O médico Nelson Teich pediu demissão do Ministério da Saúde na manhã desta sexta-feira (15). Ele não ficou nem um mês no cargo e deixa a função quando a quantidade de casos confirmados e mortes causados pelo coronavírus está em ascendência no Brasil. Nesta manhã, o agora ex-ministro havia sido chamado para um encontro com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no Palácio do Planalto. A reunião não estava na agenda. O comunicado de seu pedido de exoneração foi enviado pouco tempo depois, pela assessoria de imprensa da pasta. Uma coletiva de imprensa será marcada para esta tarde.
Teich assumiu o ministério em meados de abril, substituindo Luiz Henrique Mandetta, que vinha em uma sucessão de conflitos com o presidente Bolsonaro por discordarem de aspectos fundamentais ao enfrentamento da pandemia, como o isolamento social e o uso de medicamentos para o tratamento da doença – Bolsonaro defende o uso da cloroquina, independentemente das pesquisas médicas sobre a substância. O nome de Teich foi anunciado no dia 16 de abril e ele tomou posse no dia 17.
Esta semana, o Ministério da Saúde havia previsto a divulgação das diretrizes da pasta em relação ao isolamento social. Bolsonaro é favorável ao isolamento vertical, em que apenas idosos e pessoas do grupo de risco ficam em casa. A proposta da pasta encontrou resistência entre secretários estaduais de saúde e a apresentação foi cancelada.
Além disso, nesta sexta deve ser apresentado o novo protocolo em relação à cloroquina. Bolsonaro queria que seu ministro endossasse publicamente o uso da substância nos tratamentos da Covid-19, mas Teich não o fez. A pressão pela chancela à cloroquina teria motivado o seu pedido de demissão.
A tendência é de que Eduardo Pazuello, o militar que é o número 2 da pasta, assuma o cargo, ainda que interinamente. Nomes de outros cotados para a substituição de Mandetta voltaram a aparecer como possíveis novos ministros da Saúde, como o deputado federal e ex-ministro Osmar Terra (MDB-RS), a médica Nise Yamaguchi e o também médico Claudio Lottenberg.
Teich teve passagem apagada pela pasta
Apesar de curta, a passagem de Nelson Teich pelo Ministério da Saúde foi bastante apagada. Um dos pontos de conflito entre Mandetta e Bolsonaro foi o protagonismo do então ministro, que comandava longas coletivas diárias sobre a situação da pandemia no Brasil. Além disso, contrariava publicamente o presidente em relação aos pontos de discordância entre eles.
Teich adotou outra postura: falava pouco, tinha participação menos ativa nas coletivas e, principalmente, não contrariava Bolsonaro em público. Apesar desse comportamento, ele também não endossava medidas que são recomendadas pelo presidente.
De acordo com a CNN Brasil, Teich teria dito que esse era o dia mais triste de sua vida e que não mancharia a sua história por causa da cloroquina. Alguns dias antes, ele tinha usado seu Twitter para falar sobre o uso da substância. " Um alerta importante: a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais. Então, qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica. O paciente deve entender os riscos e assinar o “Termo de Consentimento” antes de iniciar o uso da cloroquina", ressaltou.
Vale ressaltar que Teich é médico oncologista formado pela Unidade Estadual do Rio e empresário, tendo fundado e presidido o Cento de Oncologia Integrado (COI) e o Instituto COI até 2018 e 2015, respectivamente. Foi consultor de saúde durante a campanha eleitoral de Bolsonaro.
Na articulação de ações para combater o coronavírus, Teich demorou alguns dias para se posicionar, dizendo que estava se colocando a par da situação. Quando ele assumiu a pasta, o Brasil tinha 30.425 pessoas contaminadas pela Covid-19. e 1.924. Até a quinta-feira (14), esse número saltou para 202.918 casos confirmados e 13.993 mortes.
Dificuldade de interlocução com secretários estaduais e parlamentares
O ministro Teich também teve dificuldades em estabelecer uma relação com os secretários estaduais de saúde, parlamentares e autoridades do SUS. Ele era visto com desconfiança por esses interlocutores, com quem fez algumas reuniões e videoconferências. Os relatos eram de que lhe faltava conhecimento da gestão pública e que ele tinha uma atuação tutelada por militares e pelo Palácio do Planalto.
Sempre ao lado do general Eduardo Pazuello, "número 2" no ministério, Teich sai pela tangente quando confrontado por assuntos mais espinhosos, como fim da quarentena e compra de respiradores. Secretários de Estados e de municípios dizem que o verdadeiro ministro da Saúde parece ser Pazuello, pois em reuniões, o militar trata sobre o que a pasta de fato entregará. Teich usa termos vagos, segundo estes interlocutores, e afirma que "busca dados" ainda para praticamente todas as situações.
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