A pauta ideológica entra, mais uma vez, no radar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista embarca para a cidade de Bruxelas, na Bélgica, neste sábado (15), para participar da Cúpula CELAC-União Europeia com 60 países. Entre reuniões bilaterais e compromissos relacionados ao evento, Lula também tem um encontro marcado com lideranças progressistas europeias.
A cúpula vai acontecer entre os dias 17 e 18, e deve discutir assuntos como tensões geopolíticas, aumento da fome e da pobreza, desafios ambientais e a reforma do sistema financeiro internacional. O evento prevê quatro mesas temáticas sobre transição digital, clima, segurança cidadã, comércio e desenvolvimento sustentável.
Além dessa agenda, o mandatário brasileiro vai aproveitar a viagem para estreitar laços com a esquerda europeia. Na manhã de terça-feira (18), à convite do presidente do Partido Socialista Europeu (PSE), Stefan Löfven, Lula se reúne com lideranças progressistas do continente.
Na página oficia do PSE, o partido informa que o encontro tem o tema: "Juntos pela Justiça Global: Líderes Progressistas da Europa, América Latina e Caribe". Além de Lula, outros chefes de Estado da América Latina, Caribe e Europa participam do encontro – não se sabe ao certo, porém, quem são os convidados.
Acordo Mercosul-União Europeia não deve avançar em viagem de Lula a Bruxelas
Desde que assumiu o terceiro mandato, Lula assumiu o compromisso de tentar fechar as negociações de livre comércio entre Mercosul-União Europeia ainda no primeiro semestre, mas falhou nesse objetivo. O mandatário brasileiro tem encontrado dificuldades em dar um fim às tratativas que já duram mais de 20 anos.
Nas últimas viagens à Europa, o petista tratou do tema com diversos líderes do continente. O presidente francês, Emmanuel Macron, um dos principais opositores do acordo, inclusive, foi uma das figuras com quem Lula se encontrou para tentar destravar as negociações.
Com relação a Bruxelas, a expectativa não era diferente. Havia a esperança de que o mandatário brasileiro utilizasse a viagem para avançar no acordo com a União Europeia, mas isso não deve acontecer. Durante briefing no Palácio do Itamaraty, em Brasília, nesta quinta-feira (13), a pasta informou que os debates envolvendo as negociações não devem evoluir com os países europeus na próxima semana.
Isso porque o Brasil já tem uma proposta de resposta às novas exigências da União Europeia. Nesse momento, o texto formulado pelo governo brasileiro precisa ser chancelado pelos países-membros do Mercosul antes de ser encaminhado à Europa.
Atualmente, o acordo de livre comércio entre os dois blocos está travado porque os países europeus fizeram uma série de novas exigências ao Mercosul para que o tratado seja finalmente fechado. Apelidada de side letter, as novas imposições da UE também não agradaram o lado de cá de Atlântico e, por isso, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai trabalham em uma contraproposta.
Lula não prioriza diálogo com países que se opõem ao acordo com UE
Conforme informou o Itamaraty nesta quinta-feira (13), Lula tem uma série de encontros bilaterais marcados durante viagem a Bruxelas. Entre eles, o petista se reúne com o rei da Bélgica e o primeiro-ministro belga, o chefe de governo da Áustria, o primeiro-ministro da Suécia e da Dinamarca, a primeira-ministra de Barbados, a presidente da Comissão Europeia, o presidente do Conselho Europeu e com a presidente do Parlamento Europeu.
Chama atenção a ausência de reuniões com chefes de Estado que se opõem ao acordo Mercosul-União Europeia, como França, Irlanda e Holanda – oportunidade que poderia ser usada para tentar avançar na tratativa das negociações. Não está previsto um encontro de Lula com uma liderança da Espanha, país que, neste semestre, está na presidência do Conselho da União Europeia.
Sem avançar no que diz respeito ao acordo Mercosul-União Europeia, Lula deve aproveitar a viagem, então, para criar alianças políticas e ideológicas. A aproximação de líderes de esquerda é uma movimentação comum de Lula e não tem sido diferente neste terceiro mandato.
O interesse em formar essa aliança ideológica não afasta Lula nem mesmo de ditadores. Nos últimos meses, o petista tem sido duramente criticado pelos posicionamentos que tem adotado sobre o ditador venezuelano, Nicolás Maduro.
Recentemente, o petista discursou no Foro de São Paulo, encontro que reuniu líderes e partidos de esquerda do mundo inteiro, e afirmou que não se sentia ofendido por ser chamado de "comunista".
Agenda de Lula em Bruxelas
Lula decola do Brasil para a Europa no sábado (15) à noite e deve chegar durante a tarde de domingo (16) na capital belga. A agenda da Cúpula CELAC-União Europeia tem início na segunda-feira (17), com o evento de abertura do Fórum Empresarial CELAC-União Europeia.
Em seguida, o brasileiro tem um encontro com o chanceler austríaco, Karl Nehammer; com a primeira ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen; e com os chefes de Estado e governo da Bélgica. Logo depois, Lula tem um almoço privado e, em seguida, se reúne com a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola.
À tarde, haverá a sessão de abertura da cúpula dos dois blocos; depois os líderes posam para a foto e, por fim, a cerimônia de assinatura da declaração conjunta.
No dia seguinte, na terça-feira (18), Lula participa de um café da manhã com lideranças progressistas europeias. Em seguida, o petista tem uma reunião bilateral com chefe de governo da Áustria, Karl Nehammer e, logo após, um almoço geral com todos os líderes convidados para a cúpula.
Lula também reunirá com o primeiro-ministro da Suécia, Ulf Kristenssen; depois com a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley e, antes de encerrar a agenda do encontro, dará uma coletiva de imprensa.
Ainda no fim do dia, conforme informou o Palácio do Itamaraty, o petista pode participar da Cúpula dos Povos, evento com viés esquerdista que também será realizado em Bruxelas. A participação de Lula, no entanto, ainda não foi confirmada.
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