O líder do Movimento Sem-Terra, João Pedro Stédile, voltou a reclamar do desempenho do governo Lula em relação às pautas do movimento. Além de criticar o excesso de “propaganda” e “retórica” do governo, Stédile classificou o trabalho do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) como “vergonhoso”.
"Não bastam mais propaganda, retórica, eventos e atos no Palácio. Nós queremos medidas concretas que solucionem problemas reais”, disse Stédile em entrevista à Folha de São Paulo, nesta segunda-feira (16).
Para o líder do movimento invasor, “apesar da boa vontade do Lula, as políticas públicas não estão chegando nos mais pobres, das periferias e do campo”.
Depois de poupar o presidente Lula das críticas, Stédile concentrou suas queixas contra o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira.
“Qualquer pessoa ou coletivo que ocupa cargos no governo, na iniciativa privada e nos movimentos e não consegue desempenhar a contento as tarefas para resolver as demandas é incompetente”, disse Stédile ao citar promessas do ministros ainda não cumpridas.
“Temos 70 turmas de curso superior do Pronera [Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária], que custam R$ 100 milhões e o governo não consegue atender. A Anater [Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural] não recebeu até agora nenhum centavo para Ates [Programas de Assessoria Técnica, Social e Ambiental] nos assentamentos”, disse o líder do MST.
“Não houve recursos para a moradia para atender às necessidades dos assentados. O PAA [Programa de Aquisição de Alimentos] tem sido insuficiente. São algumas das deficiências. A atuação das superintendências do MDA e do Incra nos estados é, no mínimo, vergonhosa”, continuou Stédile.
Stédile diz que atuação do MDA é “vergonhosa”
Recentemente, o ministro Paulo Teixeira anunciou um pacote de medidas que beneficiaria o MST antes do fim do ano. O pacote, segundo o ministro, envolve compra e adjudicação de terras e mais recursos para assistência técnica de assentados.
“Faz dois anos que eles falam em ‘pacotes’. Anunciaram a tal ‘prateleira de terras’ e tantas outras promessas embaladas como presentes de Natal. Um pequeno exemplo: O ministro fez ato público em São Paulo para anunciar o curso de Administração Rural pelo Pronera na UFSCAR [Universidade Federal de São Carlos] há seis meses. O curso não tem um centavo. E a UFSCAR não quer começar”, disse Stédile ao comentar sobre a promessa do ministro.
“É um governo que destinou mais de R$ 30 bilhões neste ano em desoneração fiscal para grandes empresas —até de agrotóxicos— multinacionais e agronegócio. Não pode dizer que não tem recursos para os pobres”, completou.
De acordo com Stédile, o MST tem programada uma reunião de trabalho com o presidente Lula para rever os acordos firmados na reunião dia 14 de agosto “para que ele saiba o que está acontecendo e nos ajude a resolver”.
Críticas recentes
O líder maior do movimento invasor está cobrando e criticando o governo Lula desde o início do mandato.
Mais recentemente, no início deste mês, Stédile disparou contra o governo por mudanças no programa Minha Casa Minha Vida que afetariam diretamente as famílias de baixa renda.
De acordo com ele, a ampliação dos valores dos imóveis e da faixa de renda para a participação podem favorecer construtoras e classes mais próximas à média do que os mais pobres.
Em agosto deste ano, Stédile criticou o governo por “se meter” em assuntos relativos à soberania de outros países – neste caso, por cobrar da Venezuela a divulgação das atas de votação que supostamente reelegeram o ditador Nicolás Maduro.
Em junho, Stédile criticou o presidente dias depois de Lula sancionar a lei aprovada pelo Congresso Nacional que exclui a silvicultura do rol de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais.
A mudança na lei da Política Nacional do Meio Ambiente simplifica o licenciamento ambiental para o plantio de florestas para fins comerciais, como a produção de pinus e eucaliptos.
Stédile considerou a sanção de Lula como um “desastre”, afirmando que a silvicultura gera um “uso excessivo de água e rebaixamento do lençol freático, uso de agrotóxicos e perda de biodiversidade”.
Em julho do ano passado, o economista e líder do MST, João Pedro Stédile, chamou Lula de “lento” e “medroso”. Stédile também disse que o governo deixou de atender pedidos do movimento.
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