeiro.

“Me parece que não envolver o Bolsonaro diretamente é uma tentativa de tornar claro que estão defendendo os presos do 8 de janeiro, de manifestantes, e não de simplesmente apoiadores do Bolsonaro. É uma tentativa de despolitizar a questão e atrair a atenção de pessoas no geral, independente se apoiam ou não o Bolsonaro”, disse Cerqueira.

Os organizadores dizem que o tema principal dos atos é o STF e não Bolsonaro ou o 8 de janeiro, necessariamente.