O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, é dono de um blog pessoal chamado Metapolítica 17, cuja descrição é curta e direta: “Contra o globalismo”. A frase resume uma das tônicas da atuação do Brasil na política internacional nos últimos dois anos: questionar os grandes consensos globais e o poder de organismos multilaterais como a ONU e a OMS, apostando, em lugar disso, nas relações bilaterais.
Nessa frente contra o globalismo e o multilateralismo, o Brasil perderá um parceiro importante se Donald Trump for derrotado nas eleições que ocorrem nesta terça-feira (3). O presidente norte-americano é um antiglobalista, e já promoveu a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris de Mudanças Climáticas e de órgãos como a Unesco, o Conselho de Direitos Humanos da ONU e a OMS.
O Brasil não tem agido de forma tão radical – aceitou, por exemplo, manter-se no Acordo de Paris e tem atuação ativa no CDH da ONU –, mas o esforço de Trump de esvaziar o poderio dessas instituições propicia ao governo brasileiro não ser um lobo solitário no confronto com o globalismo.
Na semana passada, por exemplo, Estados Unidos e Brasil foram as duas maiores nações a assinarem o Consenso de Genebra, uma declaração internacional que critica a participação de agências da ONU na promoção do aborto pelo mundo. Nesse tipo de agenda, se Joe Biden, do Partido Democrata, vencer as eleições americanas, o Brasil perderá a parceria da maior potência do Ocidente e, com isso, ficará mais isolado no combate ao globalismo.
Restará ao governo brasileiro, nessa hipótese, o apoio de nações bem menores e com pouca influência no cenário global. Israel, que se vê vítima de um lobby na ONU e que conta com uma admiração pessoal do presidente Jair Bolsonaro, certamente seria uma delas. Alguns países do leste europeu, como a Hungria do primeiro-ministro Viktor Orbán, a Polônia do presidente Andrzej Duda e a Romênia do primeiro-ministro Klaus Iohannis – todos de viés conservador -, também poderiam ser parceiros do Brasil em pautas contra o globalismo.
Com Biden, EUA retomariam relações com órgãos acusados de globalismo
Segundo o analista político Carlo Barbieri, se Biden vencer, os EUA deverão retomar a sua participação em instituições com as quais Trump havia cortado vínculos, como a OMS. O atual presidente viu cumplicidade desse órgão com a China no ocultamento de dados sobre a pandemia da Covid-19.
“É provável que os Estados Unidos voltem a prestigiar essa entidade, independentemente do mal que ela tenha causado”, afirma Barbieri. De acordo com o especialista, também há chance alta, com Biden, de que os Estados Unidos reforcem, novamente, sua participação em órgãos das Nações Unidas.
Para o Brasil, segundo ele, não haverá um impacto direto nessas possíveis decisões. “O maior desafio do Brasil será manter a sua expectativa de participação na OCDE. A entrada do Biden pode colocar em risco esse apoio americano”, diz.
Mas, em entrevista à Gazeta do Povo, o embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, descartou esse risco. “Eu não espero que haja uma mudança na posição americana em relação a esse tema”, afirmou. “Eu esperaria, sinceramente, que num possível governo democrata esse apoio fosse mantido, porque há um interesse da organização, um interesse internacional e um interesse estratégico dos Estados Unidos em ter o Brasil como membro pleno da OCDE”, acrescentou o embaixador.
Com uma eventual derrota de Trump, o Brasil também poderá deixar de contar com os EUA no apoio aos interesses de Israel na ONU. Na administração Trump, a proximidade dos Estados Unidos com Israel acabou ajudando a produzir um acordo inédito em direção à paz no Oriente Médio. Os democratas tendem a se alinhar mais ao Irã e a rechaçar Israel, o que, para o Brasil, pode significar maior isolamento no apoio aos israelenses.
“Nós vamos ver uma reacomodação do poder mundial, com os Estados Unidos mais alinhados ao poder do Irã, da China e alguns outros países. Não se sabe o que vai ser dessa política do Trump, que acabou causando um impacto enorme no Oriente Médio. Não sei se o Biden vai seguir a política do Obama, no sentido de prestigiar os países árabes que têm, historicamente, apoiado mais as ações contra Israel. É um ponto que não foi abordado na campanha”, diz Barbieri.
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