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Estratégia de poder

União Brasil, PP e Avante costuram acordo para ditar os rumos no Congresso

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O líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente do União Brasil, Luciano Bivar: PP e União estão próximos de formar uma federação partidária (Foto: Reprodução/YouTube.)

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O União Brasil, o Partido Progressistas (PP) e o Avante encaminharam um acordo para se unirem em uma federação partidária — espécie de união temporária entre partidos que dura um prazo mínimo de quatro anos. As conversas estão avançadas e, caso se concretizem, o bloco partidário se consolidaria como o maior do país, com 115 deputados federais, 15 senadores, sete governadores e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que está envolvido nas negociações.

Além de Lira, participam das conversas os presidentes do União Brasil e do PP, deputado Luciano Bivar (PE) e o senador Ciro Nogueira (PI), respectivamente. Também estão envolvidos ativamente o vice-presidente e líder do União na Câmara, Antônio Rueda, e o deputado Elmar Nascimento (BA). O presidente do Avante, deputado Luís Tibé (MG), é outro engajado nas discussões.

Em 7 de fevereiro, por exemplo, Bivar e Lira conversaram sobre o tema em reunião. O presidente da Câmara também manteve conversas com Rueda. Uma liderança do PP que pediu para não ter o nome revelado disse que há conversas dia e noite sobre a federação.

O próprio Lira confirmou, no último dia 10, o andamento das discussões em torno da federação partidária. "São partidos importantes, com bancadas expressivas. No caso de ocorrer e se efetivar [o acordo], darão contribuição de equilíbrio também para que o eleitorado, os estados e a população brasileira possam acompanhar mais facilmente o desempenho de cada federação", afirmou ele durante visita ao estado do Espírito Santo.

A fala de Lira é interpretada por lideranças e dirigentes dos partidos interessados como uma forma institucional de explicar o que a federação já representaria de fato. Um dirigente do União Brasil, que também pediu anonimato, afirmou que o objetivo é ter o controle dentro do Parlamento e ser o ponto de equilíbrio da condução da governabilidade.

Federação teria a maior bancada da Câmara e a segunda maior do Senado

Com 115 deputados e 15 senadores, a federação teria a maior bancada da Câmara e a segunda maior do Senado. Para uma liderança do PP, que pediu anonimato, o bloco partidário representaria uma grande força capaz de influenciar as propostas orçamentárias anuais dos próximos quatro anos e representaria um grande poder sobre a negociação de cargos da administração direta e indireta junto ao governo federal.

Os sete governadores da federação representariam o maior quadro entre as 27 estados brasileiros e, por consequência, elevariam a influência de União Brasil, PP e Avante sobre pautas de interesse do governo, como a reforma tributária. Ou seja, qualquer pauta que discuta ajustes sobre os entes subnacionais daria ao grupo político poder de barganha e força necessária para elevar seu capital político.

Federação partidária quer ditar rumos do comando da Câmara e do Senado

O controle da agenda legislativa do Congresso, bem como das discussões orçamentárias e de parte do próprio Orçamento por emendas parlamentares, representa apenas uma parte dos objetivos da federação. Outras metas são manter o controle da Câmara e ter o comando do Senado no próximo biênio. A federação tem como pano de fundo a eleição da presidência da Câmara daqui a dois anos. A informação é de uma liderança do União Brasil que pediu para não ter o nome revelado.

Dirigentes e lideranças com conhecimento das negociações sobre a federação partidária afirmam que o grupo político constrói um acordo para que Elmar Nascimento suceda Lira pelo comando da Câmara nas eleições da Mesa Diretora de 2025. Eleger o líder do União Brasil seria uma forma de manter o poder sobre a Casa e "dar o troco" no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Na construção de sua equipe ministerial, Lula preteriu a indicação de Nascimento para o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. O veto irritou Lira e o líder do União Brasil, bem como o entorno político mais próximo de ambos. Em resposta, o governo retomou relações com o líder do União Brasil, a ponto do parlamentar ter sugerido a indicação de apadrinhados próprios e de seu grupo político em autarquias federais. Exemplos dessas autarquias são a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

Uma candidatura de Nascimento à presidência da Câmara com o apoio de Lira e da bancada da federação partidária traria poder e influência para ampliar as chances de emplacar o sucessor. Contudo, o movimento poderia enfrentar resistência do senador Davi Alcolumbre (União-AP) — que visa uma candidatura à presidência do Senado em 2025.

Federação mira prefeituras e o comando do Palácio do Planalto

As eleições de 2024 e 2026 também entram na conta do cálculo político da federação, embora dirigentes afirmem que União e PP não precisam fazer uma federação para as eleições municipais. De toda a forma, é admitido nos bastidores que a ampliação do comando de prefeituras ajuda a aumentar a capilarização e a musculatura política para a corrida presidencial.

Ter o comando da Presidência da República seria a "cereja do bolo" entre os objetivos da federação partidária, que pode ter seu poder de articulação amplificado ou não pelo sucesso ao longo dos anos. Na prática, o desejo do bloco partidário é viabilizar a candidatura mais competitiva da "terceira via" ou emplacar a candidatura mais forte em um campo da centro-direita.

Para isso, União e PP fizeram convites para a filiação do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL). Outro nome almejado é o do governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), que foi convidado pelo União. Por ora, ambos descartam uma saída de seus partidos, mas não fecharam as portas após as sondagens recebidas nas últimas semanas.

Os dois governadores são cotados por alguns no Congresso e na política como nomes à Presidência, mas lideranças e dirigentes do PP e do União ainda os veem como opções para fortalecer alas de ambos os partidos dentro de um contexto da federação.

Quais são os desafios para a federação partidária do União, PP e Avante?

Embora as conversas estejam avançadas, a federação partidária deve sair apenas após o carnaval. A meta é lançar o bloco partidário em até três meses, quando o governo quer evoluir as discussões da reforma tributária. O objetivo é ampliar o poder e a influência sobre a agenda econômica de Lula.

Um dirigente do União afirma que as conversas caminham para uma conclusão em breve, mas sustenta que ainda há resistências sobre a divisão de espaços e do comando da federação, e também entre as bancadas estaduais. Como as federações atuam como um único partido, isso implica na necessidade de se firmar acordos nos estados para definir o comando dos diretórios estaduais entre os partidos.

No Paraná, por exemplo, existe um temor do União, presidido pelo deputado Felipe Francischini, perder o comando do diretório para o PP, comandado pelo deputado Ricardo Barros. O mesmo ocorre na Bahia, onde o secretário-geral do União e ex-presidente do DEM, ACM Neto, rivaliza por espaços com o grupo político do ex-deputado Cacá Leão, do PP.

União quer o controle do Rio e de São Paulo, mas PP não concorda

Em São Paulo e no Rio de Janeiro, o União quer ter o controle da federação, algo que o PP ainda não concorda. Por essas disputas, Ciro Nogueira tem se mostrado menos otimista. Segundo afirma uma liderança de seu partido, ele está até descrente quanto à possibilidade de desfecho das negociações.

Dirigentes do União consideram, porém, que hoje Lira tem mais força e peso no PP que Nogueira. Isso mantém vivas as conversas e a possibilidade da federação sair do papel. Como gesto ao presidente do Progressistas, foi assegurado que ele vai manter o comando do diretório do Piauí, sua base eleitoral.

Da mesma forma, o diretório de Alagoas ficará nas mãos de Lira. Em alguns estados há uma pacificação minimamente maior que outros, mas ninguém vai dar palpites em Alagoas e no Piauí, diz um dirigente do União. Ele afirmou, anonimamente, que em outros estados será preciso construir uma convivência.

Fontes do União dizem achar improvável, porém, o partido ficar sem os diretórios de São Paulo, do Rio e de Pernambuco. Um dirigente do PP diz que ainda não há nada fechado e que os partidos ainda discutem "acertos pontuais nos estados". Primeiro vai ser acertado quem serão os líderes de diretórios, e depois a conversa será sobre o comando de comissões permanentes no Congresso.

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