A testagem em massa para identificar infectados pelo coronavírus tem sido considerada por especialistas, de forma quase unânime, uma das medidas mais efetivas contra a Covid-19. Exemplos de países que tiveram êxito depois de promoverem testes em massa – como a Coreia do Sul, que conseguiu “achatar a curva” de expansão da doença, e a Alemanha, que tem tido desempenho melhor na contenção do vírus do que seus vizinhos europeus – respaldam essa estratégia como um complemento ao isolamento social. Ao ampliar os testes, é possível isolar melhor possíveis focos de disseminação do vírus.
No último dia 25, o Ministério da Saúde disse que deverá ter disponíveis 22,9 milhões de kits de testagem do novo coronavírus em todo o Brasil. Antes, o governo brasileiro via com reservas a possibilidade de promover exames em larga escala, mas isso mudou nas últimas semanas.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, já reconheceu que o Brasil precisa acelerar o passo nessa medida. “É claro que o assunto teste é um assunto em que nós precisamos melhorar, e muito”, disse ele em coletiva de imprensa na terça-feira (31).
O foco da testagem brasileira será, inicialmente, em casos graves e em profissionais que estão na linha de frente do combate ao coronavírus, como médicos, enfermeiros e funcionários de hospital. Inicialmente, cidades com mais de 500 mil habitantes, que costumam ser núcleos de disseminação, serão a prioridade.
Até a quinta-feira (2), o governo federal tinha distribuído 54 mil kits de exame chamados de “RT-PCR” ou “moleculares”, que identificam o coronavírus desde o início da doença. Por enquanto, a prioridade do uso desses testes é para pacientes em estado grave.
Além disso, o Ministério informou que 500 mil dos chamados “testes rápidos” também já foram distribuídos às unidades federativas. Esses exames rápidos identificam a doença entre o sétimo e o décimo dia do início dos sintomas, medindo a presença de anticorpos. Não são recomendados para a população em geral, mas sim para profissionais de saúde e de segurança que estão na linha de frente do combate ao coronavírus e tiveram sintomas de gripe.
O Ministério da Saúde explica que os testes rápidos permitem que esses profissionais “retornem ao trabalho em menos tempo, com segurança, e não precisem aguardar os 14 dias de isolamento preconizado”.
De onde vem os kits de testagem
Basicamente, os 22,9 milhões de exames obtidos pelo governo federal vêm de três fontes: de doações de empresas, da Fiocruz e de compras públicas negociadas pelo governo.
A Vale importou da China 5 milhões de testes do tipo rápido. Os 500 mil testes que já foram enviados pelo Ministério para estados do Brasil fazem parte da primeira remessa dessa importação, que chegou no último dia 27. Já a Petrobras doou ao governo 600 mil testes do tipo molecular.
A Fiocruz afirmou que entregaria até o fim desta semana ao Ministério da Saúde cerca de 40 mil testes do tipo molecular. A quantidade é muito menor do que a prevista pelo governo uma semana antes, de 1 milhão de testes até 30 de março. O Ministério diz que receberá da Fiocruz cerca de 6 milhões de testes nos próximos três meses, metade deles do tipo rápido e a outra metade do tipo molecular, mas ainda não se sabe se a Fiocruz conseguirá atingir essa produção nesse período.
A instituição, que é a principal responsável pela produção desses testes no Brasil, disse em nota enviada à Gazeta do Povo que está “ampliando significativamente” a sua capacidade de produzir exames do tipo molecular e “expandindo seu potencial” para fabricar os kits para testes rápidos, mas não deu uma previsão numérica dessa expansão. A Fiocruz conta com fornecedores dos Estados Unidos e da China para obter insumos para esses testes.
Maior dificuldade não é obter os kits, mas processar os testes
O principal desafio para o Brasil na realização dos testes não deverá ser a escassez de kits para exames, mas a capacidade de processar os testes do tipo molecular ou RT-PCR.
Wanderson de Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, diz que o Brasil precisará produzir de 30 mil a 50 mil testes por dia no período de pico do coronavírus. Hoje, o Brasil tem capacidade para processar 6.700 testes diários, segundo uma estimativa do próprio secretário. A Coreia do Sul, vista como exemplo na testagem em massa, realiza até 15 mil testes por dia, com uma população quatro vezes menor.
Oliveira ressalta ainda que nem toda essa capacidade de 6.700 testes poderá ser usada para a Covid-19. “É importante esclarecer que a gente continua tendo HIV, dengue e outras doenças. Essas máquinas não são exclusivas para testar coronavírus. Nós utilizamos essas máquinas para outras doenças”, afirma.
Segundo ele, o governo está negociando a compra de máquinas para aumentar a capacidade de testagem e aproximá-la da meta de 30 mil a 50 mil testes. “Estamos numa parceria com a iniciativa privada adquirindo máquinas maiores, grandes, que vão permitir fazer até mil testes por dia, cada máquina”, diz.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF