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Fernando Haddad ganhou o apelido de Taxad nas redes sociais
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ganhou o apelido de Taxad nas redes sociais| Foto: EFE/Andre Borges

A onda de chacotas e memes (imagens de humor) nas redes sociais dos últimos dias que grudaram no ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), a imagem de vilão dos impostos conseguiu alcançar um público que vai muito além dos críticos recorrentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao furar a chamada “bolha de direita” da internet, formada sobretudo por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), os ataques humorísticos e corrosivos contra Haddad, apelidado de “Taxad”, também expuseram as dificuldades do governo em reagir no meio digital, além de sua conhecida fragilidade de comunicação com o público nas redes sociais.

Para se ter uma ideia da magnitude da “onda Taxad”, ela superou todos os conteúdos publicados nas redes sociais sobre a Copa América, que alcançou 500 milhões de impressões (visualizações de página na internet). Segundo levantamento feito pelo cientista político Renato Dolci e divulgado pela CNN Brasil, em só quatro dias, os memes relacionados à obsessão do governo e do ministro da Fazenda em cobrar impostos registraram mais de 1,2 bilhão de impressões. Não por acaso, o fenômeno foi muito comentado pela imprensa e pela sociedade, consagrando-se como um fato político a indicar uma percepção de público mais amplo em relação ao governo.

As dificuldades dos governos petistas e da esquerda geral com a comunicação digital vem de muito tempo, ficando mais evidente com a agilidade e engajamento muito superiores aos seus adversários de direita. 

Os memes que incomodaram muito a gestão Dilma Rousseff estão presentes no atual mandato de Lula, que vem tentando, sem sucesso, se adaptar aos novos tempos, nos quais a interação com o público deve ser impactante e imediata.

Para superar essa defasagem e desvantagem em relação aos rivais na política e tentar se defender das ondas, como a sofrida por Haddad, o Palácio do Planalto chegou a encaminhar uma licitação de R$ 197 milhões com quatro agências especializadas em marketing digital, que acabou sendo suspensa por suspeita de vícios contratuais e suspeitas de favorecimento.

A série de mensagens difundidas em postagens nas redes sociais e mensagens de WhatsApp sobretudo exploraram a postura de Haddad em favor da majoração de impostos e em relação ao avanço da regulamentação da reforma tributária.

Em um dos memes, o ministro é comparado ao saudoso diretor de cinema e ator paulista de filmes de terror, José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Como “Zé do Taxão” e inúmeras outras sátiras relacionadas na maioria a grandes produções do cinema, o chefe da equipe econômica paga o preço por situações negativas criadas pelo próprio governo e que o deixaram mais susceptível a críticas.

A trolagem, uma gíria da internet pra ilustrar gozações, chegou até aos telões da Times Square, em Nova York, nesta quarta-feira (17). Segundo Dolci, as ferramentas de monitoramento de redes sociais identificaram que os primeiros memes de maior relevância surgiram no dia 3 de julho, com o “Zé do Taxão’”. Mas a explosão dos memes ocorreu em 12 de julho, com grande proliferação até esta quarta-feira (18). “Foram 11 milhões de menções no X, Instagram e Facebook. A Copa América inteira no Brasil gerou 7 milhões”, afirmou o pesquisador.

Ao menos dois temas em que Lula divergiu publicamente do seu ministro da Fazenda contribuíram para a torrente digital de piadas contra Haddad: a inclusão de todos os tipos de proteína animal, principalmente a carne vermelha, na cesta básica desonerada, com a qual a equipe econômica trabalhava contra, e a taxação de produtos importados até US$ 50, que foi aprovada com o apoio da Fazenda.

Memes com Haddad circularam muito nas redes sociais

Lula buscou apoio da opinião pública ao se posicionar aparentemente contra a taxação da carne e das chamadas “blusinhas”, mas acabou por expor ainda mais Haddad, que já vinha sendo criticado por outras iniciativas voltadas à cobrança de mais impostos e contra a desoneração previdenciária da folha de pagamento para 17 setores econômicos.

Para completar, veio a viralização dos memes, que se espalharam rapidamente entre vários usuários e conquista grande popularidade com seu humor. Embora o conteúdo não seja novidade na política, a velocidade e a forma como se propagam nas redes sociais são um desafio a mais para o governo.

Diante do volume incomum de associações de Haddad ao aumento da carga tributária, o secretário de comunicação do PT, Jilmar Tato, minimizou o fenômeno e disse que a pecha não iria pegar. Nos bastidores, contudo, o governo e o partido de Lula e do ministro se esforçavam para contra-atacar com postagens e insinuações de que tudo foi obra de agências de marketing digital, relativizando o caráter espontâneo das publicações.

Até o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), saiu em defesa de Haddad: “Se pegarmos a carga tributária de 2022 para 2023, ela não aumentou. Pode até dar uma conferida, acho até que caiu”.

Governo tenta contra-atacar também com memes

Em reação à avalanche de memes ligando o aumento de impostos a Hadad, o Ministério da Fazenda publicou nesta quarta-feira (17) uma série de memes do filme “Divertida Mente 2” para defender avanços da reforma tributária. Na postagem, a pasta exalta como avanços da regulamentação aprovada na Câmara na semana passada e os associando ao governo.

“Um mix de emoções envolveu todos os brasileiros com a grande conquista da Reforma Tributária após 40 anos. O Brasil agora terá um sistema tributário simples e justo”, descreve o texto da postagem, direcionando leitores para a página do governo com informações sobre a reforma.

A postagem usa emoções como nojinho, alegria, ansiedade e vergonha para contextualizar a trajetória para aprovação da medida e conclui afirmando que duas novas emoções foram ativadas: esperança e confiança.

A postagem da Fazenda ocorre quase um mês após o Banco Central (BC) também empregar memes de “Divertida Mente 2” nas redes sociais. Numa publicação de 25 de junho, o BC ressaltava a importância do compromisso com os gastos públicos, apresentando nova emoção entre os personagens chamada “vontade de gastar sem poder”.

Na última sexta-feira (12), durante evento em São Paulo, Haddad creditou a má avaliação de parte da população sobre a economia brasileira à desinformação na internet.

“Temos uma oposição que realmente atua para minar a credibilidade das instituições e dos dados oficiais do Estado brasileiro, e eles atuam diuturnamente nas redes sociais”, disse ele durante painel do 19º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo (Abraji). Nos bastidores, o ministro tem se posicionado como um dos maiores defensores da regulação das redes sociais.

Noutra frente, Lula tenta emplacar desde a sua posse em janeiro de 2023 um projeto de lei para regular as plataformas digitais. O texto do chamado “PL da Censura”, que tem apoio dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ficou perto de ir à votação no plenário da Câmara, mas acabou sendo retirado da pauta diante da grande rejeição das bancadas conservadoras, sobretudo a evangélica, e da má repercussão na sociedade. Um grupo de trabalho foi criado pelo presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), para tentar modificar o projeto até encontrar uma redação de consenso, mas sem nenhuma perspectiva de avanço.

Nesta semana, em entrevista à TV Record, Lula também voltou a falar em regulação das redes sociais.

“Possivelmente esta semana vou ter uma reunião com o meu ministro da Justiça para a gente discutir um critério de discutir com o Congresso Nacional, se a gente retoma aquele projeto que estava, se a gente vai apresentar uma outra proposta, se o Congresso vai apresentar uma proposta […] O dado concreto é que a gente não pode perder de vista a necessidade de fazer regulação”, afirmou o presidente.

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