O Sínodo da Amazônia, reunião de bispos da Igreja Católica sobre a evangelização da região amazônica, começa neste domingo (6) no Vaticano. Ao longo deste ano, vários membros do governo fizeram declarações sobre o evento, manifestando preocupação com um possível uso político das discussões do Sínodo. O principal temor é que as reuniões fomentem no cenário internacional o sentimento de que a América do Sul e o Brasil, em particular, cuidam mal da Amazônia. E que, por isso, uma intervenção estrangeira na região é necessária. A ideia de que alguns bispos envolvidos no Sínodo têm tendências progressistas agrava o receio dos membros do governo.
Depois da polêmica global sobre as queimadas na Amazônia, a preocupação com o Sínodo aumentou. A realização do evento neste momento, contudo, nada tem a ver com as controvérsias políticas: a data havia sido definida em setembro de 2017, quando o Papa Francisco convocou a assembleia de bispos.
Às vésperas do evento, as críticas à realização do Sínodo têm sido suavizadas. O governo continua temendo o impacto do Sínodo. Mas, ao mesmo tempo, não quer entrar em conflito com o Vaticano.
Veja o que alguns membros do governo já disseram sobre o Sínodo da Amazônia.
Bolsonaro: "tem muita influência política lá"
Na última quarta-feira (2), o presidente Jair Bolsonaro recebeu no Palácio do Planalto o núncio apostólico Giovanni d’Aniello, representante do Vaticano no Brasil. O governo não esclareceu a pauta do encontro, mas é provável que o Sínodo da Amazônia tenha sido um dos temas abordados.
O presidente não se pronuncia publicamente sobre o Sínodo desde agosto. Na última declaração, disse que o evento "tem muita influência política", mas também mostrou cautela. "Não vou arrumar confusão com os católicos", disse, em resposta a uma questão sobre o Papa Francisco feita entre perguntas sobre o Sínodo.
Bolsonaro já criticou fortemente a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que tem uma participação ativa no Sínodo. Em 2018, disse que o órgão integra "a parte podre da Igreja Católica". Mas, em maio deste ano, reuniu-se com o presidente da CNBB, dom Walmor Azevedo, em um encontro que o clérigo considerou "amigável".
General Villas Bôas: "Sínodo vai ser explorado pelos ambientalistas"
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo no dia 2 de setembro, o general Eduardo Villas Bôas, assessor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse que o governo estava preocupado "com o que pode sair de lá, no relatório final, com as suas deliberações" e sobre "como tudo isso vai chegar à opinião pública internacional porque, certamente, vai ser explorado pelos ambientalistas". Ele afirmou que o Sínodo "escapou para questões ambientais e também tem o viés político".
As afirmações foram feitas depois da repercussão de uma carta divulgada por bispos brasileiros que participarão do Sínodo. "Nossas lideranças são criminalizadas como inimigos da Pátria", falava a carta. Villas Bôas disse que isso "não é verdade, até porque a maioria dos militares é de católicos". Reclamou que "a Igreja não fez nenhum contato com o governo brasileiro" e que isso "gerou uma preocupação com os temas propostos para o encontro".
O general desmentiu a hipótese de que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) esteja espionando as atividades do Sínodo, levantada em fevereiro por uma reportagem de O Estado de S. Paulo. Falou que os bispos não são inimigos, mas "estão pautados por uma série de dados distorcidos, que não correspondem à realidade do que acontece na Amazônia".
General Augusto Heleno: "Queremos neutralizar isso aí"
As primeiras declarações do governo sobre o Sínodo foram feitas pelo general Augusto Heleno em fevereiro deste ano. "Estamos preocupados e queremos neutralizar isso aí", disse o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). "Achamos que isso é interferência em assunto interno do Brasil."
Segundo o general, a preocupação do governo é de que há "algumas coisas na pauta do Sínodo que são assuntos de interesse do Brasil, e quem cuida da Amazônia brasileira é o Brasil". Assim como Villas Bôas, Heleno também negou que a Abin esteja espionando sacerdotes participantes do Sínodo.
Embaixador: "A questão não é o Sínodo em si, mas a repercussão"
O embaixador Kenneth da Nóbrega, secretário de Negociações Bilaterais no Oriente Médio, Europa e África, deu uma entrevista à agência Lusa na sexta-feira (4) falando sobre a posição do governo brasileiro em relação ao Sínodo.
Segundo ele, o governo não está preocupado "pelo Sínodo em si", mas sim pela "repercussão na imprensa, do ativismo ambiental". O diplomata esclareceu que não acha que os bispos estejam agindo com intenção ruim. O risco, diz ele, "é que involuntariamente eles reforcem a campanha dos lobbies europeus, que têm muito medo da concorrência da agricultura brasileira."
Nóbrega disse que o governo teme que "este lobby que não quer fazer a diferença entre o que é sustentável ou não (…) possa ser fortalecido por um ativismo da Igreja que é muito bem-intencionado, mas pode servir para estas causas, ser instrumentalizado".