Servidores dizem que foram transferidos para unidade do IBGE sem justificativa e contra a vontade deles.| Foto: Sebastião Moreira/EFE / arquivo
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Servidores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que são críticos à gestão do economista Márcio Pochmann, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para presidir o órgão, afirmam que estão sendo alvos de retaliação e assédio moral ao serem transferidos para uma unidade no Rio de Janeiro localizada próximo a áreas com forte atuação do crime organizado.

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A retaliação foi relatada em uma carta que circulou entre os servidores nesta quinta (27) de que eles não tiveram nenhuma justificativa razoável para serem transferidos “contra sua vontade” do centro da cidade para um complexo no bairro de Parada de Lucas, na Zona Norte.

“Como é de amplo conhecimento no IBGE, as duas gerências afetadas se destacaram nos últimos meses por suas posições públicas contrárias às decisões da diretoria do IBGE”, disse o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (Assibge) em nota.

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A Gazeta do Povo procurou o IBGE para comentar as alegações do sindicato e aguarda retorno.

Segundo a Assibge, os servidores que estão sendo transferidos fazem parte da Gerência de Sistematização de Conteúdos Informacionais (Gecoi) e da Gerência de Editoração (Gedi), e trabalhavam na unidade da região central do Rio desde a década de 1990. Por outro lado, o complexo de Parada de Lucas, diz o sindicato, é voltado essencialmente aos profissionais gráficos.

“Apesar de sua reconhecida expertise na área, nunca compartilhamos procedimentos que justificassem ou exigissem a proximidade física da Gecoi e da Gedi com os serviços gráficos para a consecução de quaisquer agendas”, diz trecho da carta a que a Gazeta do Povo teve acesso.

De acordo com os servidores, a transferência “não faz sentido” principalmente em um momento em que o complexo de Parada de Lucas “estava prestes a ser desativado em virtude da crescente violência” nas comunidades do entorno.

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Em meados de janeiro deste ano, dois diretores da Diretoria de Pesquisas (DPE) do IBGE deixaram os cargos em meio à crise interna entre Pochmann e servidores. Também ocorreram críticas ao que seria uma gestão com “posturas autoritárias e desrespeito ao corpo técnico da casa”.

Na época, os servidores criticaram a criação de uma fundação público-privada “sem que houvesse ampla discussão sobre os possíveis riscos” à autonomia e confiabilidade dos órgãos, e o fim do regime remoto de trabalho. O IBGE rebateu e afirmou que os ataques dos servidores eram “condenáveis” e “mentirosos”.

“São condenáveis os ataques de servidores e ex-servidores, instituições sindicais, entre outros, que têm espaço na internet e em veículos de comunicação para divulgar mentiras sobre o próprio IBGE”, disse o órgão em nota à reportagem na época.

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Após a polêmica sobre a Fundação IBGE+, o governo decidiu suspender temporariamente a criação alegando necessidade de mapear modelos alternativos que possam envolver alterações legislativas, disse o órgão em uma nota conjunta com o Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO).

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“Dessa forma, ambas as instituições reafirmam seu compromisso com um processo transparente, que envolverá diálogo com o Congresso Nacional, o Executivo e o próprio IBGE antes de qualquer decisão definitiva”, completaram.

Os servidores técnicos também chegaram a denunciar o que seria propaganda política em um anuário, com o prefácio assinado pela governadora pernambucana Raquel Lyra (PSD-PE). Ela era filiada ao PSDB na época e declarada apoiadora de Lula antes de se filiar ao PSD no começo do mês.