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Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), promove choque de gestão para cortar gastos e elevar receitas sem elevar impostos.
Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), promove choque de gestão para cortar gastos e elevar receitas sem elevar impostos.| Foto: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dos nomes apontados como opção da direita para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2026, investe no controle do gasto público para devolver as contas do estado ao azul e tentar criar um novo diferencial do seu mandato. Analistas e políticos veem nessa postura de austeridade um possível contraponto à gestão de Lula, marcada pelo descontrole fiscal e pela relutância em adotar cortes de despesas.

Juntamente com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), o governador aparece na pesquisa Genial/Quaest*, de 13 de maio, como um dos favoritos para disputar a corrida presidencial pelo campo conservador, caso o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) continue impedido pela Justiça de concorrer. Tarcísio chega a empatar com Lula na preferência geral de entrevistados dentro da margem de erro dos levantamentos e tem ainda uma vantagem sobre Michelle devido a índices de rejeição menores.

Além de focar no combate à violência urbana, na melhoria do ambiente de negócios e na atração de pesados investimentos privados, o chefe do Executivo paulista lançou na semana passada um amplo plano para reduzir custos da máquina administrativa, por meio de ações que visam garantir disponibilidade de recursos no caixa estadual. São Paulo totalizou R$ 326,74 bilhões em receitas em 2023, contra R$ 328,59 bilhões em despesas, o que resultou em um déficit de R$ 1,85 bilhão no ano.

Especialistas consultados pela Gazeta do Povo afirmam que a intenção de conseguir melhores desempenhos com apertos orçamentários repete uma sistemática adotada por Tarcísio em sua gestão no Ministério da Infraestrutura. Por outro lado, os investimentos federais seguem escassos e sujeitos a contingenciamentos, além de serem executados em paralelo à expansão acelerada da dívida pública nos últimos anos, que já passou da marca de R$ 1 trilhão. A indiferença de Lula com o desequilíbrio financeiro é reforçada pelas suas mostras de preocupação com os rumos de seu projeto de reeleição.

Corte de gastos de SP alcança folha de pessoal e incentivos ficais

Os detalhes das diretrizes do “São Paulo na Direção Certa”, publicado na última quinta-feira (23) no Diário Oficial do Estado, ainda estão sendo estudados por técnicos, mas já tem seus alvos definidos. De início, o governo paulista planeja uma reforma administrativa com possíveis extinções ou reestruturações de órgãos públicos, revisão na política de cargos e salários e auditoria na folha de pagamento pela Secretaria de Gestão, chefiada por Caio Paes de Andrade, ex-presidente da Petrobras. Também será criada uma central de compras para fiscalizar os gastos públicos.

O secretário da Fazenda, Arthur Lima (PP), vai examinar os gastos públicos e propor em até dois meses cortes nas despesas com pessoal e custeio. Cada órgão do governo estadual deverá apresentar seu próprio plano para reduzir custos, sem percentual mínimo definido. Ficam de fora apenas as universidades públicas e a Fapesp. Para aumentar a arrecadação, o plano fará programas de renegociação de dívidas tributárias e a venda de imóveis.

Outra frente prevista pelo plano para reequilibrar as contas estaduais prevê uma profunda reavaliação dos benefícios fiscais, estimando com isso um acréscimo de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões em receitas anuais. A receita extra servirá, segundo o governador, às metas de geração de empregos e aumento da competitividade. Tarcísio também planeja dar mais autonomia às agências reguladoras, responsáveis pela fiscalização de contratos e serviços de Parcerias Público-Privadas (PPP), e enviará à Assembleia Legislativa anteprojeto para flexibilizar as agências.

O plano financeiro prevê ainda a renegociação das dívidas com a União e outros estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Atualmente, essas dívidas são atualizadas pelo IPCA mais uma taxa de juros de 4% ao ano. Tarcísio quer reduzir essa taxa para o IPCA mais 2% ao ano, o que geraria uma economia anual de R$ 4 bilhões. As mudanças específicas nos termos das dívidas serão apresentadas pela Secretaria da Fazenda, um esforço que promete resultados expressivos e de longo prazo.

Modelo austero de Tarcísio agrada mais a investidores

De acordo com o cientista político André Rosa, professor de Ciência Política na UDF, a ênfase de Tarcísio na gestão financeira pode não animar tanto o eleitor médio, que geralmente não percebe esse comportamento político como diferencial positivo. A formação de suas preferências na escolha do candidato tende, então, a se basear em outros fatores. “Esse discurso de austeridade é direcionado diretamente ao mercado financeiro, representado pela Avenida Faria Lima, e aos investidores internacionais, que buscam maior segurança fiscal para manter seus investimentos no país”, explicou.

Apesar disso, o especialista acredita que esse critério de avaliação pode chegar ao cidadão comum de forma indireta, devido à difusão das medidas de austeridade pelos canais de comunicação que acompanham os mercados diariamente, influenciando a formação de preferências eleitorais, especialmente entre os indecisos. “A estratégia é acertada, pois a falta de diferenciação do candidato pode levar à divisão de votos potenciais com concorrentes, erro cometido por outros, como Ciro Gomes (PDT)”, disse.

Antônio Flávio Testa, cientista político e professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), também receia que a austeridade pode não ser uma marca atraente para a maioria do público. “O clientelismo populista e o descompromisso com o futuro das contas públicas atingem um contingente maior de eleitores, que não trabalham e dependem do governo. Essa é a estratégia das esquerdas desde que chegaram ao poder”, sublinha. Na sua avaliação, Tarcísio até faz um bom governo, mas o alcance de suas ações repercute em estados mais produtivos e que concentram menos votos.

Testa avalia que, se a economia aprofundar sua crise e prejudicar o clientelismo de Lula, Tarcísio pode ganhar apoio em alguns setores. De qualquer forma, ele destaca que o governador já demonstra uma melhor performance em entregas de promessas de campanha do que o presidente, estando à frente do estado mais rico e populoso. “São dois candidatos muito diferentes. Lula parece estar conduzindo o país a uma crise sem saída, enquanto Tarcísio busca implementar soluções”, afirma.

Metodologia

* Os pesquisadores da Genial/Quaest ouviram presencialmente 2045 pessoas, com 16 anos de idade ou mais, entre os dias 2 e 6 de maio. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

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