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Inquérito

Após decisão do STF sobre fake news, meio político prevê acirramento entre poderes

Presidente Jair Bolsonaro e o do STF, Dias Toffoli
Presidente Jair Bolsonaro e o do STF, Dias Toffoli (Foto: Marcos Corrêa/STF)

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As duas decisões que o Supremo Tribunal Federal (STF) tomou nesta quarta-feira (17) relacionadas ao inquérito das fake news desagradaram o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus apoiadores, e devem motivar novos episódios de críticas públicas entre integrantes dos três poderes. As análises são tanto de integrantes da base bolsonarista quanto de membros da oposição ao governo federal.

A maioria sobre o inquérito foi formada nesta quarta com oito votos favoráveis e nenhum contrário. Como formalmente os ministros ainda podem modificar seus votos, o julgamento sobre a manutenção ou não do inquérito não está oficialmente encerrado – mas o fato de terem sido apresentados oito votos favoráveis foi interpretado como um recado incisivo da corte no combate ao que considera ameaças à instituição, que provêm principalmente de apoiadores do presidente.

Críticas ao posicionamento do STF se multiplicaram nos perfis das redes sociais dos defensores de Bolsonaro. As opiniões unem tanto contestações à decisão sobre o inquérito das fake news quanto reprovações à investigação que apura a participação de bolsonaristas em atos antidemocráticos, que pregam o fechamento do STF e do Congresso Nacional.

A reação dos parlamentares ao STF

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, chamou os ativistas de direita Antonio Carlos Bronzeri, Jurandir Alencar e Sara Winter de "presos políticos". "Se ao invés de fazer o que fizeram criticando um ministro do STF mas sim outra autoridade estaria tudo bem. Mas o ego e a arrogância associados a determinados poderes dá a chance de haver medidas ditatoriais", escreveu o parlamentar.

Para a deputada Margarida Salomão (PT-MG), a reação dos apoiadores do presidente e do próprio chefe do Executivo às decisões do Supremo pode indicar uma sinalização para o acirramento de conflitos entre os poderes. "Sem sombra de dúvidas. Bolsonaro age com irresponsabilidade e desconhece a importância de sua função. Ele deveria estar trabalhando para fortalecer os laços, para estabelecer coesão institucional, respeito aos poderes, não o que tem desempenhado", alegou.

Já o governista Filipe Barros (PSL-PR) também acredita na evolução dos choques entre os poderes. Mas, segundo ele, por problemas causados pelo Judiciário: "são decisões que rasgam a Constituição e que são corporativistas".

Para o parlamentar, as medidas do Supremo indicam que o Brasil "vive um regime de exceção". "Já houve um rompimento institucional no Brasil. Não dá para a oposição dizer que Bolsonaro quer fazer um rompimento, porque outras instituições já fizeram isso", alegou. Outro deputado, Junio Amaral (PSL-MG), chamou em entrevista à Jovem Pan de "canalhice" o fato de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não ter se manifestado em defesa dos parlamentares citados nos processos.

O advogado Luis Felipe Belmonte, segundo vice-presidente do Aliança Pelo Brasil, o futuro partido de Bolsonaro, disse à Gazeta do Povo não considerar que o Brasil esteja num estágio de estado de exceção, mas questionou as decisões do STF: "falam que o presidente tem vocação nazista, mas quem está agindo como a Gestapo [polícia do regime de Hitler] não é ele. O que é dar um golpe? Será que isso que estão fazendo de impedir o presidente de governar não é dar um golpe?".

Belmonte foi alvo de operação da Polícia Federal na terça-feira (16), no âmbito da investigação sobre os atos antidemocráticos. Segundo acusações preliminares, ele teria conexão com o financiamento das manifestações. O advogado é suplente do senador Izalci Lucas (PSDB-DF) e, nas eleições de 2018, declarou patrimônio superior a R$ 65 milhões.

Bolsonaro fala em colocar coisas em seu"devido lugar"

O acirramento em decorrência das decisões do STF pode ser esperado também por declarações do próprio Bolsonaro – feitas ainda antes das manifestações da corte.

Na manhã da quarta (17), o presidente disse a uma apoiadora que "está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar". Pelas redes sociais, Bolsonaro havia dito na terça que tomaria "todas as medidas legais possíveis para proteger a Constituição e a liberdade do dos brasileiros". A fala foi motivada pela decisão do STF de quebrar o sigilo bancário de parlamentares bolsonaristas, dentro do âmbito da investigação sobre os atos antidemocráticos.

As declarações, apesar de incisivas, foram menos fortes do que as de 27 de maio, quando a Polícia Federal fez uma operação contra influenciadores bolsonaristas. "Acabou, porra! Me desculpem o desabafo. Acabou. Não dá para admitir mais atitudes de certas pessoas individuais, tomando de forma quase que pessoal certas ações", afirmou Bolsonaro, um dia após a operação.

O líder do Cidadania na Câmara, Arnaldo Jardim (SP), ironizou a fala de Bolsonaro sobre o "devido lugar": “Colocar tudo em ordem? Que bom. Isso significa não crescer o acirramento entre os Poderes, respeito absoluto à Constituição e somar esforços para enfrentar a crise na saúde e na economia”.

Balizas do STF

O julgamento do STF foi marcado por declarações fortes dos ministros nas críticas aos ataques à instituição e à divulgação de notícias falsas. Alexandre de Moraes relembrou ameaças virtuais feitas aos magistrados e seus familiares, como a de uma internauta, que pediu o estupro de parentes dos ministros.

O Supremo deve finalizar o julgamento nesta quinta-feira (18). Há a expectativa de que a formalização da autorização do inquérito venha acompanhada da determinação para que a investigação siga algumas balizas, como o acompanhamento pelo Ministério Público, a garantia de acesso dos advogados dos acusados aos processos e a distinção entre ataques e críticas contempladas pela liberdade de expressão.

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