“Apenas a diplomacia não dá. E quando acaba a saliva, tem que ter pólvora”. A já icônica frase dita esta semana pelo presidente Jair Bolsonaro repercutiu rapidamente no Brasil e no mundo. Desabafo à parte de Bolsonaro, a verdade é que o país não dispõe de “pólvora” suficiente para se sobrepor belicamente a uma potência como os Estados Unidos. O próprio comandante do Exército brasileiro, general Edson Leal Pujol, reconhece que o Brasil tem uma das menores Forças Armadas do mundo.
A metáfora usada por Bolsonaro foi minimizada pelo vice-presidente Hamilton Mourão, que classificou a declaração como um “figura de retórica”. Não é para menos que, após a polêmica, o governo tente diminuir o tamanho do que foi dito. General de Exército, ou seja, um quatro estrelas, Mourão prega a diplomacia militar e sabe das limitações das Forças Armadas brasileiras, como frisou Pujol. Contudo, diferentemente do que pode deixar a entender o comandante do Exército, a força militar brasileira não é tão pequena.
De acordo com o Índice Global de Poder de Fogo das Nações, o Brasil tem a 10ª maior força militar entre 138 países. É o que aponta o portal especializado em segurança e defesa nacional "Global Firepower (GFP)". Com a mensuração de dezenas de dados compilados em um indicador, o site aponta quais países dispõem de mais “pólvora”. São levados em consideração elementos geográficos, logísticos, financeiros, de recursos naturais, poder de fogo aéreo, em terra e mar, além da “mão de obra” militar.
E qual o tamanho dessa "mão de obra” militar?
Apesar de seus quase 210 milhões de habitantes, o Brasil não dispõe de um grande número de militares. Proporcionalmente falando, somando os 334,5 mil militares da ativa, e os 1,3 milhão da reserva, o país tem 0,8% de seu pessoal nas Forças Armadas. Em um possível conflito armado, naturalmente milhões de brasileiros reservistas seriam convocados. E aí, o GFP calcula que as Forças Armadas brasileiras teriam — ao menos teoricamente — à disposição 84,6 milhões de pessoas disponíveis para ajudar em um esforço de guerra.
O portal especializado calcula ainda que, anualmente, 3,38 milhões de brasileiros atingem os 18 anos, a idade militar. Ao somar toda a “força de trabalho” possível, estima-se que o Brasil teria uma “mão de obra militar” potencial de 107,8 milhões de pessoas disponíveis. Nesse quesito, o país figura em 5º entre 138 países pesquisados.
E quanto ao poder de fogo aéreo?
Embora em contingente o Brasil possa figurar entre as principais potências, o mesmo não pode ser dito quando se coloca o poder de fogo em questão. Apesar de números significativos, a "pólvora" brasileira aparece abaixo em relação a outras nações. Pelo ar, contudo, é onde nos saímos melhor.
De acordo com o GFP, o país dispõe de 43 aeronaves dedicadas a manobras de combate aéreo. O portal lista como exemplos dessa categoria caças Eurofighter Typhoon, o F-15 ‘Eagle’, da Boeing, e interceptadores como o Mikoyan-Gurevich MiG-21 'Fishbed', ainda operado por algumas forças globais.
Já aeronaves destinadas ao ataque de alvos terrestres, o Brasil dispõe de 78 unidades. Aí, se encaixam alguns exemplos como o russo Sukhoi Su-24 'Fencer', o norte-americano americano Lockheed Martin F-35 'Lightning II', o Boeing B-52, e até alguns caças de ataques leve, como o brasileiro EMB-314 'Super Tucano', e o AC-130 'Spectre'.
Para transporte aéreo, a Força Aérea brasileira dispõe de 126 aeronaves, informa o portal especializado. O Brasil aparece em quinto lugar nessa categoria, o que mostra um pouco da "pólvora" da Aeronáutica. Alguns exemplos de transporte de nível estratégico, tático e utilitário como os Boeing C-17 'Globemaster III', Airbus CN-235 e Cessna 208. O Brasil ainda tem 198 aviões de treinamento e 24 destinados a missões especiais — projetados para cumprir uma função no campo de batalha.
Os helicópteros também estão presentes no portfólio de produtos da Aeronáutica. São 242 unidades destinadas a suporte, patrulha marítima, treinamento e ataque. Por último, as Forças Armadas também dispõem de 12 helicópteros de ataque, modelos especialmente voltados para o campo de batalha. São projetados para apoio de fogo às forças terrestres e veículos blindados, bem como elementos de forças inimigas por meio de Apoio Aéreo Aproximado (CAS, em inglês).
Tanques, blindados... o poder de fogo terrestre
Quando se fala em poder terrestre, uma das primeiras imagens que vêm a mente são os tradicionais tanques de guerra. O Exército brasileiro dispõe de 437 unidades, sistemas de combate blindados usados na linha de frente. Aí, destacam-se como exemplos o alemão ‘Leopard 2’, o russo T-90, bem como modelos de classe leve, como o ‘Stingray’, da Tailândia. Além deles, as Forças Armadas contam com 1,8 mil veículos blindados de combate.
Além de tanques e veículos blindados, o Exército dispõe de 132 veículos de artilharia automotora. São unidades de mobilidade equipadas com armas montadas em veículos terrestres, que podem disparar a partir deles. Somam-se a eles 565 “obuseiros”, unidades de artilharia de tubo rebocadas por caminhões. São peças usadas para artilharia de longo alcance e fogo indireto com vários tipos de projéteis disparados por calibres diversos.
Por fim, o Exército brasileiro conta com 84 viaturas lançadoras de foguete, aponta o levantamento. Tais unidades visam o ataque de áreas de forças inimigas por meio de fogo indireto e de longo alcance. Alguns exemplos citados são os veículos M142 HIMARS, BM-21 e o brasileiro Astros II, fabricado pela Avibras.
Fragatas e submarinos: a "pólvora" naval brasileira
Se por ar e terra o Brasil dispõe de um certo poder militar, contudo, pelo mar, a "pólvora" do país deve um pouco em relação ao mundo. O GFP aponta que a Marinha não dispõe de nenhuma frota de porta-aviões, nem uma frota sequer de contratorpedeiros, embarcações equipadas com equipamentos sensoriais e armamentos para combater ameaças do ar, na superfície e sob ela. Sem uma única unidade, o país figura em último na lista de 138 países em ambos os quesitos.
Já em navios de fragata, o Brasil dispõe de sete unidades. São navios oceânicos multifuncionais utilizados para proteção de navios de superfície da frota contra combatentes de superfície inimigos ou ameaças aéreas. Geralmente, são equipadas com sonar avançado, sistemas sensoriais e de rastreamento que possibilitam a tripulação monitorar submarinos inimigos.
A Marinha brasileira também dispõe de dois navios de corveta, tipicamente menores do que as fragatas, embora maiores que as 22 embarcações de patrulha costeira na frota brasileira. São unidades que fornecem mistura balanceada de poder de fogo e suporte, tendo benefícios maiores de custos de construção e compra. Além delas, o Brasil tem cinco navios varredores de minas, utilizados para destruir minas marítimas inimigas.
Os conhecidos submarinos também estão presentes na lista de equipamentos militares da Marinha. O Brasil tem seis submarinos de ataque moderno. Essas unidades são capazes de executar ataques marítimos e terrestres por meios convencionais e nucleares. Eles também podem ser usados no apoio a operações de forças especiais e trabalho de reconhecimento.
Indústria e aeroportos: a logística militar brasileira
O levantamento feito para mensurar a "pólvora" dos países em poderio militar também aponta elementos logísticos, como a força de trabalho empregada na indústria militar. A do Brasil, informa o GFP, tem 111,6 mil pessoas que cuidam da produção de itens como balas, bombas, uniformes, peças, sobressalentes, equipamento de campo especializado, remédios, etc. Além disso, as Forças Armadas dispõem de 17 portos e terminais de carga, 4 mil terminais aeroportuários e 791 frotas da marinha mercante.
E qual a pólvora do Brasil comparada aos EUA?
Bom, essa é uma comparação inglória para as Forças Armadas brasileiras, principalmente no que se refere ao poderio aéreo e terrestre. Não à toa a "pólvora" brasileira gerou muitos memes e piadas nas redes sociais e em ciclos sociais após a declaração de Bolsonaro. Confira, abaixo, a relação entre o poder militar do Brasil e dos Estados Unidos dos dados citados anteriormente:
"Mão de obra" militar (em milhões) | Brasil | EUA |
Militares da ativa | 0,334 | 1,4 |
Militares da reserva | 1,3 | 0,86 |
Aptos ao serviço militar | 84,6 | 111,7 |
Pessoas que atingem idade militar por ano | 3,38 | 4,19 |
"Mão de obra" total disponível | 107,8 | 144,9 |
Poder de fogo aéreo | Brasil | EUA |
Aeronaves para combate aéreo | 43 | 2.100 |
Aeronaves para ataque terrestre | 78 | 715 |
Aviões de transporte | 126 | 945 |
Aviões de treinamento | 198 | 2.600 |
Aviões para missões especiais | 24 | 742 |
Helicópteros | 242 | 5.800 |
Helicópteros de combate | 12 | 967 |
Pode de fogo terrestre | Brasil | EUA |
Tanques | 437 | 6.300 |
Blindados de combate | 1.800 | 39.200 |
Veículos de artilharia automotora | 132 | 1.500 |
Obuseiros | 565 | 2.700 |
Viaturas lançadoras de foguete | 84 | 1.400 |
Pode de fogo naval | Brasil | EUA |
Porta-aviões | 0 | 20 |
Contratorpedeiros | 0 | 91 |
Navios de fragata | 7 | 0 |
Navios de corveta | 22 | 19 |
Navios varredores de minas | 5 | 11 |
Navios de patrulha costeira | 22 | 13 |
Submarinos | 6 | 66 |
Logística | Brasil | EUA |
Empregados na indústria militar | 111.600 | 160.400 |
Portos e terminais de carga | 17 | 35 |
Terminais aeroportuários | 4.000 | 13.500 |
Frotas de marinha mercante | 791 | 3.700 |
Quais países estão melhor colocados no ranking da "pólvora"?
O Brasil ocupa a 10ª colocação do Índice Global de Poder de Fogo das Nações. Confira, abaixo, uma lista dos 20 mais bem colocados:
- Estados Unidos
- Rússia
- China
- Índia
- Japão
- Coreia do Sul
- França
- Reino Unido
- Egito
- Brasil
- Turquia
- Itália
- Alemanha
- Irã
- Paquistão
- Indonésia
- Arábia Saudita
- Israel
- Austrália
- Espanha
A festa da direita brasileira com a vitória de Trump: o que esperar a partir do resultado nos EUA
Trump volta à Casa Branca
Com Musk na “eficiência governamental”: os nomes que devem compor o novo secretariado de Trump
“Media Matters”: a última tentativa de censura contra conservadores antes da vitória de Trump
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião