A participação do empresário Roberto Pereira Ramos Junior, diretor do FIB Bank, que fala à CPI da Covid do Senado nesta quarta-feira (25), está sendo marcada por críticas dos senadores às declarações do depoente. Em um raro consenso entre parlamentares favoráveis e contrários ao governo de Jair Bolsonaro, os membros da CPI contestam afirmações de Ramos que consideram contraditórias ou insuficientes para o esclarecimento dos fatos.
"Esse cidadão está ofendendo o Senado", chegou a dizer o parlamentar governista Jorginho Mello (PL-SC). Já o vice-presidente do colegiado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que faz oposição a Bolsonaro, disse que a fala de Ramos é "escabrosa", mas qualificou o depoimento como um dos mais importantes desde o início da CPI.
Ramos foi chamado para falar à CPI pelo fato de o FIB Bank ter sido citado como garantidor do contrato entre a Precisa Medicamentos e o Ministério da Saúde, na negociação para aquisição das vacinas Covaxin, produzidas pelo laboratório indiano Bharat Biotech. O contrato acabou não sendo efetivado. Apesar do nome, o FIB Bank não é um banco - Ramos definiu a empresa como "prestadora de garantias fidejussórias".
O status da empresa esteve entre os pontos que mais motivaram questionamentos - e risadas - dos parlamentares. Ramos declarou que o FIB Bank tem capital social de R$ 7,5 bilhões, o que espantou os senadores, principalmente pelo fato de que ele ter dito, pouco antes, que a empresa era de pequeno porte. "Um capital de R$ 7,5 bilhões cura qualquer doença", ironizou Mello. Outro ponto que despertou contestações dos parlamentares foi o patrimônio da empresa. A companhia alega ser proprietária de um terreno cuja área equivale a 10% da extensão do município de Curitiba, e que estaria orçado em R$ 7 bilhões. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse que recebeu de um internauta a sugestão de que o valor seria suficiente para adquirir o Palácio de Buckingham, a residência oficial da família real do Reino Unido.
Os senadores contestaram também o vínculo entre o FIB Bank e a Precisa Medicamentos. Apesar de as empresas terem firmado uma parceria de altas cifras, já que o contrato entre Precisa e Ministério foi estipulado na casa de R$ 1,6 bilhões, Ramos disse à comissão que não conhecia Francisco Maximiano, o proprietário da Precisa. Ele também alegou que não tinha informações sobre negócios anteriores da empresa. A Precisa, antes da situação atual, já havia tido seu nome relacionado a escândalos de corrupção, em um episódio da compra fraudulenta de testes rápidos de detecção de Covid-19.
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), chegou a perguntar ao presidente da comissão, Omar Aziz, sobre a possibilidade de prisão de Ramos, sob a alegação de que a testemunha estaria mentindo à comissão. Ramos fala ao colegiado, assim como outros depoentes, protegido por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que o assegura o direito de permanecer em silêncio no caso de perguntas que podem incriminá-lo.
Aziz descartou, em um primeiro momento, a prisão de Ramos. Mas fez muitas críticas ao depoente. Antes, o presidente da CPI disse: "esse tipo de gente que ia salvar os brasileiros. Por isso que nós chegamos a 570 mil vidas perdidas".
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) alegou que as inconsistências no depoimento de Ramos devem motivar uma análise da CPI aos mecanismos de controle do Ministério da Saúde, que, na avaliação da parlamentar, não impediu a assinatura do contrato que colocou o FIB Bank como garantidor da Precisa.
Adiamento e jantar da propina
Antes do depoimento desta quarta, a CPI anunciou uma mudança na sessão prevista para o dia seguinte. Em vez de ouvir Francisco Araújo, ex-secretário de Saúde do Distrito Federal, o colegiado receberá José Ricardo Santana, ex-diretor da Anvisa e apontado como um dos participantes do "jantar da propina", ocorrido em fevereiro, no qual um representante do Ministério da Saúde teria pedido uma vantagem indevida para fechar um contrato para compra de vacinas. O depoimento de Araújo será realizado na próxima semana.
A CPI também aprovou a convocação do motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva. Ele foi chamado a falar à comissão por ter feito saques milionários em dinheiro em nome da empresa VTC Log, que atua no ramo de logística e transporte e é suspeita de firmar contratos irregulares com o Ministério da Saúde. A oitiva ainda não tem data marcada.
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