Com curva ascendente de casos, o Brasil se tornou peça importante no desenvolvimento de uma vacina tida como principal esperança na imunização contra a Covid-19. Nas três próximas semanas, cerca de 2 mil pessoas com idade entre 18 e 55 anos, de São Paulo e do Rio de Janeiro, começarão a receber doses da vacina ChAdOx1 nCoV-19, elaborada pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, em parceria com o laboratório italiano de biotecnologia Advent-IRBM.
A vacina foi classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das mais promissoras em estudo no mundo. No Reino Unido, ela vem sendo trabalhada desde fevereiro, inclusive com testes em voluntários. Com os novos casos de infecção por Sars-CoV-2 diminuindo no país, no entanto, a Universidade de Oxford precisou recorrer a novos países para uma testagem em massa eficiente. De acordo com a instituição, “quanto mais alto o índice de transmissibilidade, mais dados serão coletados e pode-se ter uma resposta em dois meses”. “Se a transmissibilidade cai, pode-se levar seis meses [para coletar dados suficientes]”, diz comunicado.
É nesse contexto que o Brasil se tornou o país ideal para que o estudo cruzasse o oceano. Por aqui, são quase 615 mil infectados e uma taxa de novas infecções beirando os 30 mil diariamente. O estudo também será aplicado nos Estados Unidos, país que lidera o triste ranking de mortes por Covid-19, com mais de 109 mil casos.
Em solo brasileiro, o estudo é coordenado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Esta fase, a terceira, é um dos passos finais para que a vacina seja liberada. Não significa necessariamente que a solução estará disponível no curto prazo – embora exista, sim, essa possibilidade.
De acordo com Lily Yin Weckx, professora de Infectologia da Unifesp e investigadora principal do estudo no Brasil, a análise levará um ano. “Mas você tem dados sendo recolhidos o tempo todo. Se, de repente, no transcorrer do estudo, a gente já tiver dados muito favoráveis, é possível que a vacina possa ser licenciada para uso antes do término do estudo programado. Isto é muito frequente”, disse em entrevista à TV Record.
Com a pandemia avançando, destaca ela, há urgência na liberação da vacina. Um dos mecanismos é a licença para uso emergencial, que é um processo menos burocrático. Mas essa liberação ainda está no campo da expectativa.
Um bom resultado no teste deve beneficiar o país, que, pelo acordo com a universidade britânica, seria um dos prioritários no recebimento do imunizante.
De acordo com a coordenadora à agência de notícias Ansa, o teste será aplicado em um primeiro momento em profissionais de saúde (médicos, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas), agentes mais expostos ao contágio. A coordenadora indica também que o estudo poderá englobar recepcionistas, motoristas de ambulância, profissionais da limpeza e demais trabalhadores de hospitais e outros centros de saúde.
“Um grupo recebe a vacina Covid e outro uma vacina-controle. A pessoa não sabe o que vai receber. Com isso, podemos acompanhar todas essas pessoas no período de um ano para ver quem vai se infectar ou não. Com isso, podemos ter uma avaliação isenta e precisa se a vacina vai funcionar ou não”, explica a profissional. A vacina usa um vírus enfraquecido para estimular a produção de anticorpos no organismo.
Brasil poderá produzir a vacina em larga escala
No fim de abril, a Universidade de Oxford anunciou parceria com uma empresa multinacional chamada AstraZeneca, que será uma das responsáveis por produzir o imunizante em larga escala. O laboratório sueco-britânico se comprometeu a liberar, em primeiro lote, 400 milhões de doses. A capacidade total de produção é de um bilhão de doses.
A Universidade de Oxford indica que o acordo com a AstraZeneca considerou cláusulas de fornecimento de vacina “sem visar o lucro” para suprir, com alguma rapidez e igualdade, a necessidade de diversos países durante o período de pandemia.
Segundo o jornal O Estado de São Paulo, o Brasil poderá inclusive ajudar na produção das vacinas. A publicação indica que a AstraZeneca está trabalhando em parcerias com diversos governos, entre eles o brasileiro, para aumentar a capacidade de produção e facilitar a distribuição.
O Brasil poderia produzir 300 milhões de doses, abastecendo a América Latina, de acordo com as informações.
Outras vacinas em estudo no mundo
Segundo relatório recente da OMS, das 123 vacinas em estudo no mundo, cadastradas em órgão de saúde, dez estão em estágio mais avançado, de testes. Nenhuma delas, no entanto, à frente da vacina da Oxford. São basicamente laboratórios chineses e norte-americanos na corrida contra o coronavírus.
Farmacêuticas conhecidas , como Pfizer e Novavax (EUA) e Sinovac (China), já alcançaram a segunda etapa de estudos, quando se testa o imunizante em uma população de algumas centenas de voluntários.
Dentre o conjunto de vacinas em análise, há duas brasileiras: uma da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Minas Gerais, outra do Instituto do Coração (Incor), ligado à Universidade de São Paulo (USP). Ambas ainda estão em estágios iniciais.
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