A crise que se abateu sobre o PT na década passada também marcou uma inflexão na relação do partido com o segmento evangélico. Se em seus primeiros mandatos, Luiz Inácio Lula da Silva conseguia manter uma relação amistosa com pastores e lideranças evangélicas no Congresso, a ascensão de Jair Bolsonaro na cena política nacional atraiu boa parte do rebanho protestante, especialmente do ramo pentecostal, para a direita.
Na última eleição de 2022, essa vantagem ficou clara: antes do segundo turno, Bolsonaro tinha 62% das intenções de voto entre evangélicos, contra 32% de Lula, segundo pesquisa Datafolha. Em dezembro de 2023, numa nova pesquisa, o instituto aferiu 38% de reprovação ao presidente Lula, índice maior que a média nacional. Enquanto isso, Bolsonaro continua popular nas igrejas evangélicas, especialmente pela fé da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, sempre presente nos cultos e louvores.
Atento ao afastamento, Lula vem tentando reconstruir as pontes, principalmente por meio de programas sociais e de um discurso de conciliação. O maior obstáculo, contudo, de acordo com quem conhece bem o meio, é a identificação dos evangélicos com valores conservadores, ligados à preservação da família formada por casal entre homem e mulher, repúdio ao aborto e à agenda LGBT. No momento em que a esquerda se torna mais identitária, o fosso entre o PT e as igrejas se aprofunda.
Na semana passada, a bancada evangélica no Congresso foi pega de surpresa com o anúncio da revogação de uma norma da Receita, aprovada no governo Bolsonaro, que garantia às igrejas a isenção da contribuição previdenciária sobre a remuneração de pastores. Parlamentares ligados às grandes denominações passaram a falar em perseguição e chantagem, acusando o governo de criar dificuldades para obter apoio, em troca da possível volta do benefício.
Mas, além disso, o que mais ainda mantém Lula distante dos evangélicos? É o tema da conversa de hoje no programa Assunto Capital, transmitido ao vivo de Brasília, da Gazeta do Povo. Nesta edição, o repórter Renan Ramalho recebe a senadora Damares Alves (Republicanos-DF).