Além de uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), o nome indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para substituir o ministro Marco Aurélio Mello irá herdar uma das maiores cargas processuais da Corte. Ao todo, serão 2.260 processos, sendo cerca de 1.900 ações originárias e mais de 350 recursos, que atualmente estão sob a responsabilidade do decano. Em março de 2020, Marco Aurélio tinha cerca de 5 mil processos em seu gabinete.
O número de processos a cargo do futuro ministro só fica atrás das mais de 4,8 mil ações que estão no gabinete da presidência do STF e das mais de 2,6 mil do ministro Edson Fachin. Indicado no ano passado, o ministro Kassio Nunes Marques herdou 2,2 mil processos do antecessor Celso de Mello.
Com aposentadoria marcada para o dia 5 de julho, Marco Aurélio já está impedido de assumir a relatoria de novos processos. Segundo o Regimento do STF, ministros que estão a 60 dias da aposentadoria ficam de fora do sistema automático de distribuição de ações.
Sobre a herança processual, Marco Aurélio tem dado declarações em que afirma que a sobrecarga de processos na Corte acaba atrapalhando a celeridade dos trabalhos. “Temos uma sobrecarga muito grande e ficamos com uma angústia enorme para conciliar celeridade e conteúdo. Se tivermos que sacrificar alguma coisa, já que não julgamos papéis, mas julgamos destinos, vamos sacrificar em si a celeridade. A carga é inimaginável, não há Suprema Corte no mundo que tenha a carga do nosso Supremo. Precisamos de uma reforma um pouco mais profunda”, disse o ministro em entrevista à Rádio Bandeirantes.
Novo ministro irá relatar pedido de investigação contra Michelle Bolsonaro e ações do PT
Deverá ficar sob a responsabilidade do novo ministro a decisão de desarquivar ou não o pedido de investigação sobre os supostos cheques que teriam sido depositados por Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. No último dia 19, Marco Aurélio pediu que a Advocacia-Geral da União (AGU) se manifeste sobre um novo pedido de investigação.
O decano já havia arquivado a ação depois que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou contra a abertura de um procedimento para investigar os depósitos. No entanto, o autor da denúncia, o advogado Ricardo Bretanha recorreu contra o arquivamento. Como a expectativa é de que a manifestação da AGU só chegue ao STF em julho, caberá ao novo ministro a decisão sobre manter o caso arquivado ou se levará para análise da Primeira Turma ou para o plenário.
Também ficará a cargo do futuro ministro a relatoria de uma ação do partido Podemos que questiona trechos da legislação que trata do Fundo Eleitoral de Financiamento de Campanha e da inelegibilidade após o registro e da anistia por doações ilícitas. A legenda alega que as regras permitem o aumento indiscriminado do fundo de campanha sem sujeição ao teto de gastos instituído pelo novo regime fiscal e sem estimativa do impacto orçamentário e financeiro.
O indicado pelo presidente Jair Bolsonaro também terá que dar sequência a uma ação movida pelo PT que pede uma liminar para obrigar o governo federal a tomar “providências urgentes” em relação a medidas de isolamento social para conter a pandemia da Covid-19. O novo ministro também será relator de outro processo movido pelo partido do ex-presidente Lula para que o governo federal disponibilize recursos humanos, de infraestrutura e financeiros para o combate das queimadas na Amazônia e no Pantanal.
Existe ainda a possibilidade de o novo ministro votar no caso que trata da suspeição do ex-ministro e ex-juiz federal Sergio Moro. Apesar de a maioria dos ministros da Corte já ter votado pela parcialidade de Moro no julgamento do ex-presidente Lula, Marco Aurélio havia pedido vista ao processo e só devolveu na última semana. Caso o presidente do STF, ministro Luiz Fux, não volte a pautar o tema até a data da aposentadoria do decano, caberá ao futuro ministro a manifestação sobre o caso no futuro.
Substituto de Marco Aurélio deve ir para Segunda Turma da Corte
Apesar de Marco Aurélio ser integrante da Primeira Turma do STF, o escolhido para ocupar a vaga do decano deverá seguir para a Segunda Turma da Corte. Isso porque o ministro Edson Fachin pediu a transferência de colegiado.
No ofício, Fachin manifesta interesse na mudança desde que não haja vontade de outro ministro mais antigo do tribunal de ocupar a cadeira. O critério de preferência é estabelecido pelo Regimento Interno do Supremo. Como até o momento não houve manifestação do tipo, Fachin deve ficar com a vaga.
Relator da Lava Jato na Corte, Fachin poderá levar os processos relacionados à força-tarefa da Segunda para a Primeira Turma. O pedido de mudança ocorre na esteira de desgastes e de derrotas que Fachin vem sofrendo em votações envolvendo a operação.
Atualmente integrada por Dias Toffoli, Marco Aurélio Mello, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, a Primeira Turma costuma ter posicionamentos mais favoráveis à Lava Jato. Com a transferência de Fachin, a Segunda Turma passará a ser composta pelo novo ministro que for indicado por Bolsonaro, Nunes Marques e Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF