Muito já se questionou sobre quem realmente publica no Twitter do presidente Jair Bolsonaro, se é o próprio ou o filho Carlos, que foi responsável pela estratégia digital da campanha vitoriosa do pai à Presidência da República, em 2018. Essa dúvida, agora, parece ter sido esclarecida.
Carlos reconheceu nesta quinta-feira (17) ter tuítado na conta do pai uma mensagem defendendo a execução de pena após condenação em segunda instância, horas antes da sessão marcada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para analisar o tema. Pouco tempo depois, ele apagou a publicação e escreveu em sua conta:
A mensagem publicada no Twitter de Bolsonaro dizia que ele sempre deixou claro que era favorável à prisão em segunda instância e destacava que há uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre o tema sendo discutida na Câmara dos Deputados, relatada pela deputada federal Caroline De Toni (PSL-SC).
Mesmo antes dessas "confissão pública", algumas pistas já indicavam quem publicava no Twitter de Bolsonaro. A Gazeta do Povo analisou 602 tuítes na conta presidencial entre o início de abril e o início de agosto deste ano. O presidente, até onde se sabe, usa um celular Samsung, com sistema operacional Android. Já o “filho 02”, um iPhone, com sistema iOS – a mensagem apagada nesta quinta, por exemplo, foi feita com um iPhone.
Dos tuítes analisados pela Gazeta do Povo, entre 7 de abril e 2 de agosto, 331 foram postados usando Android, 181 com iPhone e 90 eram retuítes.
Momento da virada?
No dia 15 de maio, quando chegou ao Texas, Bolsonaro passou a publicar seguidamente em um aparelho com sistema operacional Android, quando mostrou um vídeo de fãs em uma lanchonete, às 16h14 (horário de Brasília). Horas antes, às 7h09, postou um link para vídeo do YouTube. Esse post foi feito com um celular iPhone. Das duas uma: ou o presidente comprou um Android e passou a utilizá-lo no desembarque dos Estados Unidos, ou Carlos deixou de postar seguidamente nesta data.
No dia 6 de março, a fatídica pergunta no Twitter de Bolsonaro sobre 'o que é golden shower', antecipada por um vídeo obceno, foi feita a partir de um iPhone.
Já entre os dias 21 e 24 de abril houve um intervalo de publicações. Surgiu uma informação, a partir da coluna do jornalista Guilherme Amado, da Época, que Carlos teria cortado acesso de Bolsonaro ao Twitter. Momentos após a publicação da coluna, um post foi publicado.
Antes, em março, surgiu outra pista interessante sobre quem publica na conta do presidente. Apareceu no Twitter de Bolsonaro um texto sobre a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro com direito a foto de Carlos, que possui mandato na casa legislativa. O conteúdo tratava da nova previdência no município do Rio. Algum tempo depois foi apagado da conta do presidente e apareceu na conta oficial do vereador.
Conteúdo
Entre os temas mais tuitados pelo presidente no período analisado pela Gazeta do Povo estão os que foram classificados como “promoção pessoal”, que mostram, por exemplo, Bolsonaro recebendo alunos na entrada do Palácio da Alvorada ou sendo recebido na chegada de viagens.
Entre tuítes e retuítes, a reforma da Previdência teve nove aparições na conta presidencial, assuntos sobre economia em geral ocuparam 33 posts. Sobre a facada que levou antes das eleições, Bolsonaro tuitou oito vezes. Confira alguns dos temas mais citados:
- Promoção pessoal: 56
- Relações internacionais: 39
- Economia: 33
- Governo: 28
- Segurança pública: 24
- Educação: 21
- Imprensa: 28
- Futebol: 17
- Infraestrutura: 17
- Esquerda: 15
- Saúde: 12
- Manifestações: 11
Uma mania do presidente "pescada" por assessores
Em tom de brincadeira também é possível dizer ainda que alguns assessores são "suspeitos" de auxiliar Bolsonaro nas publicações do Twitter. Difícil diferenciar, mas o "tom" mais sério e a linguagem corporativa aparecem de forma mais evidente em postagens como as abaixo:
Mas também há, aparentemente, uma diferença entre certas publicações de assessores e de Bolsonaro. O presidente tem "mania" de publicar com um travessão – antes das postagens. Ainda que os próprios assessores tenham percebido isso e haja tom sério em diversas postagens, é batata: são justamente nessas postagens com travessão que o tom informal impera.
E a evidente diferença de tom de publicações com tempo de publicação próximo, com e sem travessão:
Twitter de Bolsonaro trata de assuntos diversos. Twitter de Carlos derruba ministros
A autoria dos tuítes do presidente da República tem relevância, dada a importância com que a gestão Bolsonaro trata as redes sociais. Onde não só assuntos triviais são postados, mas também decisões importantes para o governo. Após a campanha, em novembro de 2018, Carlos Bolsonaro chegou a dizer que “por iniciativa própria” não cuidaria das redes sociais do pai.
De lá para cá, o mais combativo dos filhos do presidente usou a própria conta para criticar ministros. Foi o caso de Gustavo Bebianno: demitido da Secretaria-Geral da Presidência. O ex-ministro chegou a dizer que foi demitido por Carlos. Situação similar com a do general Santos Cruz: demitido da Secretaria de Governo, semanas após desentendimento público com Carlos e Olavo de Carvalho, mentor ideológico de parte do governo.
Em julho, o novo alvo de Carlos foi o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Professor da Universidade de Brasília (UnB), Francisco Brandão fez uma análise do conteúdo do Twitter de Jair Bolsonaro entre 2010 e 2019. Segundo a pesquisa, mais de 90% dos tuítes na conta do presidente vieram de um iPhone. O The Economist, citou a pesquisa da UnB, para mostrar que temas contra corrupção – uma das bandeiras de Bolsonaro durante a campanha – diminuíram nas postagens.
*Colaborou nesta matéria Jenifer Ribeiro.
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