As falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de membros do PT classificando o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff como "golpe" causaram desconforto em integrantes do MDB nos últimos dias. Apesar disso, a avaliação no Palácio do Planalto e entre emedebistas é de que as declarações não devem impactar diretamente na relação do partido com o governo federal.
Na semana passada, durante visita ao Uruguai, Lula chamou o ex-presidente Michel Temer de "golpista" ao criticar políticas adotadas pelo sucessor de Dilma. "O Brasil não tinha mais fome quando deixei a Presidência e hoje temos 33 milhões de pessoas passando fome. Isso significa que tudo que fiz de política social durante 13 anos de governo foi destruído em sete anos. Três do golpista Michel Temer e quatro do governo Bolsonaro", declarou o petista em Montevidéu.
A crítica, no entanto, não é exclusividade de Lula dentro do Planalto. Na última terça-feira (31), o ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo, também chamou o impeachment de Dilma de golpe.
"O desmonte da participação social no governo federal começou com o golpe de 2016 que destituiu uma presidenta legitimamente eleita e se acentuou em 2018 com a vitória de um candidato da extrema-direita”, disse o ministro durante evento.
Ouvidos pela Gazeta do Povo, integrantes do MDB classificam as falas de Lula e de integrantes do PT como "equivocadas", mas descartam, neste momento, qualquer desembarque do governo petista. A avaliação interna é de que o partido de Michel Temer conta com quadros de prestígio por parte de Lula e não há constrangimento entre os emedebistas que ocupam postos na Esplanada dos Ministérios, pelo contrário.
Ainda assim, um dos líderes do MDB no Congresso avaliou que Lula não deve fazer seu governo olhando para o "retrovisor". Reservadamente, o emedebista classificou as declarações do presidente e de integrantes do PT contra Temer como uma "provocação desnecessária" no momento em que o governo precisa ampliar a base dentro da Câmara e do Senado.
Ministérios "robustos" silenciam reações do MDB
Dentro do Palácio do Planalto, aliados de Lula avaliam que os ministérios "robustos" entregues ao MDB contiveram as reações da cúpula do partido neste primeiro momento. Ao todo, o partido de Temer conta com três pastas na Esplanada: Cidades, com Jader Filho; Planejamento, com Simone Tebet; e Transportes com Renan Filho.
Para integrantes do PT, a narrativa de que o impeachment de Dilma foi um golpe não se estende diretamente aos aliados emedebistas, mas para quadros do partido como Temer e o ex-presidente da Câmara e ex-deputado Eduardo Cunha. Contudo, aliados de Lula avaliam que o "apetite" dos emedebistas por mais espaço no governo pode crescer na medida em que a necessidade de apoio dentro do Congresso Nacional aumentar também.
A busca por mais espaço tem travado, inclusive, uma queda de braço entre petistas e emedebistas dentro da Secretaria de Habitação do Ministério das Cidades. O setor é responsável pelo Minha Casa, Minha Vida, programa habitacional criado na gestão do PT, mas que está sob o guarda-chuva da pasta comandada pelo MDB. Enquanto aliados de Lula buscam emplacar um integrante petista, o ministro Jader Filho tem sinalizado que não pretende abrir mão da indicação.
Entre os emedebistas, o ex-ministro Maurício Quintella Lessa vem sendo apontado para o posto como uma indicação do líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL). Em meio a disputa, a Casa Civil prepara uma agenda para que Lula faça o lançamento do programa na Bahia, no dia 14 de fevereiro.
MDB tratou as críticas de Lula contra Temer de forma interna
Publicamente, as reações do MDB contra as falas de Lula vieram apenas por parte do ex-presidente Michel Temer. Em nota, o emedebista afirmou que recuperou o país da maior recessão da história e que o episódio na verdade tratou-se de um "golpe de sorte".
No texto, Temer afirmou ainda que Lula "parece insistir em manter os pés no palanque e os olhos no retrovisor" e tenta "reescrever a história por meio de narrativas ideológicas". "Ao contrário do que ele disse hoje em evento internacional, o país não foi vítima de golpe algum. Foi na verdade aplicada a pena prevista para quem infringe a Constituição", escreveu o ex-presidente.
Durante o processo de impeachment, que ocorreu em 2016, Dilma foi condenada à perda do cargo por ter cometido crime de responsabilidade fiscal comas chamadas "pedaladas fiscais" no Plano Safra e nos decretos que geraram gastos sem autorização do Congresso. Nas redes sociais, o perfil do MDB apenas compartilhou as declarações de Temer, mas o presidente nacional do partido Baleia Rossi (SP) optou por não se manifestar publicamente sobre o assunto.
Internamente, aliados de Rossi avaliam que o emedebista tem se empenhado em construir uma base de apoio para que o governo Lula avance com a aprovação da reforma tributária. O deputado paulista é um dos autores de uma das propostas que tramitam na Congresso Nacional sobre o tema.
Para essa ala do MDB, o discurso de Lula e de integrantes do PT sobre "golpe" contra Dilma não desgastam os emedebistas, mas apenas o próprio governo diante de outros partidos. O presidente do União Brasil, Luciano Bivar (PE), disse que Lula “foge da realidade factual”. Assim como o MDB, a sigla de Bivar também conta com três pastas no governo petista.
"Eu não sou antropólogo e nem outro estudioso qualquer da natureza humana. Mas ninguém foge à realidade factual. Fugir disso é negar a sociologia, a antropologia e todos os estudos que dizem respeito à sociedade em evolução", disse Bivar ao jornal O Globo sobre as declarações de Lula.
Governo Lula tem 7 ministros que apoiaram impeachment de Dilma
Apesar das críticas de Lula a Temer, o atual governo petista conta com ao menos três ministros que votaram pelo o impeachment de Dilma Rousseff no Congresso Nacional. Entre eles, Simone Tebet, que em 2016 ocupava uma cadeira no Senado pelo MDB.
"Por todo o mal que causou e está causando à população brasileira, eu voto a favor do impeachment da senhora presidente da República. Mas, mais que tudo, voto na esperança. Na esperança de melhores dias", declarou Tebet à época.
Os ministros André de Paula (Pesca) Juscelino Filho (Comunicações) também foram favoráveis ao afastamento de Dilma durante a votação da Câmara. À época, ambos ocupavam cargos de deputados federais.
"Pela minha família, pelos meus amigos e colegas médicos, pelo povo do meu querido estado, o Maranhão, que me deu a oportunidade de representá-lo hoje neste momento histórico, em especial pela minha querida Santa Inês e por Vitorino Freire, por um futuro melhor para o nosso Brasil, meu voto é sim", discursou Juscelino em 2016.
Além do trio de ex-parlamentares, outros quatro ministros do governo Lula chegaram se manifestar publicamente em defesa da cassação de Dilma. O atual vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin; José Múcio (Defesa); Carlos Fávaro (Agricultura) e Marina Silva (Meio Ambiente).
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