O analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Roberto Cabral, negou conflito de interesses na operação em que comandou a apreensão de 55 aves de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça durante o governo Bolsonaro.
A apreensão ocorreu em abril de 2023, quando Torres já estava preso por suposto envolvimento nos atos do dia 8 de janeiro.
Após a apreensão, 16 aves morreram sob a responsabilidade do Ibama, que acusa Torres de maus-tratos de animais e falsidade ideológica.
Com base nas denúncias, em dezembro de 2023, a Polícia Federal PF) indiciou o ex-ministro pelos crimes apontados pelo Ibama.
Além da morte dos animais apreendidos, Torres pediu para que a PF investigue o sumiço de uma de suas aves. Segundo o ex-ministro, trata-se da ave mais valiosa do seu criadouro.
Conhecido por posicionamentos ambientalistas radicais, em 2022, Cabral disputou uma vaga na Câmara dos Deputados pelo partido Rede Sustentabilidade. Sua plataforma tinha como base a “proteção dos animais”.
Durante a campanha, Cabral fez diversos ataques ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em julho de 2022, Cabral disse que o tempo do governo Bolsonaro estava acabando. “O tempo agora está contra vocês. Cada dia a mais é um dia a menos”, escreveu Cabral em suas redes sociais.
Em agosto de 2022, Cabral endossou uma publicação da cantora Anitta ridicularizando Bolsonaro e fazendo acusações, sem provas, contra o ex-presidente. Anitta acusou Bolsonaro de “mentir, roubar a obra do Lula, defender corrupto no MEC e negar desmatamento”.
“O senhor [Bolsonaro] é uma vergonha para servidores, políticos e presidentes brasileiros. Deveria se portar com mais educação [...] Livre do Bolsonaro. Primeiro passo para salvar a Amazônia é salvar o Brasil deste acidente de percurso”, escreveu Cabral em outras publicações no mesmo mês.
Cabral teve apenas 2,9 mil votos e não conseguiu ser eleito.
Procurado pelo Metrópoles, Cabral negou conflito de interesses entre suas manifestações públicas contra o ex-presidente e a operação deflagrada contra o ex-ministro Anderson Torres através do Ibama.
“Não vejo nenhum conflito porque não misturo minhas posições pessoais com a vida profissional. Sou abertamente contra o governo Bolsonaro porque sou cidadão e a favor da democracia. Não existiu nenhum direcionamento para a ação em relação ao Anderson Torres. Apenas faço a distinção entre infratores ou não”, disse Cabral.
O que diz o Ibama
Procurado pela Gazeta do Povo, o Ibama disse que "o combate às fraudes em criação amadora de pássaros silvestres é uma das prioridades" e que o Instituto "realiza diversas ações fiscalizatórias, entre elas a Operação Gênesis, que verifica se as declarações de nascimentos são verdadeiras"
"Durante uma das ações da operação, a equipe do Ibama multou um criador por posse irregular de uma ave que portava uma anilha registrada no nome do ex-ministro Anderson Torres, porém, sem que ela constasse na relação do criador fiscalizado. Foi isso que direcionou a equipe ao Sr. Anderson Torres. Os fiscais identificaram transferência de pássaros, em quantidade superior a permitida, para o nome da mãe de Torres, que deveria tê-las em sua posse, mas as aves só foram encontradas na casa do ex-ministro.
Na residência de Torres, conforme indicado no Relatório de Fiscalização, foram constatadas diversas irregularidades, dentre elas uma ave com pata mutilada e anilhas falsas" diz um trecho da nota enviada à Gazeta.
Ainda, de acordo com Ibama, a operação contra o ex-ministro Anderson Torres não teve motivação política.
"A atuação do Instituto está estritamente pautada na aplicação da lei e na fiscalização de atividades ambientais. As ações são conduzidas com base em critérios legais e normativos, conforme Lei de Crimes Ambientais, Lei Proteção à Fauna, Instrução Normativa Ibama nº 10 de 19/09/2011, visando garantir o cumprimento das regulamentações ambientais", afirmou o Instituto.
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