Bolsonaro deseja lançar Tarcísio de Freitas, a cargos majoritários em São Paulo, mas o ministro da Infraestrutura pode acabar na disputa pelo Senado em Goiás| Foto: Alberto Ruy/MInfra
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Ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas virou uma espécie de "coringa" político do presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Mesmo sem nunca ter disputado um cargo eletivo, Tarcísio é visto como alternativa para a disputa de governos estaduais ou ao Senado em quatro estados: São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Tocantins.

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O principal desejo de Bolsonaro é lançá-lo candidato ao governo de São Paulo. A opção, contudo, enfrenta resistências dentro do PL, partido em que o presidente da República pode se filiar, e no PP, legenda presidida pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. A leitura feita por PL e PP, ambos partidos do Centrão, é que Tarcísio teria os votos dos eleitores mais fiéis a Bolsonaro, mas dificilmente conquistaria votos do chamado eleitor "médio", que tem um perfil menos ideológico e mais pragmático.

Apesar do alerta feito pelas cúpulas dos partidos aliados, Bolsonaro mantém vivo, ao menos no discurso, o desejo de ter Tarcísio como candidato ao governo de São Paulo. Não à toa o ministro virou um dos pivôs do impasse que motivou a suspensão da data de filiação de Bolsonaro ao PL.

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O partido presidido pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto deu "carta branca" para ceder a algumas exigências de Bolsonaro a fim de convencê-lo a se filiar. Mas, nos bastidores, é dito que o chefe do Planalto sabe que não terá apoio para lançar uma candidatura do ministro da Infraestrutura a um cargo majoritário em São Paulo.

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Por que Bolsonaro quer tanto Tarcísio como candidato em São Paulo

A ambição de Bolsonaro em ter Tarcísio de Freitas como candidato em São Paulo segue um cálculo político do núcleo-duro do presidente da República. Bolsonaro quer ter um palanque forte para seu projeto de reeleição e, ao mesmo tempo, ampliar sua base política no estado, que detém o maior colégio eleitoral do Brasil.

Os aliados do Centrão entendem, contudo, que a candidatura de Tarcísio não ampliará a base eleitoral de Bolsonaro em São Paulo além do tamanho existente. As cúpulas de PL e PP tentam convencê-lo de que seria mais estratégico lançar o ministro em outro estado onde ele possa ter maior favoritismo e agregar mais votos à chapa presidencial.

Embora não seja o cenário ideal para Bolsonaro, o presidente está convencido de que possa ser melhor ter Tarcísio disputando o Senado em Goiás, o 11º maior colégio eleitoral, com 7,2 milhões de habitantes. Essa possibilidade foi dialogada e negociada entre Bolsonaro e Valdemar Costa Neto na reunião que ambos tiveram na última semana.

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A candidatura do ministro da Infraestrutura ao Senado por Goiás está dentro dos acordos tratados entre Bolsonaro e Costa Neto envolvendo a filiação ao PL. Esse é um cenário trabalhado nos bastidores pelo Centrão junto ao presidente da República há pelo menos dois meses.

Em outubro, aliados da base ideológica e do Centrão informaram à Gazeta do Povo que o cenário traçado era ter Tarcísio na disputa pelo Senado em Goiás. E que, em São Paulo, a indicação de Bolsonaro para a vaga estaria entre a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL) e o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (MDB).

Em setembro, o próprio Tarcísio comentou sobre a possibilidade de sair candidato a senador por Goiás em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. "Vou caminhar junto com o presidente. Não sei se exatamente num governo de estado, não sei se exatamente em São Paulo. De repente no Parlamento, de repente em Goiás. Por exemplo, por que não o Senado em Goiás?", indagou o ministro, que também citou a possibilidade de disputa ao cargo por Mato Grosso.

Entre agosto e setembro, Tarcísio recebeu sondagens de partidos da chamada terceira via e admitiu que poderia disputar o cargo por Goiás. "Fiz o convite à época, mas ele recusou. Senti dele disposição e entusiasmo em disputar o Senado por Goiás, mas ele também tem ofertas para sair candidato [ao mesmo cargo] em Tocantins e Mato Grosso", diz uma liderança de um partido independente ao governo.

Quais as chances de Tarcísio sair candidato ao Senado e por que em Goiás

O possível ingresso de Bolsonaro no PL pode sacramentar também a filiação do ministro Tarcísio de Freitas — o convite, inclusive, já foi feito, afirma a deputada federal Magda Mofatto (PL-GO) à Gazeta do Povo.

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"O ministro Tarcísio de Freitas realmente demonstrou vontade de sair senador por Goiás. O presidente Bolsonaro também gostaria que ele saísse por Goiás e nós formulamos o convite, mas ele ainda não deu resposta se aceita ou não", diz Magda. "Ele escolheu Goiás porque tem muita afinidade com o estado e realmente, se ele assim decidir, será muito bem vindo", complementa.

A parlamentar confirma que Bolsonaro e Tarcísio sondaram, contudo, a candidatura ao governo de São Paulo, mas ela explica que não há uma decisão fechada. "Eles gostariam [da candidatura], mas são conscientes de que precisariam viabilizar a candidatura [ao governo paulista]", afirma Magda.

"Ainda têm arestas a serem aparadas e ficou por conta do presidente Valdemar Costa Neto apará-las. Não há uma decisão com relação a São Paulo, mas, de qualquer forma, o partido segue de braços abertos a ambos", acrescenta a deputada do PL.

Deputados próximos de Tarcísio sustentam, contudo, que a sondagem por São Paulo está pacificada e que o ministro está, de fato, convencido a sair candidato ao Senado por Goiás. "Por tudo o que ele fez, pela intimidade que tem com a bancada goiana [no Congresso], por ser um estado colado com Brasília, há toda uma logística política e também territorial que o agrada", diz um deputado aliado.

"O Tarcísio não quer sair candidato pelo governo [de São Paulo]. Ele quer ir ao Senado por Goiás porque acha que é uma 'guerra' mais provável de ser vencida", pondera um deputado da base governista. "Mas não está descartado ele sair candidato por São Paulo a pedido do presidente, caso consiga um acordo [com o Centrão]. O presidente quer que ele seja um calo no sapato dos opositores e garanta a ele um palanque fortíssimo", acrescenta o parlamentar.

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Embora tenha nascido na capital fluminense, Tarcísio sentiu da bancada goiana o respaldo para lançar sua candidatura pelo estado. "Foi a melhor gestão para Goiás de um ministro dos Transportes", diz um deputado goiano independente ao governo. Vários feitos são citados por aliados, a exemplo das obras da Ferrovia Norte-Sul, da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), do leilão da BR-153, da construção da ponte sobre o rio Araguaia, na BR-080, da nova concessão da BR-060 e a inauguração do Anel Viário de Aparecida de Goiânia (GO).

Os desafios que rondam a potencial candidatura do ministro ao Senado

Embora seja um nome com respaldo da bancada goiana no Congresso, Tarcísio terá desafios políticos pela frente se confirmar o desejo de ser candidato ao Senado pelo estado. O mesmo vale caso cogite uma candidatura por Mato Grosso, Tocantins ou mesmo São Paulo.

Em todos os estados, o principal obstáculo é a construção de um palanque. Em Goiás, por exemplo, Tarcísio precisaria compor com o governador Ronaldo Caiado (DEM/União Brasil), que tentará a reeleição em 2022. Favorito para vencer as eleições, ele se distanciou do governo federal e, à cúpula de seu partido, afirma ter cinco pré-candidatos ao Senado.

Ou seja, para ampliar suas chances de vitória ao Senado em uma eleição que terá apenas uma vaga em disputa em cada um dos 26 estados, além do Distrito Federal, Tarcísio e seu futuro partido precisarão trabalhar a composição de uma chapa com Caiado ou se unir a um candidato de peso.

Aliados de Caiado na Câmara afirmam que o governador poderia vir a apoiar Tarcísio, apesar de resistências a Bolsonaro. Contudo, o discurso no PSL — que se fundiu com o DEM no União Brasil (que ainda aguarda homologação) para lançar uma candidatura nacional de terceira via — é de não liberar as candidaturas majoritárias nos estados e manter uma coesão nacional.

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Outra obstáculo em Goiás é o desejo do deputado federal João Campos (Republicanos-GO) lançar sua pré-candidatura ao Senado. Aliado do governo, ele espera ter o apoio de Bolsonaro. Seu partido, que pode apoiar a candidatura do presidente, quer discutir as chapas majoritárias nos estados com PP e PL.

Uma alternativa apresentada a Tarcísio é o lançamento de candidatura por Tocantins, onde a senadora Kátia Abreu (PP-TO) irá à reeleição apoiada pelo PT. Outro conflito é o apoio dado a ela pelo diretório do PL no estado. Como o partido presidido por Ciro Nogueira pode ocupar a vice-presidência na chapa presidencial, Bolsonaro quer impedir qualquer candidato de uma legenda da coligação em ser apoiado pela esquerda.

Em Mato Grosso, o Centrão deve apoiar a candidatura do senador Wellington Fagundes (PL-MT) à reeleição. Em São Paulo, além da candidatura ao governo seguir indefinida, PL e PP também não fecharam a candidatura a ser lançada ao Senado, mas entendem que Tarcísio não é o nome ideal.

O que Bolsonaro acha da ideia de Tarcísio ser candidato ao Senado

Ter o ministro da Infraestrutura como candidato ao Senado não desagrada Bolsonaro. Tanto o presidente quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm como estratégia ampliar sua base aliada na "casa revisora" do Congresso.

Como senador, Tarcísio poderia retomar o cargo de ministro da Infraestrutura caso Bolsonaro seja reeleito. O presidente gosta do ministro e não abre mão de tê-lo na disputa de um cargo eletivo majoritário, pois o considera um quadro técnico, discreto, mas que sabe ser combativo com a oposição quando necessário.

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E na hipótese de não vencer as eleições, Bolsonaro também trata Tarcísio como um quadro político estratégico. O presidente entende que seu auxiliar é alguém que pode ser trabalhado e fortalecido na direita e no centro político como seu sucessor à Presidência da República em 2026.

Caso não seja reeleito, Bolsonaro também espera que Tarcísio possa compor sua "tropa de choque" como um senador que seja opositor ao governo vigente, defenda pautas conservadoras e mesmo propostas polêmicas, como reformas no Supremo Tribunal Federal (STF).