A intervenção do presidente Jair Bolsonaro no reajuste do diesel é reflexo direto da pressão dos caminhoneiros. Nos dias que antecederam a decisão do presidente, o núcleo de governo recebeu relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que indicavam uma "preocupação" com uma possível greve dos caminhoneiros. Sem consultar o ministro da Economia, Paulo Guedes, Bolsonaro foi aconselhado por assessores palacianos de que uma greve traria mais problemas políticos do que uma intervenção no preço do diesel.
O monitoramento do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência das movimentações de caminhoneiros, desde o mês passado, levou a equipe de governo a avaliar todas as demandas da categoria. Além de recuar em relação ao aumento de 5,7% no preço do diesel, o Planalto e o Ministério de Minas e Energia estudam atender outros pedidos, como a mudança no valor do frete.
O temor de uma greve como a de maio de 2018 já estava no radar da equipe de transição, no final do ano passado. Foi a partir dali que o grupo que hoje está no governo começou a formular a adoção de "medidas estruturantes", que envolviam várias áreas, para verificar os problemas do setor e atender o que fosse possível.
Na segunda-feira (15), Bolsonaro vai se reunir com ministros e pessoal da área técnica para discutir demandas dos caminhoneiros. O governo estuda apresentar à Petrobras proposta de ampliar a rede de decisão de aumento de preços de combustíveis. Hoje, o gerente executivo de comercialização da Petrobras tem autonomia para definir um reajuste de até 7%.
Aumento
O alerta no Planalto foi aceso na tarde de quinta-feira (11), quando o reajuste de 5,7% foi publicado no site da Petrobras. Precisamente às 19h40, Bolsonaro foi avisado por assessores do aumento. Ele ligou então para o presidente da Petrobras, Roberto Castelo Branco, "preocupado com o porcentual em um nível sequer previsto para a taxa de inflação deste ano". Diante das argumentações e ponderações de Bolsonaro, Castello Branco "suspendeu temporariamente" o reajuste.
Justamente para atender a um problema do setor, desde o mês passado a Petrobras já havia decidido estabelecer que o diesel não terá seu preço reajustado em período menor do que 15 dias. Além disso, a Petrobras e a BR Distribuidora anunciaram a criação do "cartão caminhoneiro", com objetivo de viabilizar a compra de diesel a preço fixo nos postos com a bandeira BR.
Repercussão
Um dos principais líderes dos caminhoneiros, Wallace Landim, o Chorão, telefonou na tarde de quinta-feira para um assessor do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para reclamar do aumento de preço do diesel. Nesse contato, foi informado que a queixa seria levada ao presidente Jair Bolsonaro por Onyx e pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Floriano Peixoto. O recuo da Petrobras de aumentar o valor do combustível foi anunciado à noite. "Isso prova que mais uma vez o presidente está do nosso lado", disse.
Wallace disse que mantém contato com integrantes da Casa Civil desde o mês passado, quando levou demandas da categoria. O período em que iniciou o diálogo entre caminhoneiros e a Casa Civil, em março, coincide com o momento em que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) passou a monitorar com mais atenção os riscos de uma nova greve da categoria.
O governo quer que uma nova paralisação tome as mesmas proporções da que ocorreu em maio de 2018. O estopim, na época, foi justamente as altas do preço do diesel. A avaliação de um integrante do governo é de que os caminhoneiros "conheceram a sua força" na última greve e que agora possuem maior poder de negociação. Sobre a possibilidade de uma nova greve, Wallace disse que a categoria toda está "sofrendo" e "insatisfeita". "Isso vem de longa data, tanto que tivemos que parar no ano passado", disse Chorão.
À Casa Civil, o líder dos caminhoneiros pediu o cumprimento do piso mínimo de frete, da jornada de trabalho e do fornecimento de pontos de parada adequados e também uma mudança na política de preços da Petrobras. Wallace Landim elogiou a iniciativa do governo de criar o cartão-caminhoneiro, há cerca de duas semanas mas disse que isso "não resolve o problema 100%".
Campanha
Wallace lembrou que a categoria atuou na campanha de Jair Bolsonaro. "É um comprometimento que ele tem com a categoria", disse. O líder dos caminhoneiros contou que o assessor da Casa Civil deixou claro que a categoria "sempre terá o respeito e respostas imediatas" do governo. "A gente sabe que não é uma situação muito fácil, vem chumbo grosso por aí, pode ter certeza porque querendo ou não interfere na política de preços (da Petrobras)", disse Chorão.
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