O general da reserva Paulo Chagas atribuiu a ação da Polícia Federal desta terça-feira (16), ordenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em inquérito sobre ataques contra a corte, à possibilidade de o presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, e os seus colegas terem cometido irregularidades.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele disse que Toffoli mandou abrir inquérito sobre supostas ofensas e ameaças aos ministros, embora seus "conhecidos e grandes juristas brasileiros se manifestem na imprensa dizendo que ele não tinha esse poder".
"Não faço crítica à ação em si, mas à atitude defensiva dele, que, para mim, demonstra que está se defendendo para esconder alguma coisa. A melhor defesa é o ataque. Então, resolveu atacar para se defender", declarou Chagas.
O general ponderou que suas suspeitas são como cidadão, e que não conhece provas sobre eventuais irregularidades cometidas pelos ministros. "Para mim [a operação], é o melhor indício de que existe alguma coisa. Não tenho dúvida, no sentido pessoal da dúvida."
O general criticou o que chama de aparelhamento do Supremo pelos governos do PT e os antecessores. "Cada um [governo] botou lá aquele que defendia seus próprios interesses. Conhecimento jurídico, o elevado conhecimento jurídico, foi deixado como segundo critério. O primeiro critério é a identificação ideológica", disse.
Para ele, esse suposto aparelhamento se reflete agora, na postura do Supremo diante de investigações contra políticos e altas autoridades do país. "Na hora em que sai uma Lava Jato e começam a aparecer os podres, todo mundo quer se proteger no STF. Isso é outro indício de que alguma coisa não está certa", comentou, acrescentando que os investigados deveriam "fugir do Supremo", mas que ocorre o contrário.
"A corte deveria ser a mais rigorosa. Aparentemente, para cidadão comum, como eu, parece que a Suprema corte é um abrigo para o crime do colarinho branco." Questionado se quem busca proteção no Supremo, no seu entendimento, são os políticos ou os próprios ministros da corte, o general respondeu que se referiu aos dois casos.
Procurada, a assessoria do presidente do Supremo informou que não conseguiu localizar Toffoli.
Chagas também afirmou que as manifestações de Toffoli são um indício de que dado recente, levantado pelo empresário Marcelo Odebrecht em investigação, é verídico. Ele explicou à Lava Jato em Curitiba que Toffoli era a pessoa identificada num email como "amigo do amigo do meu pai".
A mensagem foi enviada em 2007 por Odebrecht a dois executivos da empreiteira, Adriano Maia e Irinei Meirelles. Na época, Toffoli era chefe da Advocacia-Geral da União (AGU) no governo Lula. "Afinal vocês fecharam com o amigo do amigo de meu pai?", escreveu Odebrecht. Não há nenhuma citação a pagamentos ou ilicitude.
Odebrecht explicou à PF que a mensagem se referia a tratativas que o então diretor jurídico da empreiteira, Adriano Maia, tinha com a AGU sobre temas envolvendo as hidrelétricas do rio Madeira, em Rondônia. "'Amigo do amigo de meu pai' se refere a José Antonio Dias Toffoli", disse.
O empresário não esclareceu quais eram as tratativas, indicando que somente Maia pode explicá-las, por ter sido o responsável por elas. As informações foram noticiadas na quinta-feira (11) pela revista Crusoé e o site Antagonista. Na segunda-feira (15), a pedido de Toffoli, Alexandre de Moraes censurou os dois veículos e mandou que tirassem reportagens e notas sobre o assunto do ar, sob pena de multa.
"Tudo o que foi dito em delação premiada pelo Marcelo foi provado. Terá que agora que prove [sic] também esse negócio do amigo do amigo do meu pai", declarou Chagas. O general disse que a censura é uma atitude unilateral e uma "maneira autoritária" de Toffoli agir. Ele argumenta que o Supremo está exorbitando em seus poderes e que "mais cedo ou mais tarde haverá uma reação jurídica a isso". Sua expectativa é de que o plenário derrube a censura aos dois órgãos.
A PF fez buscas na casa do general nesta terça. Ele conversou com a reportagem por telefone, de Campinas, onde visita o neto. Os policiais foram recebidos pela filha do general e apreenderam o notebook dele. Chagas disse ter falado por telefone com o delegado responsável pela ação e que o orientou a levar o que quisesse. "Não devo nada, não tenho nada para esconder, porque tudo o que eu penso e faço está publicado em algum lugar."
O general nega ter avançado o sinal ao criticar ministros do Supremo nas redes sociais e em seu blog. "Posso ter sido indelicado, em algum deles [posts], sendo mais incisivo, mas não tem ameaça em hipótese nenhuma. Jamais faria ameaça. Sou totalmente contrário a esse tipo de manifestação."