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Esquecer ou reescrever a história?

Militares da nova e velha geração preferem que Bolsonaro “pare de falar” na ditadura

Ustra, Bolsonaro convidou viúva para almoço
Como homenagem ao coronel Ustra, Bolsonaro convidou a viúva Maria Joseíta Brilhante Ustra para almoço no Planalto. (Foto: Marcos Corrêa/PR)

Passados 55 anos do golpe de 1964, oficiais da ativa e da reserva não têm opinião unânime sobre as ações do presidente que defendem o período militar, que se estendeu até 1985. Mesmo entre aqueles que apoiam os movimentos – como o almoço oferecido nesta quinta a Maria Joseíta, viúva do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra – Bolsonaro divide opiniões.

Embora quase todos os militares ouvidos pela Gazeta do Povo concordem com os questionamentos do presidente Jair Bolsonaro sobre os documentos produzidos pela Comissão da Verdade, e também endossem a defesa permanente que faz de Ustra –único brasileiro reconhecido como torturador pela Justiça – muitos discordam do momento escolhido para essas ações.

“Ele não tem nenhum carinho pelos pés. A todo o momento dá um tiro neles”, ironiza o general da reserva Paulo Chagas, acrescentando: “A maior parte dos militares, na reserva, na ativa, apoiou Bolsonaro. Mas esperamos que ele seja mais comedido e que consiga dominar seus impulsos”.

Como “impulsos”, esses militares classificam os constantes atritos em que Bolsonaro se envolve, seja nas entrevistas, nos discursos em que, dizem eles, não pensa no peso que tem as declarações do presidente da República.

Ustra e Bolsonaro: o que pensam militares da nova e a velha geração

Outros oficiais da reserva compartilham dessa opinião. Quase todos eram jovens em 64 e presenciaram, ainda que a distância, a ação que culminou com a queda do então presidente João Goulart. Muitos eram capitães ou tenentes na época em que grupos de esquerda aderiram à luta armada e, em resposta, o regime passou a prender, torturar e matar muitos desses também jovens. Porém, os próprios militares acreditam que a esta altura não é possível reescrever uma história que já aconteceu.

Já entre os oficiais das novas gerações, apesar de concordarem com as críticas do presidente à Comissão da Verdade e tampouco criticarem Ustra, alguns dizem não ver sentido na insistência de Bolsonaro em trazer temas da ditadura de volta.

Um desses oficiais ouvidos pela Gazeta do Povo ponderou que retomar um tema, que para uma boa parcela dos brasileiros jovens não faz sentido, só serve para tumultuar o clima no país. “É melhor deixar isso de lado. Já tivemos a Lei da Anistia e ninguém ganha nada retomando essa discussão”, comentou um oficial que, por ser da ativa, pediu para não ser identificado.

Até agora, Bolsonaro só respondeu a uma dessas críticas feitas por militares da reserva. Ele atingiu o general da reserva Luiz Rocha Paiva, que o acusara de ser “antipatriótico ao se referir aos nordestinos como paraíbas”. O presidente chamou Rocha Paiva de “general melancia” e “defensor da guerrilha do Araguaia”.  Melancia é uma gíria usada no Exército para definir um militar – que usa uniforme verde – mas defende as ideias da esquerda identificada pelo vermelho.

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