O governo de Jair Bolsonaro (sem partido) se iniciou em janeiro de 2019 com alguns pilares. Sergio Moro assumiu a Justiça referendado pelo trabalho na operação Lava Jato e na condição de "superministro". Com o mesmo status, Paulo Guedes tornou-se o titular da Economia com o objetivo de conduzir uma agenda reformista e liberal. A relação com o Congresso seguiria novos parâmetros, distante da "velha política" criticada pelo presidente durante a campanha eleitoral. Menos badalado foi um ministro militar, Tarcisio Gomes de Freitas, responsável pela pasta da Infraestrutura.
Com um ano e meio de gestão, parte desses pilares não se manteve de pé. Moro deixou o governo acusando o presidente e também recebendo acusações. A meta de reformas de Guedes pouco avançou. O presidente cedeu ao Centrão do Congresso, a ponto de dividir o Ministério da Ciência e dar a nova pasta, a das Comunicações, a um deputado do bloco.
Mas uma das circunstâncias que marcou o início do governo permanece inalterada: a celebração em torno do trabalho de Tarcisio na Infraestrutura. Ele assumiu o posto junto com o presidente e, logo nas primeiras semanas de mandato, foi obtendo popularidade, e um reconhecimento até mesmo entre adversários de Bolsonaro. O nome do ministro não foi cogitado em nenhuma especulação de reforma ministerial. E sua pasta também não teve a divisão considerada, como ocorreu com o Ministério da Ciência.
Tarcisio foi identificado como o militar mais popular na internet do governo Bolsonaro, superando nomes como o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Heleno. A constatação foi de pesquisa feita pela empresa Quaest, divulgada em reportagem do jornal O Globo. O levantamento verificou que Tarcisio se destaca pela quantidade de seguidores, pelo relacionamento com os usuários e pelo que a Quaest chama de valência: a proporção entre as interações positivas e negativas.
"O ministro chama atenção por sua capacidade de entrega. Está sempre em inaugurações de obras de sua pasta e em eventos públicos. Tem ações claras que mostram como está gerenciando a Infraestrutura do país. Em um governo muito permeado por episódios em que narrativas ganhem destaque, é simbólico que o ministro militar mais popular na internet trabalhe com ações concretas", disse a O Globo o CEO da Quaest, Felipe Nunes.
"Tarcísio asfalta até campo de futebol se deixar"
Perceber a popularidade de Tarcisio na internet é tarefa fácil. O ministro tem uma atividade grande nas redes, especialmente no Twitter, onde acumula mais de 617 mil seguidores – em uma conta criada há menos de um ano e meio. Freitas usa a rede social para divulgar as realizações de sua pasta. Apenas entre os dias 21 e 26, citou obras em Minas Gerais, Ceará, Piauí, Amazonas, Rondônia, São Paulo, Bahia, Maranhão, Acre e Mato Grosso.
As interações às suas postagens se contam aos milhares, e as mensagens são, via de regra, elogiosas. Internautas costumam celebrá-lo pela quantidade de obras entregues e por uma capacidade de trabalho que seria superior à média. Apelidos e brincadeiras são rotineiros: "Tarcísio asfalta até campo de futebol se deixar", "ele vai asfaltar o mar", "é o "Asfaltador-Geral da República".
Não raro, Tarcisio é também celebrado por figuras de ponta do bolsonarismo, como os dois filhos políticos do presidente da República mais ativos na rede, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O parlamentar por São Paulo entrevistou o ministro em seu programa "O Brasil precisa saber", publicada na internet no último dia 19. No ato da produção desta reportagem, o vídeo continha 78 mil visualizações - e comentários, em sua quase totalidade, positivos.
"Sem tempo" para polêmicas
Além de "Asfaltador-Geral", outro apelido que Tarcisio ganhou na internet é o de "ministro sem tempo, irmão": referência ao meme "sem tempo, irmão", e que indicaria uma espécie de pressa por resultados por parte do titular da Infraestrutura.
Tarcisio também tem se mostrado "sem tempo, irmão" para polêmicas, em um governo que conta com alguns ministros especializados em atrair holofotes por conta de assuntos não necessariamente positivos. Em uma gestão que ficou marcada pela divisão entre núcleos – ideológico, militar, técnico – o ministro conseguiu se posicionar acima da segmentação. Sua formação militar não necessariamente o vincula a ministros como Augusto Heleno e Braga Netto, mas também não o deixa tão distante dos fardados, do lado onde estão Paulo Guedes (Economia) e Ricardo Salles (Meio Ambiente).
O trabalho de Tarcisio chega até mesmo a ser poupado pela oposição. O nome do ministro não foi citado literalmente nenhuma vez pelos perfis no Twitter de PT e PCdoB desde o início do mandato de Jair Bolsonaro. Mesmo nos sites dos partidos, as menções ao titular da Infraestrutura são poucas; ele aparece lateralmente em alguns textos, com a citação mais recente, pelo PT, em abril deste ano, em uma reportagem sobre o plano pró-Brasil.
O projeto, inclusive, é a fonte de uma das principais – senão a única –controvérsias envolvendo o nome de Tarcisio ao longo do mandato de Bolsonaro. O Pró-Brasil foi apresentado nas primeiras semanas da quarentena motivada pela pandemia de coronavírus e motivou um choque entre a ala militar do governo e o ministro Paulo Guedes.
A proposta indicava a realização de investimentos federais de grande monta em diversos setores, com o objetivo de dinamizar a economia nacional após o término da pandemia. A linha da iniciativa contraria a atuação de Guedes, defensor de uma participação menor do Estado na economia. Tarcísio se colocou a favor do programa: mas, em entrevistas sobre o tema, disse que o pró-Brasil não comprometeria "pilares fiscais" do governo.
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