Anunciado no fim de maio pelo Ministério da Saúde, o programa de testagem em massa para detectar infectados pela Covid-19 não deslanchou até agora. O ministro Marcelo Queiroga afirmou à época que a intenção era ampliar a quantidade de exames realizados para testar de 10 milhões a 20 milhões de brasileiros. Esse seria um dos principais planos, junto com a vacinação, para controlar o avanço da pandemia no país.
Mas, em junho, primeiro mês completo do programa, foram distribuídos apenas 1,421 milhão de testes aos estados (1,358 milhão de testes do tipo RT-PCR, o padrão ouro de detecção do coronavírus; e outros 63,1 mil testes rápidos). É pouco mais do que em maio, quando foram entregues 1,119 milhão de exames. Mas muito abaixo da meta estipulada pelo próprio Queiroga.
Tampouco houve uma aceleração expressiva na distribuição de testes em julho. Até o dia 13, quase metade do mês, a pasta havia distribuído 723,1 mil exames (todos do tipo RT-PCR), de acordo com dados da Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública publicados pelo próprio Ministério da Saúde. Mantido esse ritmo, em julho serão cerca de 1,7 milhão de exames enviados aos estados – o equivalente a 17% da meta mínima fixada pelo Ministério da Saúde; e 8,5% da meta máxima.
Especialistas dizem que a realização de exames em grande escala é uma das medidas mais básicas para conter a pandemia. Quando se testa em massa, pode-se isolar os infectados assintomáticos (que são muitos) e, assim, reduzir o ritmo de novas contaminações pelo país. E, embora o país esteja com o número de casos em queda por causa do avanço da vacinação, a pandemia ainda não está controlada e uma eventual nova cepa do coronavírus pode reverter essa tendência – por isso a necessidade de manter a vigilância.
Ritmo da testagem da Covid vem caindo
Desde o começo da pandemia de Covid no Brasil, em fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde enviou aos estados 34,3 milhões de testes do coronavírus. Foram distribuídos 22,5 milhões de exames do tipo RT-PCR e 11,8 milhões de testes rápidos até o dia 13 de julho deste ano.
O maior número de exames foi repassado aos estados em maio do ano passado, com 6,6 milhões de unidades (sendo 2,5 milhões do tipo RT-PCR e 4,1 milhões de testes rápidos).
De lá para cá, esses números foram caindo gradativamente. Desde o início deste ano até o dia 13 de julho de 2021, o ministério distribuiu aos estados apenas 13,8 milhões de testes contra a Covid-19 – 10,8 milhões do tipo RT-PCR e 3 milhões de testes rápidos.
Ministro reafirma meta de 20 milhões de testes
Durante depoimento na Comissão Temporária da Covid-19 do Senado, no último dia 21 de junho, mesmo longe de atingir a meta, o ministro Marcelo Queiroga voltou a prometer a testagem de 20 milhões de brasileiros por mês.
Queiroga garantiu ainda que o Ministério da Saúde tem uma tratativa avançada para a aquisição de mais 10 milhões de testes rápidos do modelo antígeno para serem distribuídos para estados e municípios. “O nosso objetivo é testar até 20 milhões de brasileiros todos os meses, sendo 1,8 milhão de testes na atenção primária e os outros no setor público”, declarou.
Queiroga disse ainda contar com o apoio da iniciativa privada para testar seus próprios funcionários. “É fundamental, além dessa iniciativa pública, que tenhamos a parceria da iniciativa privada, testando os funcionários para que aqueles casos positivos sejam afastados e consigamos conciliar o combate à pandemia da Covid-19 com um retorno organizado e sustentável”, disse.
Qual é a estratégia do programa de testagem em massa
O programa de testagem em massa da Covid seria dividido em três eixos de ação: a testagem de sintomáticos nas unidades básicas de saúde; a busca ativa de assintomáticos e pré-sintomáticos; e a procura da chamada soroprevalência, por meio de amostras da população que permitiriam monitorar a transmissão do vírus ao longo do tempo.
Um dos objetivos da adoção de exames em massa também seria o de reforçar o controle dos profissionais de áreas estratégicas como a saúde, a segurança e o transporte público. A ideia era fazer a testagem semanal individual, pois profissionais desses grupos estão mais expostos aos riscos de contágio.
"Realizaremos a busca ativa de profissionais com maior risco de contágio para testar e, assim, minimizar a transmissão do vírus. Se, de forma antecipada, conseguimos identificar o vírus, conseguiremos frear a circulação", disse o secretário executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, no lançamento do programa, no fim de maio.
Na apresentação do plano, Cruz e o ministro Marcelo Queiroga afirmaram que o programa seria debatido juntamente com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
Mas, um mês e meio depois do lançamento, toda essa discussão sobre o programa ainda não havia sido finalizada. No fim de junho, o Conass informou que ainda aguardava o envio da proposta de estratégia, que estava sendo preparada pelo Ministério da Saúde, para que o programa fosse colocado em prática. A Gazeta do Povo procurou o Conass para verificar se houve alguma mudança agora em julho. O Conselho respondeu apenas: "O assunto ainda está em discussão técnica".
O que diz o Ministério da Saúde
A reportagem também procurou o Ministério da Saúde para obter mais informações sobre o plano de testagem em massa.
Em nota, o ministério repetiu algumas informações que já eram públicas, informando que vai reforçar a testagem para o diagnóstico da Covid-19 com estratégias que abrangem a busca ativa de casos assintomáticos e sintomáticos, além da testagem de soroprevalência da população. “A pasta enviou cerca de 3 milhões de testes antígenos aos estados, sendo 600 mil para o Maranhão e o restante foi distribuído proporcionalmente para os entes federativos. Também foram enviados mais 46,3 mil testes e 16,1 mil reações para o Comitê Olímpico Brasileiro (COB)”, informou o ministério.
Ministério já tentou, antes, fazer programa de testagem em massa
O atual programa de testagem em massa de casos de Covid-19 não é o primeiro anunciado pelo Ministério da Saúde. Em maio de 2020, a pasta, então sob comando do ex-ministro Nelson Tech, lançou estratégia semelhante com o objetivo de testar 22% da população brasileira ao distribuir cerca de 46 milhões de testes.
Na época, uma das ideias também era dividir a responsabilidade com o setor privado, por meio de parcerias público-privadas para viabilizar a ampliação da testagem na população. Mas o ministro Teich ficou pouco tempo no cargo, sendo substituído pelo general Eduardo Pazuello. E as ações prometidas no ano passado também não avançaram.
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