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Eleições 2022

Terceira via discute impeachment de Bolsonaro como única forma de derrotar Lula

Fitas a favor do impeachment de Dilma
Fitas a favor do impeachment de Dilma: movimentos que foram às ruas contra a petista agora chamam manifestações contra Bolsonaro. (Foto: Gazeta do Povo/Arquivo)

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Líderes partidários envolvidos nas negociações pela terceira via nas eleições de 2022 começam a encampar um movimento favorável ao impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Até então defendida pelos partidos de esquerda, a cassação de Bolsonaro tem sido a saída apontada por parte do grupo que pretende lançar um candidato de centro como única forma de evitar a vitória do ex-presidente Lula (PT) no ano que vem.

A um ano das eleições, pesquisas de diversos institutos confirmam o cenário de polarização entre Bolsonaro e Lula. Com isso, a tendência até o momento é de que a disputa de segundo turno fique entre o petista e o atual presidente.

Sem consenso sobre uma candidatura única no campo de centro, vários nomes começam a ser testados por diversas legendas como alternativa para 2022. Até o momento, são vistos como potenciais candidatos da terceira via o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM), o apresentador José Luís Datena (PSL), a senadora Simone Tebet (MDB), os governadores João Doria (PSDB-SP) e Eduardo Leite (PSDB-RS) e até o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM).

Além dessas legendas, uma candidatura alternativa a Lula e a Bolsonaro conta com o apoio de partidos como o Cidadania, PV e o Novo.

Reservadamente, líderes desses partidos avaliam que o favoritismo de Lula para 2022 só vem crescendo por causa da condução de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia de Covid-19. Além disso, o petista estaria conseguido diminuir a sua rejeição diante do crescimento da impopularidade do governo.

Mas Bolsonaro ainda tem mais força para chegar a um segundo turno do que qualquer opção da terceira via – o que levaria à eleição de Lula. Mas, numa disputa de algum nome do centro contra o petista, há chance maior de evitar a vitória de Lula. Por isso, o impeachment de Bolsonaro seria a alternativa para impedir a volta do petista à Presidência.

Pesquisa divulgada neste mês de julho, da Quaest Consultoria e encomendada pelo banco Genial Investimentos, mostrou que 57% dos eleitores não pretendem votar nem em Lula nem em Bolsonaro na pesquisa espontânea – que é quando os entrevistados não recebem as opções de candidatos. Como são mais de 50%, isso indica uma grande possibilidade de a terceira via sair vitoriosa.

Apesar disso, quando cotados da terceira via são testados em pesquisas, nem sempre essa possibilidade se concretiza. Levantamento do Poder Data de julho mostrou Lula como favorito em um segundo turno contra Ciro Gomes e contra João Doria, por exemplo. Outros pré-candidatos não foram testados.

Em um segundo turno, Lula teria 51% dos votos contra 17% de João Doria. Brancos e nulos seriam 31% e os que não sabem são 1%. Já com Ciro Gomes, o petista teria 48% e o pedetista 15%. Brancos e nulos somam 35%, enquanto os que não sabem são 2%.

Terceira via quer ocupar as ruas pelo impeachment de Bolsonaro

Como forma de pressionar pelo processo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, os partidos de centro e centro-direita prometem intensificar as manifestações de ruas contra o atual governo. Ao lado do Movimento Brasil Livre (MBL) e do Vem Pra Rua, essas lideranças pretendem atrair o eleitorado que até o momento não tinha aderido aos protestos dos movimentos de esquerda.

O primeiro ato contra Bolsonaro organizado pelo centro e centro-direita está marcado para 12 de setembro e deverá contar com a adesão de diversos políticos que até então não tinham participado dos atos anteriores. Disputando as prévias do PSDB, João Doria defendeu a convocação dessas manifestações.

“Eu apoio a manifestação do dia 12. Se Bolsonaro não sair pelo impeachment, ele sai pelo voto”, afirmou o tucano, que reforçou que há “crimes suficientes” para o afastamento do presidente, mas que “não há impeachment sem gente na rua”.

Outro nome que tem defendido as manifestações pelo impeachment é o presidente do Novo, João Amoedo. A bancada do partido na Câmara se posicionou favorável ao afastamento de Bolsonaro.

“Acho que a tese do impeachment tem ganhado força. Está se criando o clima político para isso. Eu entendo que a reconstrução do Brasil começa por um pedido de impeachment do Bolsonaro. A gente não vai sair dessa polarização enquanto não acontecer a saída dele do governo, devido a tudo que ele tem feito e, sobretudo, pelo que não tem feito. Agora, o partido amadureceu essa tese com o acúmulo de crimes cometidos pelo presidente”, disse Amoedo à revista Veja.

Mas nem todos os participantes da tentativa de construir uma candidatura de terceira via acha que esse é o momento certo. Resistente a aderir aos movimentos de rua por causa da pandemia do coronavírus, o ex-deputado e ex-candidato a presidente Eduardo Jorge (PV) acredita que o impeachment de Bolsonaro pode ser aberto só com articulação política. “Eu era líder do PT no impeachment do [ex-presidente Fernando] Collor. Tínhamos mapeado cada deputado, qual era a posição, pedíamos que o pessoal que defendia o impeachment fosse lá, conversasse. É possível fazer, com as redes sociais. Não vamos parar a luta pelo impeachment, mas não é ainda hora de ir para a rua. Pode ser que em outubro, ou novembro. Agora não”, afirmou Eduardo Jorge ao jornal Folha de S. Paulo.

Pacheco tenta se desvencilhar do governo

Eleito presidente do Senado no começo deste ano com apoio do governo Bolsonaro, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) já começa a se desvencilhar do Palácio do Planalto. De acordo com interlocutores, o mineiro intensificou negociações com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e não descarta a troca de legenda para disputar a Presidência em 2022.

O entorno do presidente do Senado afirma que ele pretende retardar ao máximo possível o anúncio de sua candidatura. Na metade do seu mandato de senador, Pacheco é considerado o melhor nome para Kassab, já que ele garantiria um palanque “neutro” para fortalecer os candidatos a governadores do PSD no primeiro turno e ainda emplacaria o discurso de terceira via.

Ainda ocupando cargos dentro do governo Bolsonaro, parte do PSD tem optado pela “neutralidade” em relação aos pedidos de impeachment do presidente. Contudo, Kassab tem intensificado a defesa pela abertura de um dos processos protocolados na Câmara. "Há mais circunstâncias para a defesa [do impeachment]. Seja como for, vejo uma dificuldade muito grande de ele se reeleger", disse Kassab ao jornal Folha de S. Paulo.

Aliados pressionam Lira pelo impeachment de Bolsonaro

Aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), admitem que a pressão para que um dos processos de impeachment contra Bolsonaro seja aberto aumentou. Essa movimentação ocorre desde que a oposição se juntou com nomes de centro e centro-direita no chamado “superpedido” de cassação de Bolsonaro, protocolado no mês passado.

Até o momento, Lira tem se mantido resistente a abrir o processo de impeachment, e tem apostado na discussão sobre o semipresidencialismo para tentar contornar a crise.

Recentemente, o deputado afirmou que não poderia fazer um impeachment sozinho. “Eu não posso fazer esse impeachment sozinho. Erra quem pensa que essa responsabilidade é só minha. Ela é uma somatória de características que não se configuram. Dito por mim, pelo presidente [do DEM] ACM Neto, pelo ministro Gilmar Mendes [do STF], para citar alguns. Então, temos que nos acostumar a ter um processo democrático. Nós defendemos eleições em 2022. Daí a possibilidade, muito bem aceita, de votar um semipresidencialismo em 2026, com uma forma de você estabilizar mais o processo político no Congresso Nacional”, disse Lira.

N.º 2 da Câmara vira ameaça para o Planalto

Na contramão, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), pediu acesso aos mais de 100 pedidos de impeachment protocolados na Casa. A decisão de dar andamento aos pedidos de afastamento cabe exclusivamente ao presidente da Câmara, posto ocupado por Ramos na ausência de Lira.

Na terça-feira (20), Ramos afirmou nas suas redes sociais que as acusações contra o presidente Bolsonaro no “superpedido” de impeachment são “consistentes. “Recebi, dos autores, cópia do superpedido de impeachment do presidente Bolsonaro. São 21 imputações de crime de responsabilidade e algumas delas, numa primeira leitura, parecem bem consistentes”, escreveu.

O vice-presidente da Câmara admitiu que pretende aprofundar seus estudos sobre a fundamentação jurídica do impeachment. “Eu quero ler os fundamentos jurídicos para, se houver consistência e em algum momento eu ficar em exercício na presidência [da Câmara], eu possa fazer o juízo de conveniência política sobre alguém no exercício provisório do cargo ler o pedido [de abertura do processo de impeachment]”, disse Ramos. A leitura da abertura no plenário da Câmara é a formalização da abertura do processo de cassação do presidente.

Essa possibilidade já causa temores no governo. Integrantes do Palácio do Planalto admitem que o Bolsonaro considerou se afastar da Presidência quando precisou se internar em São Paulo para tratar de uma obstrução intestinal, na semana passada. Contudo, acabou recuando, já que o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) estaria em viagem para a Angola e Lira iria assumir a Presidência. Consequentemente, Marcelo Ramos ficaria no comando da Câmara neste período.

A relação entre Bolsonaro e Ramos já estaria desgastada há bastante tempo, mas a crise entre os dois ficou ainda pior depois da aprovação do fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões. Bolsonaro acusou o vice-presidente da Câmara de ser o responsável pela aprovação. E ambos trocaram acusações nos últimos dias.

Metodologia das pesquisas citadas na reportagem

A Quaest Consultoria e Pesquisa ouviu 1,5 mil pessoas de forma presencial entre os dias 1.º e 4 de julho. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.

O Poder Data ouviu 2,5 mil pessoas por telefone entre os dias 5 e 7 de julho. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

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