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Tuíte de Trump

Taxação sobre aço do Brasil demonstra equívoco da política “America First” de Bolsonaro

Bolsonaro exibe camisa da seleção dos EUA com seu nome durante encontro com Trump na Casa Branca, em março deste ano: relações sofrem abalo.
Bolsonaro exibe camisa da seleção dos EUA com seu nome durante encontro com Trump na Casa Branca, em março deste ano: relações sofrem abalo. (Foto: Alan Santos/PR)

Com o fim dos governos de esquerda, 2019 era o ano em que as relações do Brasil com os Estados Unidos deveriam mudar. Jair Bolsonaro, um declarado fã do presidente Donald Trump e dos EUA, agora era presidente. E ele havia prometido uma reorientação radical na política externa do Brasil, longe de alianças socialistas e em direção aos Estados Unidos. "O Trump dos trópicos", era como as pessoas chamavam Bolsonaro.

Mas, em vez de levar a um novo começo entre os maiores países das Américas, a reaproximação levou a uma série de falsos começos, expectativas não cumpridas e tuítes constrangedores.

Nesta segunda-feira (2), a derrapagem diplomática acelerou quando Trump tuitou que estava restabelecendo tarifas sobre aço e alumínio do Brasil e da vizinha Argentina. Ele disse que os gigantes sul-americanos desvalorizaram artificialmente suas moedas para tornar suas indústrias mais competitivas em relação aos Estados Unidos.

O tuite da manhã atordoou Bolsonaro, que parecia completamente pego de surpresa em seus comentários a repórteres do lado de fora do palácio presidencial. "Vou falar com Paulo Guedes", disse ele, referindo-se ao ministro da Economia. "Alumínio? Vou falar com Paulo Guedes agora... Se necessário, ligo para Trump. Tenho um canal aberto com ele."

Bolsonaro, que repetidamente elogiou o presidente americano e procurou instalar seu filho como embaixador dos EUA, não teve nenhum aviso da decisão de Trump, ressaltando ainda mais o que já está claro há algum tempo: sua tentativa de aproximar o maior país da América Latina do governo Trump parece cada vez mais uma derrota diplomática humilhante.

OCDE, carne vermelha e outras "bolas nas costas"

Nos últimos meses, o presidente brasileiro foi surpreendido e atormentado pelas negligências do colega norte-americano.

Trump disse a Bolsonaro que apoiaria a tentativa do Brasil de ingressar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – uma promessa que Bolsonaro elogiou como uma conquista política. Mas então a carta de recomendação dos EUA vazou, mostrando que o governo Trump estava apoiando a Romênia e a Argentina na adesão, não o Brasil.

Poucas semanas depois, o governo dos EUA recusou o pedido de Bolsonaro de suspender sua proibição de importações brasileiras de carne bovina por questões de segurança – novamente pegando seu governo de surpresa.

Agora, Trump está mirando uma das indústrias mais importantes do Brasil, em um momento em que o desemprego está acima de 10% e a economia está paralisada.

"Não houve grandes concessões dos Estados Unidos e nem gestos significativos de apoio a Bolsonaro", disse Mauricio Santoro, cientista político da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. "Trump nem sequer defendeu o presidente brasileiro quando foi criticado em manifestações em Nova York". "A política externa 'América First' de Bolsonaro", disse ele, até agora produziu apenas uma "falta de resultados".

China estende a mão nos momentos difíceis

Trump previu em março que ele e Bolsonaro teriam uma "fantástica relação de trabalho". Bolsonaro chamou Trump de "um exemplo para mim" e disse que eles trabalhariam juntos "para o benefício de nossas duas nações".

Agora, o possível colapso do que antes parecia uma união promissora entre as duas maiores economias das Américas abriu as portas para a China acelerar sua investida na América Latina.

Antes e no começo do governo, Bolsonaro frequentemente criticava a proximidade do Brasil com a China. Como candidato, ele viajou para Taiwan e anunciou que iria encerrar uma política externa que ele ridicularizava como inaceitavelmente "amigável com os regimes comunistas".

Mas tem sido a China – e não os Estados Unidos – que vem em seu auxílio repetidamente quando ele precisa de ajuda.

Neste verão, quando a floresta amazônica ardeu e os países começaram a ameaçar proibir as exportações brasileiras de carne bovina – sua produção acelerou o desmatamento –, a China anunciou que compraria mais. Então, no mês passado, em um gigantesco leilão de petróleo, as autoridades brasileiras elogiaram o histórico, a China ajudou a evitar outro constrangimento: todos os licitantes internacionais ficaram de fora – exceto os chineses.

Ruptura com Trump era previsível

"No momento, os chineses estão vencendo esse impasse geopolítico que está ocorrendo entre Washington e Pequim na América Latina", disse Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas, em São Paulo.

Ele disse que a ruptura do relacionamento entre os governos brasileiro e norte-americano é, de certa forma, previsível. Os interesses políticos de Trump estão em conflito com as ambições econômicas do Brasil. A economia brasileira é baseada na produção e venda de commodities – os mesmos produtos fornecidos pela base política de Trump nas comunidades manufatureiras e agrícolas.

"Tudo o que resta são palavras e promessas, mas, estruturalmente, esse relacionamento mais próximo não produz benefícios mútuos", disse Stuenkel. "Como conseqüência, é bastante óbvio que, tendo começado com grandes expectativas, isso acabaria de alguma forma frustrado".

O momento atual e o tuíte de Trump podem ser mais prejudiciais ao relacionamento do que desprezos do passado por Washington. Trump atacou – na frente de 67 milhões de seguidores no Twitter – um aliado político que investiu capital político significativo na tentativa de conquistá-lo.

"O tweet de Trump foi definitivamente humilhante para Bolsonaro", disse Guilherme Casarões, cientista político da Fundação Getulio Vargas. "Diferentemente dos momentos anteriores em que os EUA esnobaram o Brasil, Bolsonaro e seus assessores mais próximos não podem culpar a oposição por distorcer fatos ou manipular a verdade."

Isso pode aumentar a probabilidade de Bolsonaro ir contra os desejos de Washington. O governo Trump tentou desviar o Brasil do conglomerado chinês de telecomunicações Huawei em sua tentativa de trazer uma rede móvel 5G para o Brasil. Mas Bolsonaro está se reunindo com autoridades da Huawei e parece pronto para avançar com a empresa chinesa – apesar dos protestos de Washington de que é um véu para a vigilância chinesa.

"Ao contrário de Trump, o [presidente chinês] Xi Jinping vê o Brasil como um importante aliado chinês na América Latina e como um parceiro estratégico na guerra comercial com Washington", disse Casarões. "Parece provável que o Brasil favorecerá a China na disputa".

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