A reunião de representantes dos governos de oito estados e do Distrito Federal com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na última terça-feira (3), deu a largada para uma ação dos gestores pró-vacina sobre o presidente Jair Bolsonaro, na expectativa de que o Palácio do Planalto federalize a imunização contra a Covid-19.
Os governadores pediram a Maia que interceda junto a Bolsonaro pela inserção de uma vacina contra a doença, quando aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Programa Nacional de Imunizações (PNI), iniciativa coordenada pelo Ministério da Saúde que é responsável pela distribuição de vacinas no território nacional. No PNI estão incluídas vacinas contra doenças como poliomielite, sarampo e rubéola, entre outras.
Os gestores estaduais alegam que uma "coordenação nacional" da vacinação seria o melhor caminho para o combate à Covid-19, em vez de projetos desenvolvidos de forma individual pelos estados. “Venho alertando que, se não houver coordenação nacional, todos sairão perdendo, e não será demais pensar que venhamos a assistir a episódios semelhantes aos das aquisições de respiradores, com atravessadores, valores diferentes e até pagamentos antecipados de produtos que não chegam”, disse o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), no dia do encontro.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), se tornou uma das principais figuras públicas nas discussões recentes sobre a vacinação no Brasil. Doria tem antagonizado com o presidente Bolsonaro desde o início da pandemia de coronavírus e a rixa entre ambos atingiu uma de temperaturas mais altas após o paulista anunciar que estava encaminhando a compra de vacinas que seriam produzidas pelo governo estadual em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
A ideia foi inicialmente aceita pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que depois acabaria desautorizado por Bolsonaro. A expressão vacina chinesa passou a fazer parte do vocabulário dos apoiadores do presidente da República, que condenam o imunizante. Parte deles também se coloca contra medidas de vacinação obrigatória. Bolsonaro assinou, entretanto, um parecer em que diz que sua gestão não dará tratamento diferenciado à chamada "vacina de Oxford", imunizante produzido pela universidade britânica.
Na reunião da terça, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), disse que o foco do grupo é pedir que o Brasil adote a "primeira vacina que tiver autorização científica". “Se ela é feita no Butantan, na Fiocruz, nesse ou naquele país, isso é irrelevante em relação à prioridade que é salvar vidas”, acrescentou.
Dias é o coordenador do Fórum de Governadores, que foi quem empreendeu a mobilização para visitar Maia. Seu partido, o PT, é a principal força de oposição ao governo Bolsonaro. Além do PSDB de Doria e Eduardo Leite, os governadores representados no encontro pertencem a siglas como PP, DEM, PSB, PSC e MDB.
Política e economia influenciam ação coordenada dos estados por vacina
A junção de governadores de diferentes partidos, que são adversários em outros aspectos, se explica por critérios econômicos. A implantação de um programa de vacinação é uma atividade custosa que poucos estados teriam condição de custear.
O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), que não participou do encontro, declarou recentemente que não sabe se vai "ter condições de comprar a vacina" e disse temer que a imunização acabe se tornando privilégio dos estados mais ricos, se não for centralizada pelo Ministério da Saúde. "Essa questão é de responsabilidade do governo federal, e o que vamos seguir no Amazonas vai ser essa orientação", apontou, em entrevista ao jornal O Globo.
A coordenação nacional é também uma ação que pode reduzir a possibilidade de a vacinação ser tema de debates nos tribunais. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, falou ainda em outubro que acredita que a Corte será chamada para opinar sobre os conflitos entre liberdade individual e a imunização generalizada.
Também no mês passado, Rodrigo Maia havia dito que esperava do Legislativo e do Executivo um posicionamento que evitaria que a palavra final ficasse a cargo do Poder Judiciário.
O clima de união entre os políticos de diferentes partidos não é unânime. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) acusou seu conterrâneo Wellington Dias de estar fazendo "propaganda e ficção" em torno do episódio. "O governador cuida de comprar uma vacina que ainda não existe", escreveu Nogueira em seu perfil no Twitter. O senador e Dias eram aliados até poucos meses, mas romperam e, atualmente, Nogueira é um dos principais defensores de Bolsonaro no Congresso Nacional.
Coordenação federal é "total obrigação", diz especialista
A farmacêutica Débora Melecchi, coordenadora da Comissão Intersetorial de Ciência, Tecnologia e Assistência Farmacêutica (Cictaf) do Conselho Nacional de Saúde (CNS), avalia que a coordenação nacional da vacinação contra a Covid-19 é "o caminho correto".
"Para passarmos por este período de pandemia, precisamos ter a imunização via nacional, no âmbito federal. Isso é uma total necessidade, uma total obrigação do próprio presidente da República. Está entre as atribuições dele previstas na Constituição", disse.
Débora disse que, além de o governo federal incluir a eventual vacina no PNI, uma medida positiva seria o estímulo à produção do imunizante em laboratórios nacionais, como os vinculados a universidades e a órgãos como a Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Butantan. Segundo a farmacêutica, o Brasil ainda pode se posicionar no sentido de buscar a quebra das patentes das futuras vacinas, o que baratearia o custo da produção e distribuição das substâncias.
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF