Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Chefe da Esplanada

Sem conseguir controlar seus ministros, Lula amplia poderes de Rui Costa na Casa Civil

Lula criticou ministros durante reunião ministerial ao lado do ministro da Casa Civil, Rui Costa (Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto)

Ouça este conteúdo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou nesta semana uma reunião com 19 dos 37 ministros onde deu um recado sobre a divulgação de programas de governo sem a aprovação do Palácio do Planalto. A "bronca", segundo integrantes do Planalto, foi uma forma de o petista tentar acabar com os ruídos dentro do governo e ampliar a influência do ministro da Casa Civil, Rui Costa, sobre as demais pastas da Esplanada.

Essa é a segunda vez que Lula repreende seus ministros por divulgarem programas de governo sem seu consentimento. Em janeiro, durante a primeira reunião ministerial, o petista já havia indicado que os anúncios, independentemente da área, deveriam ter o aval da Casa Civil, especialmente quando houvesse mudança de algum tipo de política governamental.

"É importante que nenhum ministro e nenhuma ministra anunciem publicamente alguma política pública sem ter sido acordada com a Casa Civil, que é quem consegue fazer com que a proposta seja do governo. Nós não queremos propostas de ministros. Todas as propostas de ministros deverão ser transformadas em propostas do governo. E só será transformada em proposta de governo quando todo mundo souber o que vai ser decidido", afirmou Lula.

Desta vez, o "recado" de Lula foi visto como uma indireta ao ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, que na semana passada havia anunciado o “Voa, Brasil”. O programa que promete oferecer passagens de até R$ 200 ao público formado por aposentados, funcionários públicos e estudantes ainda não tinha sido avaliado por integrantes da Casa Civil.

“Qualquer genialidade que alguém possa ter é importante que, antes de anunciar, [a autoridade] faça uma reunião com a Casa Civil, para que a Casa Civil discuta com a Presidência da República e a gente possa chamar o autor da genialidade e anunciar publicamente, como se fosse uma coisa do governo", completou o petista.

Rui Costa amplia poderes sobre as decisões de programas do governo Lula 

A avaliação de integrantes do Planalto é de que o recado de Lula amplia a influência que Rui Costa vai exercer no governo petista. O ministro, que é ex-governador da Bahia, é visto atualmente como um dos nomes mais importantes do governo e foi escolhido para comandar a Casa Civil por ter um perfil de liderança inclusive dentro do PT.

De acordo com lideranças petistas, Costa exerce na atual gestão o mesmo papel que o "todo-poderoso José Dirceu" exerceu no início do primeiro governo Lula. Dirceu deixou o posto em 2005 em meio ao escândalo do mensalão revelado pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Desde o início do novo governo, o ministro ampliou seus poderes sobre as nomeações e assinou uma norma para determinar que todas as indicações nos ministérios precisam passar pela Casa Civil. Antes, a Casa Civil avalizava as escolhas para o segundo escalão, mas postos inferiores ficavam sob autonomia dos respectivos ministros.

Recentemente, durante um evento do governo, Lula chegou a dizer que o ministro da Casa Civil era a sua "Dilma de calças". A ex-presidente comandou a Casa Civil entre 2005 e 2010. “Eu encontrei um cara para a Casa Civil que falei: ‘É a minha Dilma de calças’ […] Se ele percebe que alguém está dizendo o que não deve dizer, ele fala: ‘Espera aí, vamos voltar a conversar’. Então eu estou com muita tranquilidade”, disse Lula.

Questionado pelos jornalistas sobre qual seria o ministro alvo da "bronca" de Lula durante a última reunião ministerial, o chefe da Casa Civil desconversou. "Fica à criatividade de vocês. Não citou [os casos específicos]", rebateu Costa.

Apesar disso, o ministro afirmou que não havia conversado com Márcio França sobre o programa das passagens aéreas. "Ainda não recepcionamos o detalhamento desse programa, e haverá o momento ainda de ter essa reunião", garantiu o ministro.

Recado de Lula também atingiu outros ministros da Esplanada dos Ministérios 

Após a reunião ministerial, o ministro Márcio França minimizou os desgastes e disse que Lula estava correto ao dar uma bronca em integrantes do primeiro escalão. O ministro chegou a telefonar para a Casa Civil para explicar o programa, mas a avaliação dos aliados de Lula é de que a medida precisa, por exemplo, de um alinhamento com o Ministério do Turismo, comandado por Daniela Carneiro.

Paralelamente, integrantes do Planalto afirmam que a bronca de Lula também foi direcionada ao ministro da secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, que chegou a republicar um post do programa "Voa, Brasil!". Com a irritação de Lula, Pimenta foi orientado pela Casa Civil a apagar a publicação.

Além das passagens aéreas, outros anúncios feitos pelos ministros, como sobre uma contrarreforma da previdência e o fim do saque-aniversário no FGTS também causaram mal-estar no governo Lula. Na primeira semana de governo, em janeiro, o ministro da Previdência, Carlos Lupi ressaltou a criação de uma comissão tripartite para avaliar a revisão da reforma da Previdência, uma espécie de "antirreforma" aprovada em 2019 pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL).

Na época, Rui Costa se pronunciou sobre o caso e disse que não havia nenhuma proposta sendo analisada ou pensada para mudar as regras de aposentadorias e pensões. Dias depois, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, também adiantou propostas que ainda não haviam sido analisadas pelas áreas responsáveis do governo. Naquele momento, Marinho afirmou que o governo pretendia acabar com o saque-aniversário do FGTS.

A repercussão, no entanto, foi negativa e obrigou o ministro a recuar do pronunciamento e dizer que haveria um "amplo debate" com o Conselho Curador do FGTS e com as centrais sindicais sobre o tema. No início do mês, o ministro retomou o assunto e enfatizou que o saque "tem que acabar".

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.