Abordagens mais extremas sobre a Covid-19, como por exemplo as que enquadram a pandemia de coronavírus como uma armação do Partido Comunista Chinês ou o número de mortos como uma contagem inflada artificialmente para beneficiar políticos pelo Brasil, não encontram eco — ao menos até o momento — na CPI da Covid no Senado que investiga a crise sanitária.
Um posicionamento que exemplifica o quadro veio com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na última terça-feira (18). Ele abriu seu pronunciamento na comissão prestando solidariedade às famílias que perderam pessoas em razão da pandemia de coronavírus.
Em um momento posterior da mesma fala, negou que seu pai, o presidente Jair Bolsonaro, tenha chamado a Covid-19 de "gripezinha": segundo o parlamentar, Bolsonaro disse que a Covid-19 seria uma "gripezinha" apenas no caso dele próprio, e seu comentário não diminuía "o sentimento que ele sente de pesar e de luto por aqueles que se passaram".
As linhas de raciocínio de Flávio e dos outros senadores governistas na comissão têm sido, entre outras, as de dizer que a gestão de Bolsonaro fez o possível para a compra de vacinas e de que os principais problemas que o Brasil vive com a pandemia são resultado de desvios e erros cometidos por prefeitos e governadores. O elemento mais controverso citado pelos governistas é o da defesa do chamado tratamento precoce, materializado pela cloroquina, que também permeia grande parte das discussões.
Neste aspecto, a postura dos governistas da CPI difere bastante da verificada por apoiadores do presidente Bolsonaro nas redes sociais, em protestos ou mesmo na Câmara dos Deputados. A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), por exemplo, escreveu em seu perfil no Twitter em dezembro que "vacinas do covid-19 são experimentais e algumas inclusive trazem inovações desconhecidas em seres humanos como as vacinas NRA, que podem afetar o DNA".
A parlamentar também gerou controvérsia ao, em janeiro, protagonizar um vídeo em que ensinava "um truque" para não se usar máscaras em ambientes públicos. Kicis dizia que sempre carregava uma garrafa de água e, quando estava sem a máscara e era abordada, dizia que estava apenas bebendo um gole e já recolocaria o item. No mesmo vídeo ela dizia "quero respirar".
Em março, Kicis teve um vídeo de seu canal no YouTube excluído pela plataforma sob a alegação de desinformação. A peça continha uma entrevista com o médico Alessandro Loiola, que escreveu o livro "Covid-19: a fraudemia". Na publicação, Loiola define a pandemia como um embuste e diz que as orientações passadas à população são uma tentativa de manipulação.
Em atos pró-governo, como o ocorrido em Brasília, no último dia 15, e no Rio de Janeiro, no último domingo (23), são verificadas habitualmente manifestações contra diretrizes como o uso de máscaras, a vacinação e as medidas de isolamento social.
Manifestantes também costumam contestar o número de mortos pela pandemia. Alegam que pessoas que morreram em virtude de outras doenças tiveram seus atestados de óbito modificados para que a Covid-19 fosse citada como a causa mortis, ou mesmo que mortes foram artificialmente criadas.
No início do ano, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), em entrevista à TV Bandeirantes, disse que o Ceará estava registrando enterros de caixões vazios.
CPI da Covid não apura "teorias plantadas nas redes sociais", diz senadora
O fato de a CPI da Covid não ter sido palco para teorias extremas não é uma surpresa para a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), alinhada ao governo Bolsonaro. "Uma CPI investiga fatos determinados. Essa, especificamente, é para apurar ações e omissões a respeito do enfrentamento da pandemia, inclusive na aplicação dos recursos federais enviados a estados e municípios. Sabendo disso, é de se compreender que o objeto da CPI não é apurar teorias plantadas nas redes sociais", disse.
A parlamentar afirmou que as abordagens extremas não têm sido rotina entre seu eleitorado. Já o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), também próximo ideologicamente do presidente da República, definiu os olhares mais exagerados sobre a pandemia como "teorias de conspirações, ou seja, fatos sem nenhum tipo de embasamento científico" — e, para ele, a CPI não deve avançar nestes itens, "sob perda de foco e energia".
"Tratar de factoides ou declarações como essas não ajudará em nada nos objetivos da comissão. A CPI, como procedimento parlamentar investigatório, tem que se ater a fatos determinados", disse.
"Eles são valentes na internet", ironiza senador do PT
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), o fato de as teorias extremas não estarem fazendo parte da CPI da Covid diz respeito ao que ele ironizou como "criatividade" da base bolsonarista. "Eles são muito valentes na internet. Quando são confrontados pessoalmente, negam o que falaram", disse.
O petista mencionou especificamente o depoimento do ex-ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, que foi confrontado por conta de um artigo em que falou sobre os supostos perigos do "comunavírus", referência ao Partido Comunista Chinês. À CPI, o ex-chanceler negou que tenha atacado a China, e disse que os termos de seu artigo eram uma replicação de expressões utilizadas por outro autor.
"Nós questionamos. Ele negou, mas está tudo ali. Não só ele, mas o Bolsonaro, que também andou falando da China, falou que o vírus foi criado em laboratório, que o objetivo é dominar o mundo, esse tipo de coisa", acrescentou Costa.
O senador Angelo Coronel (PSD-BA) disse que a internet está "infestada de fanáticos" e que não é objetivo da CPI rechaçar os boatos que circulam pela rede. O parlamentar acredita que as teorias extremas devem permanecer distantes da comissão: "os depoimentos deverão ser focados em investigar as negligências e responsabilidades quanto a não compra de insumos e vacinas desde o início da pandemia".
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF