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“Tapa na nuca” de filho de Moraes em empresário foi omitido pela PF, diz advogado
| Foto: Reprodução / Relatório da Polícia Federal

Com base em um laudo pericial feito a partir de imagens captadas pelo circuito de vídeo do Aeroporto Internacional de Roma sobre a confusão envolvendo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, o advogado Ralph Tórtima disse que a Polícia Federal (PF) omitiu cenas em que o filho do ministro agride o empresário Roberto Mantovani com um “tapa na nuca”.

O laudo pericial foi anexado ao inquérito do STF que apura a confusão, nesta segunda-feira (26), pelo advogado Ralph Tórtima, que representa o empresário.

O laudo é assinado pelos peritos independentes Mauricio Tadeu dos Santos e Ricardo Molina.

Ao conversar com a Gazeta do Povo, nesta terça-feira (27), o advogado Ralph Tórtima contou que só teve acesso às imagens no dia 13 de agosto de 2024, mais de um ano após o fato. 

Mesmo assim, a defesa continua impedida de fazer cópias do material mantido sob sigilo por ordem do relator do caso, o ministro Dias Toffoli.

Omissão de imagens

Questionado sobre os possíveis motivos pelos quais as imagens teriam sido suprimidas do relatório inicial, Tórtima disse que “diante da relevância e da nitidez das imagens, é difícil acreditar que tenha sido uma falha e não uma ação intencional”.

A perícia foi realizada no dia 13 de agosto durante diligência dos peritos e da defesa para visualização da íntegra das imagens mantidas pelo STF.

“Tal situação, do ponto de vista técnico-pericial, é totalmente inédita, visto que só se permitiu a visualização dos vídeos sem, contudo, haver a possibilidade de os peritos da defesa obterem uma cópia ou, ao menos, capturas de frames de relevância pericial [...] Não há qualquer risco em fornecer cópias dos arquivos questionados aos peritos da defesa, a não ser que outros interesses existam que transcendam a esfera estritamente técnico-pericial”, diz um trecho do laudo enviado ao STF. 

O laudo contradiz a versão apresentada por Moraes sobre a confusão, que relata um tapa de Roberto Mantovani nos óculos de Alexandre Barci, filho de Moraes.

De acordo com a perícia apresentada pela defesa do empresário, o suposto tapa do empresário teria sido um movimento imediato de reação à agressão de Alexandre Barci.

“A cena omitida, na qual Alexandre Barci agride Roberto Mantovani com um tapa na nuca foi presenciada por todos que se encontravam no recinto em que foram exibidos os vídeos. Dentre essas pessoas incluem-se os três servidores do STF que operavam o computador que reproduzia os arquivos de vídeo”, diz outro trecho do laudo.

“A cena foi repetida por pelo menos três vezes, inclusive em câmera lenta, para demonstrar que Alexandre Barci agride Roberto Mantovani com um tapa na nuca e, só depois de agredido, Roberto Mantovani, instintivamente levanta a mão para se proteger e afastar seu agressor resvalando nos óculos de Alexandre Barci. Não existe, no vídeo apresentado, agressão de Roberto Mantovani contra Alexandre Barci, ao contrário do que é relatado no relatório nº 004/23”, afirmam os peritos.

Laudo contradiz versão de Moraes

Segundo a acusação, a família Mantovani teria provocado e perseguido a família de Moraes. De acordo com o laudo, “as imagens mostram exatamente o contrário”.

“É Alexandre Barci quem sai da sala VIP e vai atrás de Roberto Mantovani [...] O vídeo não mostra Roberto Mantovani e sua família voltando pelo corredor e indo na direção da sala VIP para hostilizar Alexandre de Moraes e seus familiares. O vídeo mostra apenas Roberto Mantovani caminhando calmamente pelo corredor, bem à frente de seus familiares, no lado oposto ao da entrada da sala, sendo alcançado por Alexandre Barci”, diz outro trecho da perícia.

Os peritos também consideraram “inaceitável” a supressão das imagens por parte da PF, “pois impede a exata localização temporal dos eventos e a avaliação dos intervalos temporais entre eles".  

“Inaceitável também é a sistemática edição das imagens com cortes de setores dos frames originais. O relatório nº 004/23 não pode ser considerado sequer um laudo técnico, sendo antes uma mera ilustração de uma narrativa baseada nos depoimentos de Alexandre de Moraes e seus familiares e não uma análise realmente técnica, objetiva e isenta da realidade dos fatos”, dizem os peritos.

De acordo com o laudo, a análise das imagens feitas pela PF foi realizada por um agente da corporação que não é perito.

Defesa quer mostrar imagens durante julgamento

Também nesta segunda-feira (26), a partir das revelações trazidas no laudo, a defesa solicitou ao STF que lhe seja concedido apresentar as imagens na íntegra a todos os ministros da Corte durante sustentação oral quando do julgamento acerca do recebimento ou não da denúncia. 

“Nesse sentido, dado o sigilo imposto às imagens, a defesa não se opõe que tal ato se dê de forma reservada”, diz um trecho do pedido.

OAB volta a pedir fim do sigilo das imagens

Nesta segunda-feira (26), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) voltou a pedir ao ministro Dias Toffoli a retirada do sigilo das imagens da confusão no aeroporto de Roma.

O novo pedido da OAB foi feito em atendimento aos apelos da defesa de Roberto Mantovani Filho, Andreia Munarão e Alex Zanatta Bignotto. Os três são acusados de hostilizar o ministro do STF, Alexandre de Moraes. 

À Gazeta do Povo, o advogado Ralph Tórtima disse que ainda não houve posicionamento do ministro sobre o pedido da OAB.

O inquérito

O inquérito para apurar a confusão foi instaurado sob sigilo. No dia seguinte à confusão, o trio acusado por Moraes acordou com a Polícia Federal na porta. 

Como Roberto Mantovani Filho e Andreia Munarão já tinham um compromisso agendado para aquele dia, apenas Alex Zanata Bignotto compareceu à polícia para prestar depoimento no dia 16 de julho de 2023. 

No início de outubro de 2023, após apelo da OAB, Toffoli decidiu retirar o sigilo do inquérito, mas manteve em segredo as imagens do aeroporto enviadas pelas autoridades italianas que mostram a confusão.

Toffoli considerou que as imagens mostram “inúmeras pessoas, incluindo menores de idade”, que não teriam relação com o caso, e por isso, para manter a privacidade delas, optou pela não divulgação.  

Após seguidos apelos da defesa do trio, o ministro permitiu que o advogado Ralph Tórtima Stettinger Filho tivesse acesso às imagens apenas nas dependências do STF, sendo vedada a extração de cópia pela defesa e pelo Ministério Público. 

Em outubro de 2023, o advogado Ralph Tórtima disse que a investigação “tem lado”  e é “nitidamente direcionada” para favorecer uma das partes, em referência à versão apresentada pelo ministro sobre a confusão. 

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