O general Eduardo Pazuello vive seu inferno astral particular. Após participar de ato pró-Bolsonaro, a tendência é que ele seja punido pelo Exército e reconvocado para depor na CPI da Covid no Senado. Além disso, a aposta dentro das Forças Armadas é que ele pedirá para ser transferido para a reserva.
Por ser um militar da ativa, Pazuello não poderia ter participado de um evento de cunho político como o que ocorreu no Rio de Janeiro, no domingo (23). Ele teria infringido o Regulamento Disciplinar do Exército, estabelecido pelo decreto nº 4.346/02. O item 57 do Anexo I do decreto classifica como transgressão o ato de "manifestar-se, publicamente, o militar da ativa, sem que esteja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária", sujeita a punições que vão de advertência verbal e repreensão até uma eventual prisão.
General de exército da reserva, o vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta segunda-feira (24) que o cenário mais provável para o ex-ministro da Saúde é o de punição. "O que eu sei é que Pazuello já entrou em contato com o comandante [do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira] colocando a cabeça dele no cutelo, entendendo que cometeu um erro", afirmou.
Mourão ponderou, ainda, acreditar na possibilidade de Pazuello pedir transferência para reserva como uma maneira de "atenuar o problema" por sua participação no ato pró-Bolsonaro. O vice-presidente deixou claro, contudo, que isso é "uma questão interna do Exército".
Pazuello pode ser transferido à revelia para a reserva?
Diferentemente do que foi informado anteriormente na imprensa, o Exército não tem prerrogativa para transferir Pazuello para a reserva. Por isso, Mourão é claro quando acredita na possibilidade de o ex-ministro da Saúde fazer essa solicitação.
"O comandante do Exército não pode colocar alguém na reserva. Não existe isso de o general Paulo Sérgio aposentá-lo de forma compulsória", explica um interlocutor do Exército. O general reformado Paulo Chagas reforça o que diz a fonte. "O comandante do Exército não tem essa autoridade, ninguém tem essa autoridade."
Pazuello poderia ser aposentado compulsoriamente apenas se tivesse atingido o período de 12 anos após sua promoção a oficial general. Em 2014, ele foi promovido a general de brigada, e, em 2018, foi promovido a general de divisão. Ou seja, ele pode permanecer na ativa até 2026.
Qual a alternativa discutida dentro do Exército para Pazuello?
No Exército, discute-se que a melhor alternativa para Pazuello seria a publicação de uma portaria determinando sua transferência para a reserva com data retroativa para sexta-feira (21), sob pedido do próprio general. "É a saída diplomática mais factível", destaca o interlocutor do Exército.
O general Paulo Chagas admite que essa alternativa é possível, mas critica tal possibilidade. "Seria uma tremenda 'maracutaia' só para não puni-lo", destaca o general. "Envergonharia o Exército brasileiro", acrescenta.
Chagas defende que Pazuello peça sua transferência para a reserva. O general destaca que, por ele ser do corpo de intendentes do Exército, o ex-ministro da Saúde não pode chegar ao posto de general de Exército e se tornar, assim, um "quatro estrelas". "Ele sabe que errou", comenta.
Pazuello pode ser punido se não pedir transferência para a reserva?
A aposta que circula dentro do Exército é que Pazuello, de fato, pedirá a transferência para a reserva. "Ele já reúne todos os pré-requisitos, tem mais de 35 anos de carreira, é oficial general desde 2014, não tem problema em pedir reserva", diz um assessor do Exército.
Até o fechamento desta reportagem, não havia informações de Pazuello ter feito tal solicitação. Embora exista uma pressão do generalato para que o ex-ministro solicite, não existe qualquer punição se ele não o fizer.
A tendência é que Pazuello seja punido pelo Exército, mas isso não terá qualquer ligação com uma suposta retaliação em não pedir para ir à reserva. O Exército abrirá procedimento disciplinar contra o ex-ministro por ter transgredido o Regulamento Disciplinar do Exército.
Que punição Pazuello pode receber do Exército?
A punição a Pazuello foi uma ideia vista com resistência dentro do Exército. Houve até quem considerou como a alternativa mais remota a ser considerada pelo general Paulo Sérgio Nogueira, uma vez que poderia causar um constrangimento para o comandante do Exército ter que punir o ex-ministro, um oficial general. "É uma situação muito extrema", diz o militar do Exército ouvido reservadamente.
Contudo, a pressão do generalato falou mais alto. Oficiais generais deixaram claro que a não punição transmitiria uma mensagem negativa sobre toda a hierarquia militar. "Não puni-lo seria a coisa mais desgastante que o Exército poderia fazer. Ele cometeu uma transgressão em público", ressalta o general Paulo Chagas.
Chagas afirma ter conversado com outros militares — entre eles oficiais generais do Exército — e destaca que todos estão indignados com Pazuello. "Todos estão apostando na punição e achando que ele [Pazuello] tem que ser punido", afirma.
A punição a Pazuello tende, contudo, a ser apenas algo burocrático, uma "mijada", como dizem militares. Paulo Chagas acredita que ele não sofrerá mais do que uma repreensão e uma advertência. Ele terá um prazo para se justificar, por escrito, e terá que se reportar ao comandante. As sanções podem ser por escrito ou verbal. Se for por escrito, isso ficará no histórico militar dele.
O que pode ter influenciado Pazuello a participar do ato pró-Bolsonaro
Como um oficial general que é, Pazuello sabia da proibição de se manifestar em um ato político. A leitura política feita no Exército é que ele aceitou os riscos que sua participação provocaria no cenário institucional e político por motivações partidárias.
O general Paulo Chagas não descarta, inclusive, que Pazuello tenha usado o momento para absorver o capital político do eleitorado bolsonarista e preparar uma pré-candidatura ao governo do Amazonas, ou mesmo ao Senado.
"O título de eleitor dele é lá de Manaus, então, ele pode se candidatar a qualquer coisa no estado", pondera. "O fato de ter sido ministro e estar sendo execrado [na CPI da Covid] por gente que, no meu entendimento, não tem moral nenhuma para isso, como Renan Calheiros o ajuda. Ele tem boas chances de ser eleito", analisa.
Como a participação do general em evento político influencia na reconvocação para a CPI
A participação de Pazuello no ato pró-Bolsonaro reforçou o desejo da CPI da Covid em reconvocá-lo. O presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), disse que o colegiado deve votar na quarta-feira (26) um requerimento para ouvi-lo novamente. Com apenas três senadores titulares da base governista, a tendência é que isso, de fato, ocorra.
O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse nas redes sociais que a "procissão no Rio [de Janeiro] em louvor ao vírus é declaração de guerra ao SUS". "O governador [Cláudio Castro] terá que explicar a molecagem com o dinheiro público. Pazuello pisoteia disciplina e hierarquia e ri a céu aberto. A CPI terá muito assunto", aponta.
O senador Otto Alencar (PSD-BA) foi outro a se posicionar favoravelmente à reconvocação. Pelo Twitter, disse que, enquanto o Brasil continua sofrendo com a Covid-19, Bolsonaro afronta e aglomera. "Pazuello será reconvocado para depor na CPI", declarou.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) cobrou posicionamento das Forças Armadas e criticou Pazuello. "Um general que participa de um evento político não respeita a Constituição, está no regulamento disciplinar. As FA precisam dar exemplo de institucionalidade com Pazuello", afimou.
Líder do PSDB acredita que reconvocação é inevitável
O líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF), entende que a reconvocação de Pazuello à CPI da Covid é inevitável. À reportagem, ele considera que a participação do ex-ministro, sem máscara, à manifestação, contradiz posicionamentos dele no colegiado.
"E parece que tem outras falas que terão que ser checadas", diz Izalci, em referência às 15 mentiras apontadas por Calheiros a Pazuello. "Eu não faço parte do colegiado, não voto, mas acredito que ele será reconvocado. É natural que isso ocorra, a maioria ou é de oposição ou é independente", complementa.
O líder do PSDB entende que há muito o que avançar, documentos a ser checado e, por isso, não faz objeção à reconvocação de Pazuello. Mas ele deixa claro sua leitura de que o colegiado também deve avançar sobre desvio de recursos federais. "Há provas contundentes que houve desvio de recursos para todos os lados", defende.
Izalci, que é segundo-tenente da reserva, também comentou sobre a participação de Pazuello no ato pró-Bolsonaro. E entende que o ex-ministro deve ser transferido à reserva. "Desde o momento que ele assumiu o ministério [da Saúde] que eu defendo isso. Acho que todo esse processo administrativo contra ele vai levá-lo para a reserva", avalia.
Pragmatismo não deve salvar Lula dos problemas que terá com Trump na Casa Branca
Bolsonaro atribui 8/1 à esquerda e põe STF no fim da fila dos poderes; acompanhe o Sem Rodeios
STF condenou 265 pessoas pelos atos do 8/1 e absolveu apenas 4
“Desastre de proporções bíblicas”: democratas fazem autoanálise e projetam futuro após derrota
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF