Os trabalhadores da colheita da uva que foram resgatados em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, no dia 22 de fevereiro, relataram ao Ministério Público do Trabalho (MPT-RS) terem sofrido diversos atos de violência, como surras com cabo de vassoura, choques elétricos, ataques com spray de pimenta, mordidas e más condições de trabalho e habitação. A situação dos trabalhadores foi considerada pelo órgão como análoga à escravidão. No total, a ação realizada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) retirou 208 trabalhadores que atuavam nos parreirais e prestavam serviço para vinícolas e cooperativas locais.
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Em audiência nesta quarta-feira (1°), o MPT deu dez dias para que as vinícolas gaúchas Aurora, Garibaldi e Salton apresentem documentos com informações sobre a parceria firmada com a Fênix Prestação de Serviços e a Oliveira & Santana, empresas responsáveis pela contratação dos trabalhadores. As vinícolas alegam que desconheciam as más condições em que os trabalhadores viviam.
Na inspeção do alojamento dos trabalhadores, foram encontrados objetos como uma máquina de choque elétrico e tubos de spray de pimenta. Segundo a procuradora do MPT-RS, Franciele D'Ambros, ao UOL, os primeiros trabalhadores fugiram do local em busca de ajuda após sofrer agressões, o que desencadeou a ação da PRF.
Os trabalhadores relatam que eram mantidos em uma pousada onde eram vigiados por seguranças armados. A jornada de trabalho ultrapassava 14 horas diárias, a comida entregue era de baixa qualidade ou estragada e faltavam equipamentos de segurança no trabalho. As propostas de emprego, segundo os relatos, prometiam R$ 4 mil mensais, mas, na prática, os trabalhadores receberiam muito menos por supostas dívidas assumidas com a empregadora para compra de comida.
O que dizem as vinícolas
Em nota, a Cooperativa Vinícola Garibaldi afirmou que “com surpresa e indignação” recebeu as denúncias de práticas análogas à escravidão. A empresa disse que a empresa terceirizada era contratada para suprir uma demanda pontual e específica e, que após as denúncias, a cooperativa encerrou o contrato com a prestadora de serviços.
“Importante salientar que, nesses menos de 30 dias de contrato prestando serviço na Cooperativa, o tratamento foi igualitário aos funcionários diretos, atendendo a todas as normas de convívio valorizadas pela Garibaldi, dentre as quais os horários, treinamento, segurança, refeições, etc., além do atendimento a todas as questões legais pertinentes”, em nota.
A vinícola se colocou à disposição das autoridades para as investigações necessárias e repudiou qualquer “prática que afronte o respeito ao ser humano ou comprometa sua integridade”, como também prestou solidariedade as vítimas.
Em nota, a Vinícola Aurora informou que os trabalhadores eram contratados pela terceirizada Oliveira & Santana e que está tomando as medidas cabíveis, no momento. A Vinícola informou que, quanto à empresa terceirizada, a Aurora pagava um valor acima de R$ 6,5 mil/mês por trabalhador, com acréscimo de eventuais horas extras prestadas.
“A terceirizada era a responsável pelo pagamento e pelos devidos descontos tributários instituídos em lei. A Aurora também exigia os contratos de trabalhos da equipe que era alocada na empresa”, disse. Ainda, evidenciou que os funcionários recebiam “alimentação de qualidade durante o turno de trabalho, como café da manhã, almoço e janta, sem distinções”.
Alegou também que oferecia “condições dignas de trabalho no horário de expediente” e que os gestores responsáveis desconheciam a “moradia desumana em que os safristas eram acomodados pela Oliveira & Santana após o período de trabalho”.
A Família Salton, em nota, lamentou o ocorrido e reconheceu que não foram averiguadas as condições de moradia oferecidas pela empresa terceirizada. A empresa disse que irá trabalhar para coibir novos acontecimentos e se colocou à disposição para auxiliar no processo.
A reportagem não conseguiu contato com as prestadoras de serviço.
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