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O ministro da Saúde, Nelson Teich, respondeu a questões de senadores em audiência pública no Senado nesta quarta-feira (29). Segundo ele, a tendência de afrouxar isolamento em alguns lugares do Brasil se deveu a orientações de governadores, e não de seu Ministério.
Teich afirmou que sua pasta nunca alterou o plano da gestão que o antecedeu, do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. “O Ministério da Saúde nunca mudou a orientação original de manter o distanciamento. Essa orientação vem sendo mantida, e onde a gente está vendo uma alteração em relação a isso é na decisão dos governadores. Isso não é uma decisão nossa. A nossa orientação, desde o começo, é o distanciamento”, disse. “O que eu quero deixar claro é: a gente, como ministério, nunca se posicionou pela saída do distanciamento”, reiterou.
Sobre quão alinhado ele está com o presidente Jair Bolsonaro, Teich foi vago. "O presidente está preocupado com as pessoas. Ele está preocupado com a sociedade. Eu não vou discutir aqui o comportamento [do presidente], mas eu posso dizer que ele está preocupado com as pessoas e com a sociedade. O alinhamento é nesse sentido”, afirmou.
"Não posso responder superficialmente a perguntas complexas", diz Teich
Teich atendeu a um convite que partiu de requerimento feito pela senadora Rose de Freitas (Podemos-ES). A própria senadora iniciou a sessão de questionamentos, fazendo um apelo para que o ministro fosse claro em relação à sua opinião sobre o tipo de isolamento que deve ser aplicado no Brasil. “Eu queria que o senhor me dissesse com toda a clareza a sua posição em relação ao ‘fique em casa’”, disse a senadora.
Em resposta à indagação, Teich afirmou: “Eu posso responder a qualquer pergunta. Eu só não posso responder superficialmente a perguntas complexas”. Por enquanto, Teich não sinalizou adesão total à ideia de isolamento vertical proposta pelo presidente, embora sua opinião sobre a retomada de atividades seja mais próxima à de Jair Bolsonaro que a do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
“O isolamento é uma ferramenta. Ele é bem usado ou mal usado. Na prática, o que a gente vai discutir quando cria uma política, quando cria uma diretriz, é definir para cada tipo de situação se deve ficar em casa ou não. E você tem que separar isso por segmento da população. Porque tem pessoas que fazem atividades críticas que não vão poder ficar em casa”, explicou Teich.
O novo ministro afirmou que quer propor “uma diretriz, uma sugestão de como abordar o distanciamento, o isolamento”. “Você simplesmente perguntar se fica em casa ou se não fica em casa, isso é simples demais. Isso é uma resposta simplista para um problema que é extremamente heterogêneo”, disse.
Segunda onda é possibilidade real, diz Teich
O ministro comentou estudos que indicam a possibilidade de uma segunda onda da doença no Brasil. Ele disse que a possibilidade de uma segunda onda “é real”, mas disse que ainda não é possível afirmar se haverá uma nova onda da Covid-19 no Brasil.
“Existem estudos feitos fora do país, na Dinamarca, por exemplo, onde quem foi doar sangue teve seu teste feito. Chegou-se a um número de 18% [de contaminados]. Se a imunidade vem com 60%, 70% ou 80%… Até os números eles não são tão precisos. Dependendo do artigo que você lê, ele te dá um número diferente. Se a gente vai imunizar, digamos que a gente vai imunizar 18%, 20%, isso é muito longe dos 60, 70, 80. O que te deixa em alerta para a possibilidade de uma segunda onda. Ela é real”, disse.
Teich lembrou que “já existem relatos isolados de pessoas que tiveram a doença duas vezes” e ressaltou que nem os testes são confiáveis. “O teste para avaliar o soro, o teste da gotinha, ele tem um nível de erro enorme. A sensibilidade dele é baixa. Tem teste com 30%. O que é isso? De 100 pessoas com a doença, eu testo 100 com a doença, só dá positivo em 30. A minha capacidade para entender o que eu estou fazendo de exame é difícil”, afirmou.
Teich minimiza estudo que aponta Brasil como líder em contágio
O ministro minimizou a importância de um estudo divulgado nesta quarta-feira (29) que indica que o Brasil tem a maior taxa de contágio entre 48 países. O estudo foi realizado pelo Imperial College, de Londres.
Para Teich, há pouca precisão nas projeções matemáticas que têm sido feitas por essa e outras instituições. “Esse é o problema da modelagem matemática. Você cria números aterrorizantes, e as pessoas se fixam naquilo. E aí você acaba até tomando decisões em cima de números que são absolutamente irreais.”
"Quando é que vai ser o pico? Não sei e ninguém sabe", diz ministro
O ministro rejeitou a ideia de que seja possível projetar com confiabilidade um pico da doença no Brasil. “Quando é que vai ser o pico? Não sei e ninguém sabe. Não sou eu que não sei. Ninguém sabe”, disse.
Segundo Teich, as datas projetadas pelos estudos matemáticos “são simplesmente suposições em cima de modelos”. “Cada lugar vai ter uma curva”, afirmou.
Para ele, fazer uma projeção regionalizada, em vez de nacional, é importante para planejar medidas e aquisições. Saber as diferenças de estágio da evolução da doença pode permitir que o governo antecipe a possibilidade de equipamentos serem transferidos de um lugar para o outro.
“Na hora em que você começar a ter queda em alguns lugares, você já vai poder começar a remanejar aparelhos para outros lugares onde a doença pode estar começando. E aí, em vez de você sair comprando tudo para todo o mundo, você compra uma parte e aquilo vai sendo redistribuído de acordo com a necessidade e de acordo com a sua capacidade de enxergar essa evolução”, disse.
Senadores criticam falta de clareza
Vários senadores fizeram críticas às respostas dadas por Teich durante a audiência, especialmente em relação à sua falta de clareza. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), por exemplo, enxergou “dubiedade” nas declarações do ministro, que, para ele, estão “fazendo uma confusão enorme na cabeça das pessoas”.
"Estou tremendamente frustrado em relação às respostas que vossa excelência deu até o momento. Eu o respeito, respeito como profissional, mas acho que há uma dubiedade aí muito séria”, afirmou. "Não é momento para indecisão. Precisa ser claro e passar para o país uma mensagem clara da autoridade máxima do Ministério da Saúde. Isolamento social: sim ou não? Se é por região, quais as regiões que têm, quais as regiões que não têm?”, acrescentou o senador.
A senadora Kátia Abreu (PP-TO) reiterou as críticas de Jereissati. "Não estou satisfeita com as suas respostas. Respeito seu currículo, respeito a sua história, mas, sinceramente, eu quero saber: isolamento ou não isolamento?", questionou ela.