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Nos últimos dias, parte da direita entrou em confronto com um perfil de Twitter e Instagram chamado Sleeping Giants Brasil, de autoria ainda desconhecida. A conta denuncia sites que classifica como propagadores de fake news e pede a anunciantes que boicotem esses sites com o objetivo de secar suas fontes de renda.
Na internet, em geral, as empresas têm pouco controle sobre as páginas em que publicam seus anúncios. Isso porque quase todas aderem à “publicidade programática”, pela qual algoritmos de gigantes da rede, como Google e Facebook, distribuem os anúncios por sites de forma automatizada.
O Sleeping Giants Brasil tem viés esquerdista, e o seu primeiro alvo foi o site Jornal da Cidade Online, que é pró-Bolsonaro. Não se sabe, ainda, o nível de organização do movimento – por enquanto, tudo o que ele ostenta na rede são as contas de Twitter e Instagram e um documento de perguntas frequentes –, mas seus perfis nas redes sociais já têm centenas de milhares de seguidores. No Twitter, são mais de 300 mil.
O movimento cresceu rápido, e a reação indignada de bolsonaristas influentes acabou dando a ele mais publicidade. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, postou um vídeo no Twitter apresentando e explicando o Sleeping Giants.
O chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social do Governo, Fábio Wajngarten, também criticou a conta. “O @slpng_giants_pt precisa urgentemente deixar o viés ideológico de lado na hora de fazer suas supostas denúncias”, disse.
BB acata pedido do Sleeping Giants, volta atrás e vira alvo do TCU
Wajngarten resolveu atacar o Sleeping Giants depois que o perfil convenceu o Banco do Brasil a retirar a publicidade do Jornal da Cidade Online. Ele e o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, criticaram o BB pela decisão.
A reclamação dos dois surtiu efeito. O setor de marketing do banco – que é chefiado por Antonio Mourão, filho do vice-presidente Hamilton Mourão – voltou atrás na decisão e, no dia 20 de maio, restabeleceu as propagandas no site.
Mas, na quarta-feira (27), o Tribunal de Contas da União (TCU) acatou uma denúncia do Ministério Público de Contas e determinou a suspensão de todos os contratos de publicidade do Banco do Brasil com sites, blogs, portais e redes sociais.
O TCU classificou como “gravíssima” a acusação de que recursos do Banco do Brasil estão sendo drenados para “financiar sites, blogs e redes sociais que se dedicam a produzir conteúdo sabidamente falso e disseminar fake news e discurso de ódio”.
De onde vem o Sleeping Giants?
A versão brasileira do Sleeping Giants é inspirada em um movimento homônimo americano que incentiva anunciantes a boicotarem sites classificados como propagadores de fake news. A expressão “sleeping giants” significa gigantes adormecidos.
Nos EUA, milhares de empresas removeram os anúncios do Breitbart News, site jornalístico célebre por seu apoio ao presidente Donald Trump, depois que o Sleeping Giants começou a acusá-lo de fake news e a fazer uma campanha de boicote.
Os responsáveis pelo Sleeping Giants americano não tiveram relação com a criação de sua versão brasileira, mas já deram o respaldo via Twitter. “Absolutamente impressionante o que aconteceu com o Sleeping Giants Brasil em menos de uma semana”, tuitaram os americanos, em referência à rápida ascensão da conta brasileira.
Bandeira contra fake news encobre viés esquerdista
Embora denuncie sites que têm histórico de publicação de informações falsas, o Sleeping Giants Brasil tem claro viés esquerdista. Isso fica evidente não só pela escolha enviesada de seu primeiro alvo ou pelo punho cerrado de seu símbolo, mas também pela lista de contas seguidas no Twitter pelo perfil.
O usuário @B4STA, primeiro a ser seguido, tem como objetivo declarado na biografia de seu perfil o “banimento de Olavo de Carvalho, pastor [Silas] Malafaia e Allan dos Santos [jornalista do Terça Livre, site pró-Bolsonaro]”.
Entre as primeiras contas que o Sleeping Giants seguiu no Twitter também estão blogueiros, jornalistas e celebridades com viés esquerdista. Uma delas se autodeclara “canhota” e outra se define como “logicamente de esquerda”.
O Sleeping Giants não respondeu a um pedido de entrevista da Gazeta do Povo. À revista Época, os donos da conta asseguraram que poderão denunciar sites de esquerda no futuro, caso venham a considerá-los “os que mais propagam fake news e discurso de ódio”.
Por enquanto, segundo eles, a estratégia é denunciar somente o Jornal da Cidade Online, com o objetivo de reduzir a receita de publicidade programática do site e, assim, diminuir seus ganhos financeiros. O alvo, por enquanto, será exclusivamente o Jornal da Cidade Online, e o ataque deverá durar meses, segundo os autores do Sleeping Giants.
“É importante ressaltar que é um movimento que objetiva suprimir o financiamento da desinformação e do discurso de ódio. Eventuais próximos alvos serão definidos a partir de uma análise que observe esses dois critérios”, afirmaram à Época os donos do Sleeping Giants.
Versão de direita do Sleeping Giants Brasil é lançada
Um perfil criado no dia 20 de maio, o Gigantes Não Dormem, propõe-se como alternativa direitista do Sleeping Giants. Na tarde desta sexta-feira (29), a iniciativa ainda tinha pouco êxito: contava com 24 mil seguidores, menos que 10% dos seguidores da conta adversária, e convenceu poucas empresas a removerem os anúncios. Uma delas foi a Centauro, que retirou os anúncios do Blog do Esmael, um site com viés esquerdista.
A conta direitista começou tendo como alvo principal o site Brasil 247. Em postagens mais recentes, perdeu o foco no boicote publicitário e começou a fazer comentários variados sobre assuntos políticos.