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O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em reunião com o novo chanceler uruguaio, em fevereiro.| Foto: Arthur Max/MRE

O presidente Jair Bolsonaro viaja neste domingo (1°) a Montevidéu para participar da cerimônia de posse do novo presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou. O governo brasileiro espera que a chegada de um mandatário mais alinhado a suas ideias, principalmente na área econômica, ajude a aprofundar as relações com o país vizinho.

Pou é do Partido Nacional, de centro-direita, e chega ao poder depois de 15 anos em que a Frente Ampla, partido esquerdista dos ex-presidentes José Mujica e Tabaré Vázquez, governou o país. Durante esse período, a diplomacia do Brasil com os uruguaios sempre foi boa – mesmo depois que Bolsonaro assumiu.

O Itamaraty, entretanto, avalia que a parceria poderia ser mais forte – e espera que isso aconteça com a posse do novo presidente. A prontidão com que os dois governos têm promovido uma agenda de visitas e realizado gestos diplomáticos de apreço mútuo tem sido considerada um sinal de que as relações entre os dois países vão, de fato, se intensificar.

Aproximação entre Brasil e Uruguai começou antes da posse

Pou já indicou, por exemplo, que quer vir ao Brasil para se reunir com Bolsonaro antes de junho. O presidente brasileiro, por sua vez, foi o primeiro líder de uma nação no mundo a cumprimentar o uruguaio por sua eleição.

Além disso, antes mesmo da posse, no dia 14 de fevereiro, o novo chanceler uruguaio, Ernesto Talvi, já teve uma reunião com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em Brasília. Duas semanas depois, Bolsonaro e Araújo farão a primeira visita do atual governo brasileiro ao Uruguai.

“Essa visita, além do caráter protocolar, cerimonial de que se reveste, tem um simbolismo, porque inaugura uma nova etapa da relação com o Uruguai. Ficou claro no contato entre os presidentes e durante a visita do chanceler Talvi a Brasília que há uma grande sintonia nos principais temas, não só da agenda bilateral, como da agenda regional”, diz Pedro Miguel da Costa e Silva, secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas.

A visita do presidente brasileiro será breve: ele embarca e retorna no mesmo dia. A delegação brasileira contará com o chanceler Ernesto Araújo e com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, além de alguns parlamentares, como os deputados federais Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e Celso Russomanno (PRB-SP).

Entre as figuras internacionais de maior importância, estão confirmadas as presenças do rei Felipe VI, da Espanha, e dos presidentes do Chile, Sebastián Piñera; da Colômbia, Iván Duque; e do Paraguai, Mario Abdo Benítez.

Expectativa é que Uruguai se alinhe mais ao Brasil no Mercosul

O Itamaraty espera que o novo governo uruguaio se mostre mais alinhado ao Brasil no Mercosul. O bloco tem passado por uma onda liberalizante nos últimos meses, com a promoção de acordos como o firmado com a União Europeia e com a discussão sobre a redução da tarifa externa comum.

A avaliação do Itamaraty é de que o novo governo do Uruguai estará mais alinhado com as posições que o Brasil tem defendido no Mercosul. O secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas considera que ficou claro, durante as reuniões com o novo chanceler uruguaio em Brasília, que o governo Lacalle Pou trata o Mercosul com importância especial.

“Nós avançamos muito com eles ao longo de 2019, no front interno do Mercosul e também nas negociações regionais. E o que nós escutamos do chanceler Talvi quando ele esteve aqui em Brasília é um renovado interesse em manter o impulso dessas negociações”, diz Costa e Silva.

Segundo o secretário, o chanceler Ernesto Talvi sinalizou que os uruguaios “têm abertura para explorar futuras negociações com outros parceiros que estão na mira do Mercosul”.

Brasil espera que Uruguai assuma papel mais crítico a Maduro

Outra expectativa do governo Bolsonaro em relação à nova liderança do Uruguai é uma postura crítica mais clara em relação a Nicolás Maduro, ditador venezuelano. Espera-se o reconhecimento de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. Além disso, há a perspectiva de que o Uruguai passe a integrar o Grupo de Lima – conjunto de países americanos que buscam uma solução para a crise venezuelana e se opõem à ditadura de Maduro.

“Já recebemos indicações de que vai haver mudança de posição em relação a temas centrais para o Brasil na agenda regional, como a situação na Venezuela e na Bolívia. Imagino que isso também terá um impacto na atuação do Uruguai na OEA [Organização dos Estados Americanos]. Vai haver um espaço maior para consultas e coordenação sobre temas de política regional”, diz Costa e Silva. “Temos o entendimento de que essas mudanças irão por um caminho que nos deixa mais próximos”, completa.

Enquanto o Uruguai era governado pela Frente Ampla, seus presidentes já fizeram declarações críticas sobre os excessos de Maduro, mas nunca demonstraram interesse em fazer parte do Grupo de Lima, criado em 2017. Em junho de 2019, as autoridades uruguaias se retiraram da 49ª Assembleia Geral da OEA, em Medellín, na Colômbia, justamente por se recusarem a reconhecer a legitimidade do representante de Guaidó que foi convidado para as reuniões.

Plano de fortalecer parceria inclui cooperação nas fronteiras, defesa e energia

Um dos temas mais importantes da nova agenda bilateral dos dois países, segundo o Itamaraty, será o trabalho conjunto nas fronteiras, especialmente no que se refere à segurança pública.

“A segurança, hoje, é uma preocupação grande do governo uruguaio. Os indicadores se deterioraram muito nos últimos anos e tiveram um impacto importante, inclusive no processo eleitoral. O programa do governo veio muito carregado de propostas nessa área. O governo uruguaio certamente terá interesse em cooperar com o Brasil na área de segurança, especialmente na fronteira”, diz Eduardo Ferreira, chefe da divisão de América do Sul I do Itamaraty.

A cooperação na fronteira também envolve questões como o combate a ilícitos transnacionais e a prestação de serviços públicos compartilhados para os cerca de 800 mil habitantes que vivem na região fronteiriça.

Durante a cúpula do Mercosul de Bento Gonçalves (RS), em dezembro de 2019, os países membros do bloco fizeram um acordo sobre as localidades fronteiriças, que envolve mecanismos de assistência mútua e cooperação policial. O Brasil espera reforçar a cooperação bilateral com o Uruguai. Também na fronteira, há a previsão de que os países discutam obras de infraestrutura como pontes e hidrovias.

Na área de energia, a cooperação entre os dois países também deve ser fortalecida. Atualmente, há duas linhas de transmissão de energia elétrica cruzando a fronteira entre os dois países, além de uma usina eólica compartilhada entre a Eletrobrás e a estatal de energia uruguaia UTE.

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