O plenário do Senado Federal aprovou nesta quarta-feira (1º) a indicação do ex-advogado-geral da União e ex-ministro da Justiça André Mendonça para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF). Para aprová-lo, eram necessários ao menos 41 votos, ou seja, maioria absoluta dos 81 senadores. Mendonça conseguiu seis votos a mais — foram 47 votos sim e 32 não. É o segundo ministro do STF indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, e passará a ser o único declaradamente evangélico dentre os 11 integrantes da Corte. Mendonça vai ocupar a cadeira no Supremo que foi do ministro Marco Aurélio Mello.
O placar em plenário foi abaixo do calculado por senadores que atuaram a favor da indicação de Mendonça. O cálculo previsto por eles era de 56 votos favoráveis, segundo disseram alguns desses parlamentares. No fim, o resultado foi mais apertado do que se esperava e ele teve a aprovação mais baixa entre os ministros do STF.
Para assumir a cadeira no STF, ainda é necessário a Mendonça tomar posse, o que pode acontecer ainda neste ano. O STF já reservou para a cerimônia o dia 16, último de funcionamento normal de 2021 e na véspera do início do recesso. Caberá a Mendonça definir se toma posse neste ano ou em 2022. Segundo interlocutores do futuro magistrado, ele está à disposição para tomar posse ainda ano.
Após sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Mendonça teve sua indicação aprovada por 18 votos a 9. Para que fosse aprovado era necessário maioria simples, ou seja, 15 dos 27 senadores. Apesar do sucesso obtido, o ex-AGU obteve uma vitória mais apertada do que a de Kassio Nunes Marques, o primeiro indicado pelo presidente Jair Bolsonaro ao STF, que obteve 22 votos a 5. Em sua recondução, Aras obteve 21 votos a 6.
Como Mendonça conseguiu reverteu votos para ser aprovado
A aprovação de André Mendonça mostra uma reversão rápida do cenário político no Senado. Há quase uma semana, o clima era outro. A leitura feita por parlamentares até a última quinta-feira (25) é de que a Casa estava dividida e que o indicado por Bolsonaro seria aprovado "raspando" ou rejeitado "por pouco".
Mesmo senadores evangélicos, a principal base de apoio do Mendonça, não estava tão convencida de que ele chegaria aos 50 votos, um placar calculado pelo próprio ex-ministro de Bolsonaro. A expectativa era pela aprovação, mas com uma margem entre 41 e 45 votos.
A reversão do cenário é apontado por senadores da base de apoio a Mendonça como fruto de uma articulação conjunta entre Bolsonaro, a bancada evangélica, líderes evangélicos e o próprio Mendonça. A virada começou na sexta-feira (26), quando o próprio Bolsonaro intensificou os esforços pela aprovação de Mendonça em conversas individuais com os parlamentares. Nas reuniões, ele reforçou sua nomeação e pediu o voto favorável dos congressistas.
No sábado (27) e no domingo (28), Mendonça e seus principais aliados no Senado se reuniram em Brasília onde fizeram ligações a senadores de todos os partidos, da oposição à base governista, como informou a Gazeta do Povo. O objetivo da força-tarefa montada era pedir o voto e saber se os parlamentares teriam problema para desembarcar em Brasília esta semana, tendo em vista a greve dos aeronautas, os pilotos e comissários de voo.
Como a sabatina na CCJ e a votação em plenário é secreta, seria necessários o máximo de senadores presencialmente — no fim, a greve dos aeronautas não aconteceu. O principal desafio da base de apoio do ex-ministro da Justiça era assegurar um quórum alto de senadores no plenário do Senado no dia da votação.
Na segunda-feira (29), Bolsonaro se reuniu com o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado federal Cezinha de Madureira (PSD-SP), e pediu apoio para trazer diversos líderes evangélicos para Brasília. Na terça-feira (30), ele se reuniu em um jantar com essas lideranças, onde reforçou o pedido de apoio por Mendonça.
Toda essa construção possibilitou a aprovação de Mendonça, analisam senadores e interlocutores da bancada evangélica que atuaram pela vitória do futuro ministro do STF. "A vinda dos líderes [evangélicos] foi determinante para virar alguns votos, inclusive na esquerda", afirmou um parlamentar. "Tem mais de 30 líderes aqui no Senado", disse um interlocutor.
O que André Mendonça disse durante sua sabatina na CCJ
Todo o apoio foi agradecido por André Mendonça, de Bolsonaro — a quem agradeceu a indicação — a senadores e líderes evangélicos. O futuro ministro do STF falou muito em humildade, disse que sua única submissão será à Constituição e agradeceu até mesmo o presidente na CCJ, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que atuou contra a indicação e segurou a realização da sabatina por três meses, um prazo incomum.
"[Quero] registrar o meu agradecimento ao presidente da Comissão de Constituição e Justiça, o senador Davi Alcolumbre, porque essa harmonia no ambiente se deve muito à condução de V. Exa. na Presidência desta sabatina, à forma respeitosa com que V. Exa. tem tratado todo este processo de sabatina aqui, abrindo espaço para os senadores, dando tempo para eu extrapolar o tempo quando eu extrapolei, preocupado com a minha família, preocupado com o meu lanche", destacou.
Em sabatina na CCJ, André Mendonça falou sobre diferentes assuntos questionados, entre eles, o ativismo judicial. O indicado por Bolsonaro assumiu o compromisso de "respeitar as instituições democráticas, em especial a independência e harmonia entre os poderes da República". Afirmou entender que o Judiciário "deve atuar como agente pacificador dos conflitos sociais e garantidor da legítima atuação dos demais poderes, sem ativismos ou interferências indevidas".
O futuro ministro do STF também disse que, apesar de ser "genuinamente evangélico", comprometeu-se com o Estado laico e afirmou que não há espaço no STF para manifestações públicas religiosas durante as sessões. Ao indicá-lo para o cargo, Bolsonaro disse que André Mendonça era "terrivelmente evangélico" e disse esperar que ele fizesse orações antes dos julgamentos.
André Mendonça também comprometeu-se com os senadores a atuar de forma imparcial em suas decisões e votos no STF. O tema ganhou relevância neste ano em razão do julgamento da Corte que considerou o ex-juiz Sergio Moro suspeito nas ações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no âmbito da Operação Lava Jato. Na decisão, alguns ministros citaram supostas mensagens de celular trocadas entre ele e o ex-coordenador da força-tarefa da Curitiba Deltan Dallagnol.
Alvo de desconfiança de parte dos senadores, que acreditam que ele poderá integrar a ala “lavajatista” do STF, Mendonça disse defender o direito ao contraditório, a ampla defesa e a presunção de inocência. “No âmbito do direito sancionador, seja ele de natureza administrativa, civil ou penal, tais direitos devem ser respeitados pelas partes e garantidos pelo juízo, o que se costuma denominar garantismo”, afirmou.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF