Ouça este conteúdo
João Pedro Stédile, líder nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), convocou militantes e assentados a levar casos de desvios de dinheiro e de agressões para a delegacia. A declaração foi feita ao ser confrontado pelo relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST, deputado Ricardo Salles (PL-SP), sobre indícios de desvios feitos por meio de cooperativas ligadas ao movimento, e denúncias de agressões que teriam ocorrido em assentamentos.
“Levem os casos para a delegacia. Nós temos interesse em apurar desvios”, disse Stédile na CPI do MST, ao convocar os integrantes do movimento para que denunciem casos como os relatados pelos depoentes da CPI. Nos relatos ouvidos nas reuniões do colegiado, os ex-integrantes do MST disseram que foram ameaçados quando questionaram as determinações das lideranças dos assentamentos.
Salles afirmou ainda que em todos os casos trazidos à CPI havia denúncias de trabalhos forçados como norma de disciplina e que as lideranças do MST não faziam o mesmo trabalho que os assentados. “As lideranças ficam em casas, carros e funções melhores do que a coletividade das pessoas. O seu conceito de coletividade é seletiva”, apontou o relator da CPI do MST ao rebater a colocação de Stédile sobre os princípios do movimento, quando destacou a coletividade como uma das principais questões a serem seguidas.
Salles também questionou o líder do MST sobre a conduta que seria adotada para corrigir os fatos apurados pela CPI. Em resposta, Stédile não se comprometeu em dar solução aos casos. “Solução é o Poder Judiciário. Problemas são da vida”, disse o líder do movimento. “Vocês não podem colocar no relatório que isso [condutas de agressões e desvios] seja orientação”, completou Stédile.
Invasão na Embrapa pode ter sido um “erro”, diz Stédile
Ao ser questionado sobre as invasões ocorridas em áreas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Pernambuco, o líder do MST disse que poderia fazer uma “autocrítica” sobre os fatos. “Está bom, foi um erro, um equívoco entrar na Embrapa. Mas eles decidiram porque era a área pública mais próxima e entraram na Embrapa não para reivindicar a área da Embrapa, entraram na Embrapa para chamar a atenção da opinião pública e conseguiram", declarou.
As invasões ocorreram em abril e em julho, na unidade da Embrapa Semiárido que fica no sertão do Pernambuco. Em nota, a Embrapa informou que a invasão do MST “foi realizada em terras agricultáveis e de preservação da Caatinga”. Na época, Stédile chegou a dizer, em entrevista para a Folha de S. Paulo, que não havia pesquisa nos terrenos invadidos.
Para Stédile, nas duas invasões, o MST não queria reivindicar as terras, mas chamar atenção para a reforma agrária. "Ah, muitas vezes eles exageram ou erram? Concordo. Às vezes, eles exageram e erram, mas eles têm o direito de decidir. Nenhuma instância nacional decidiu que eles deviam ir", concluiu se referindo às decisões dos integrantes do MST.
Gleisi compara investimento no agro com investimento no MST
Ao se pronunciar durante o depoimento de João Pedro Stédile na CPI do MST, a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), sugeriu que o Estado brasileiro deve investir no MST, assim como investe no agronegócio. “Eles não têm como reclamar que o Estado brasileiro invista em movimentos sociais que lutam pela reforma agrária, porque [o Estado] investe no agronegócio”, disse a presidente do PT.
Gleisi citou ainda o setor da indústria para dizer que as isenções tributárias aplicadas ao setor do agronegócio são “violentas”. “Quando a gente vem aqui e defende uma política de estado, que o Estado tem que participar do processo, eles são contra. Mas o Estado participa do agronegócio. O agro é tech, o agro é pop porque tem uma isenção tributária violenta. [O agronegócio] tem hoje só 5% do PIB de carga tributária. Se a indústria tivesse isso, também seria tech, seria pop”, criticou a petista.
Stédile levou claque à reunião da CPI
A reunião da CPI do MST desta terça-feira (15) foi acompanhada por um plenário lotado de parlamentares, assessores e imprensa. Logo no início da reunião, Stédile mencionou que havia muitos “amigos” que não teriam conseguido entrar no plenário, em razão do pouco espaço. Seriam líderes religiosos, ligados à Pastoral da Terra, e advogados que seriam filhos de assentados. Stédile fez menção especial à presença de mães de santo e disse que os terreiros têm muita incidência nos acampamentos e assentamentos do MST.
Durante toda a reunião, Stédile também recebeu cumprimentos de deputados federais de esquerda, em sua maioria não-membros da CPI. O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), e o senador Humberto Costa (PT-PE) estiveram no plenário da Comissão para cumprimentar o depoente.
Pela internet, no canal da Câmara dos Deputados no Youtube, pelo menos 25 mil pessoas acompanhavam o depoimento de Stédile ao vivo. Buscando apoio, as lojas do MST, chamadas de Armazém do Campo, de várias cidades, como Bauru, Porto Alegre, Salvador e Belo Horizonte divulgaram em suas redes sociais a transmissão ao vivo e convidaram os seguidores a acompanhar o depoimento do líder do MST diretamente nessas unidades.