O governo federal vai começar nas "cordas" do "ringue" político montado pela CPI da Covid. Com apenas três senadores governistas entre os 11 titulares indicados pelos blocos e partidos, a leitura feita por senadores e assessores parlamentares é de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) começa em desvantagem no colegiado e precisará ampliar sua "tropa de choque" se quiser "guerrear" em pé de igualdade.
Entre os titulares, Bolsonaro conta, por ora, apenas com o apoio dos senadores Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional da legenda, Marcos Rogério (DEM-RO), líder do partido na Casa, e Jorginho Mello (PL-SC), vice-líder de sua legenda.
Entre os suplentes, o governo conta com o apoio dos senadores Marcos do Val (Podemos-ES) e Zequinha Marinho (PSC-PA), segundo apontam interlocutores do Planalto e senadores. Ou seja, ao todo, são cinco de um total de 18 senadores. Embora a base seja marginalmente superior aos quatro senadores opositores, é insuficiente para dar ao presidente tranquilidade. Pelo contrário.
Entre os outros nove senadores apontados como independentes está Renan Calheiros (MDB-AL), líder da Maioria. "O próprio Renan se diz oposição ao governo", afirma o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) à Gazeta do Povo. Mesmo seu correligionário e representante tucano no colegiado, Tasso Jereissati (PSDB-CE), que já fez críticas duras a Bolsonaro, é apontado por ele como independente.
"Tem um pessoal muito bem qualificado e independente na comissão, que não vai votar com o fígado, mas com a razão. Tem poucos de oposição radical", defendeu Izalci, que confirma a pequena "tropa de choque de Bolsonaro. "Governista declarado [entre os titulares] tem só o Marcos Rogério, o Jorginho Mello e o Ciro Nogueira", afirma.
Convencer independentes é missão para ampliar a "tropa de choque"
No Palácio do Planalto, interlocutores costumam dizer, confiantes, que a CPI da Covid pode até abrir "oportunidades" ao governo, embora reconheçam que o melhor cenário era não haver uma investigação agora. Embora ressaltem que o Executivo não tem muito a temer, não negam que, para ampliar seu poder de fogo e fortalecer a "tropa de choque", precisarão intensificar as articulações políticas.
Para ampliar o apoio na comissão, o governo sabe que precisará convencer os independentes. E aí, enquadra-se até o MDB, liderado por Eduardo Braga (AM). "O MDB sempre foi governo. O problema é o Bolsonaro conseguir negociar com o Renan depois de ter colocado o Arthur Lira na presidência [da Câmara]", pondera um assessor parlamentar do Senado.
Calheiros e Lira são adversários políticos em Alagoas, e o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), foi derrotado por Lira nas eleições da Câmara com apoio do governo. Nos bastidores do Congresso, há quem diga que Lira atua para tentar desidratar o protagonismo que Calheiros, embora outros aconselhem o governo a buscar alguma composição com emedebistas.
Quais os desafios da articulação política na CPI da Covid
No esforço de ampliar a "tropa de choque", incluem-se tanto o convencimento técnico das ações feitas na pandemia, como, também, os instrumentos da articulação política: cargos e emendas. Não à toa existam conversas até sobre a possibilidade de substituições em ministérios, seja por pressão do Centrão ou não.
Qualquer aceno político feito pelo governo aos parlamentares terá que ser muito bem calculado. Afinal, um gesto em falso e o Executivo pode ser acusado de querer "comprar" senadores, alertam interlocutores do Senado.
Entre os senadores independentes, há quem entenda que o governo se complicará se, por acaso, tentar se fortalecer na CPI da Covid por instrumentos do fisiologismo político. "Até o Centrão tem dificuldades de negociar com o Bolsonaro. Ele senta na mesa com os caras [parlamentares], mas fala que tem almirante ocupando um cargo 'ali', outro 'aqui', um general acolá, que tem 'isso e aquilo' e não pode ceder. É pouco pragmático", diz um assessor parlamentar.
Por essa desconfiança, senadores independentes são descrentes quanto à possibilidade de Bolsonaro ampliar sua base governista na CPI da Covid. "A base dele é alugada, não existe comprometimento. E quanto mais acuado o Bolsonaro estiver, melhor para o Ciro [Nogueira], que vai poder pedir ministério e cargos para oferecer algum tipo de blindagem ao governo", diz o assessor de um senador independente.
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