Após a liberação do uso emergencial da coronavac e da vacina de Oxford pela Anvisa, a campanha nacional de vacinação contra a Covid-19 começa a partir desta segunda-feira (18) em todo o Brasil (o estado de São Paulo se antecipou e começou a aplicar as primeiras doses já no domingo).
A Gazeta do Povo elaborou um tira-dúvidas sobre a campanha nacional de vacinação contra o coronavírus.
Quando começa a vacinação em cada estado?
O estado de São Paulo começou a vacinar já no domingo (17), logo após a aprovação do uso emergencial pela Anvisa. Nesta segunda (18), as doses começaram a ser distribuídas para os demais estados, que já podem começar a vacinar.
No entanto, a maioria das unidades da federação estava se planejando para começar a vacinação no dia 20 (quarta-feira), data definida na semana passada pelo Ministério da Saúde para o começo da vacinação. Desse modo, é possível que a imunização só seja iniciada em alguns estados na quarta, por questões de logística. E, em alguns municípios mais distantes, a campanha de imunização pode demorar mais alguns dias para começar.
Quantas doses estarão disponíveis para a população?
Neste começo da vacinação, os brasileiros serão imunizados com 6 milhões de doses da coronavac, a vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e que no Brasil está sendo produzida pelo Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo.
Havia a expectativa que também fossem usadas mais 2 milhões de doses da vacina da Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZenaca. Mas a importação da vacina pela Fiocruz, instituto ligado ao governo federal, não se concretizou e deve atrasar. A Fiocruz vai produzir no Brasil a vacina de Oxford, mas isso ainda não começou.
No total, o Ministério da Saúde afirma que o Brasil terá 354 milhões de doses de diferentes vacinas contra o coronavírus disponíveis ao longo de 2021.
Qual é o critério de divisão das doses para cada estado? E quanto cada unidade da federação vai efetivamente receber?
O critério inicial de divisão das doses era a população do estado. Com isso, as doses disponíveis seriam divididas proporcionalmente à população de cada unidade da federação.
Mas, no domingo (17), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello afirmou que determinou a inclusão nessa conta de uma "taxa de risco" de contaminação em cada unidade da federação. Isso significa que estados com maior risco terão mais doses do que o previsto inicialmente – situação que privilegiaria estados em situação mais críticas, como o Amazonas. Essa taxa de risco, segundo Pazuello, será variável ao longo do tempo. Ele não explicou os fatores que são englobados pela taxa de risco, tampouco qual é o peso na distribuição das doses. Mas, no primeiro lote de 6 milhões de doses, a taxa de risco já mudou sensivelmente a proporção populacional. Por exemplo: Paraná e Rio Grande do Sul têm praticamente a mesma população (11 milhões de habitantes), mas os gaúchos receberão 22% mais doses.
A divisão da distribuição das primeiras 6 milhões de doses ficou estabelecida da seguinte forma:
Região Sudeste - 2.493.280 doses
- Minas Gerais - 561.120
- Espírito Santo - 95.440
- Rio de Janeiro - 487.520
- São Paulo - 1.349.200
Região Sul - 681.120 doses
- Paraná - 242.880
- Santa Catarina - 126.560
- Rio Grande do Sul - 311.680
Região Centro-Oeste - 415.880 doses
- Mato Grosso do Sul - 61.760
- Mato Grosso - 65.760
- Goiás - 182.400
- Distrito Federal - 105.960
Região Norte - 296.520 doses
- Rondônia - 33.040
- Acre - 13.840
- Amazonas - 69.880
- Roraima - 10.360
- Pará - 124.560
- Amapá - 15.000
- Tocantins - 29.840
Região Nordeste - 1.200.560 doses
- Maranhão - 123.040
- Piauí - 61.160
- Ceará - 186.720
- Rio Grande do Norte - 82.440
- Paraíba - 92.960
- Pernambuco - 215.280
- Alagoas - 71.080
- Sergipe - 48.360
- Bahia - 319.520
Quando eu serei vacinado?
O plano nacional de vacinação prevê duas etapas de vacinação. A primeira inclui o grupo prioritário e deve durar quatro meses – até maio, portanto. A outra etapa inclui a população adulta com menos de 60 anos e deve durar mais um ano. Ou seja, até maio de 2022.
A primeira etapa, por sua vez, se subdivide em quatro fases.
Na primeira fase serão vacinados os trabalhadores da saúde; pessoas de 75 anos ou mais; pessoas de 60 anos ou mais que morem em lares de idosos; população indígena, povos e comunidades tradicionais ribeirinhas.
Na segunda fase será a vez das pessoas de 60 a 74 anos.
A terceira fase vai abranger pessoas com doenças crônicas como diabetes; hipertensão arterial grave; doença pulmonar obstrutiva crônica; doença renal; doenças cardiovasculares e cerebrovasculares; indivíduos transplantados; pessoas com anemia falciforme; com câncer; com obesidade grave (IMC igual ou maior que 40).
E, na quarta fase, serão vacinados professores, policiais, bombeiros e funcionários do sistema prisional.
Concluída a primeira etapa, com quatro fases, começa a vacinação de brasileiros que tenham menos de 60 anos.
Cada estado e município vai definir como será feita a vacinação. Ou seja, se a pessoa terá de se cadastrar num sistema online ou se poderá se vacinar apenas chegando na unidade de saúde onde ocorre a imunização.
Terei de pagar pela vacina?
Não, o governo vai adquirir os imunizantes e ofertá-los gratuitamente por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
Todos os brasileiros serão vacinados?
O governo estima que 70% dos brasileiros serão vacinados em 2021. O Ministério da Saúde diz que terá à disposição 354 milhões de doses em 2021. Como as vacinas que o Brasil tem até agora exigem duas doses para garantir a imunidade, isso será suficiente para vacinar 177 milhões dos cerca de 210 milhões de brasileiros. Isso daria pouco mais de 84% da população, diferentemente dos 70%.
Em princípio, apenas maiores de 18 anos serão vacinados. O plano nacional de imunização não prevê a vacinação de bebês, crianças e adolescentes.
Isso ocorre porque essas faixas etárias não passaram pelos testes para garantir a segurança e eficácia dos imunizantes. Mas eles poderão vir a ser incluídos na campanha nacional de imunização posteriormente, à medida que novos estudos forem feitos para esses grupos. O Butantan, por exemplo, pretende incluir menores de 18 anos nos estudos da coronavac.
Quais vacinas serão usadas no Brasil?
Até o momento, apenas duas vacinas estão no plano nacional de imunização: a coronavac e a vacina de Oxford.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, assegurou que o Brasil tem assegurado para este ano quase 355 milhões de doses. São 212,4 milhões de doses da vacina de Oxford, 100 milhões da coronavac e 42,5 milhões de doses de uma vacina ainda não especificada por meio do Covax Facility. O Covax Facility é o consórcio global de países coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Posso escolher qual vacina tomar?
Não. A vacina que será aplicada em cada pessoa será a que estiver disponível no momento da vacinação. Os critérios de uso da coronavac ou da vacina de Oxford serão definidos pelas autoridades de saúde. Grupos de mais risco, por exemplo, poderão ter acesso à vacina de Oxford, que garante uma imunidade maior. Mas, neste começo da vacinação, todos receberão doses da coronavac, que é a única disponível no Brasil por enquanto.
O governo federal negocia a compra de vacinas de outros laboratórios?
Sim, o Ministério da Saúde segue realizando negociações com outros laboratórios, tais como Janssen (EUA), Moderna (EUA), Pfizer (Alemanha), Bharat Biotech (Índia) e Gamaleya (Rússia).
Qual é a eficácia das vacinas que serão usadas no Brasil?
A coronavac tem 50,38% de eficácia geral. Ou seja, quem toma a vacina do Butantan tem 50% menos chance de contrair o coronavírus. Segundo os estudos, contudo, a coronavac tem 100% de eficácia para casos graves e moderados e 78% de eficácia contra casos leves.
Já a vacina de Oxford apresentou eficácia média de 70,4%. Isso significa que a pessoa que toma vacina de Oxford tem 70% de chance de não contrair o coronavírus.
Após me vacinar, posso tirar a máscara em locais públicos, frequentar espaços com aglomeração e deixar de lado cuidados como higienizar as mãos?
Não. A imunidade só é atingida após alguns dias após a vacinação – o que, no caso das vacinas que serão usadas no Brasil, só ocorre após a aplicação da segunda dose.
Além disso, nenhuma vacina tem 100% de eficácia. Isso significa que mesmo pessoas vacinadas podem contrair Covid-19. A tendência é que não desenvolvam casos graves nem moderados. Mas essas pessoas podem transmitir o coronavírus para pessoas que não se vacinaram.
Especialistas temem justamente que os vacinados, ao se descuidarem dos cuidados básicos, acabem por se tornarem vetores de novos surtos. Então, muito provavelmente os cuidados básicos contra o coronavírus terão de continuar a ser tomados durante todo o ano de 2021, até que a pandemia acabe ou esteja completamente controlada.
Quando a pandemia pode acabar no Brasil?
A pandemia acaba quando o país tiver atingido a chamada imunidade de rebanho. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que de 60% a 70% da população de um país tenha de ser imunizada para que a pandemia acabe.
Mas, como as vacinas à disposição no Brasil não têm eficácia próxima dos 100%, será preciso vacinar bem mais do que 70% da população. Estudos preliminares indicam que, com a coronavac, 99% da população terá de ser vacinada para se chegar à imunidade de rebanho. Não há estudos sobre qual seria o porcentual de pessoas imunizadas com a vacina de Oxford para que se atinja a imunidade de rebanho.
Como o Brasil prevê vacinar cerca de 70% dos brasileiros em 2021, a tendência é que a pandemia só acabe no país em 2022.
Mas o fim da pandemia (que é a disseminação da doença em uma escala ampla) também não significará o fim da Covid-19. Muito provavelmente o coronavírus continuará a circular e provocará surtos esporádicos por muitos anos.
Haverá vacinas na rede particular para que eu possa me vacinar antes de chegar a minha vez na campanha de vacinação pública?
Isso ainda é incerto. A Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas ( ABCVAC) tenta negociar a compra de 5 milhões de doses da vacina Covaxin, desenvolvida na Índia pelo laboratório Bharat Biotech. A ideia seria ofertar a vacinação na rede privada (vacina paga) a partir de março.
O presidente da ABCVAC, Geraldo Barbosa, afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo que o processo para a compra das doses da Covaxin está “muito bem encaminhado”. Segundo ele, a compra será finalizada assim que sair o registro definitivo da vacina no Brasil.
Porém, o governo federal tem colocado obstáculos para que haja vacinação na rede privada. Recentemente, representantes do governo federal disseram que vão proibir que empresas comprem vacinas para seus funcionários. Em dezembro, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que a rede privada terá acesso à vacina apenas depois que o SUS receba as doses de que precisa.
Serei obrigado a me vacinar?
Não, a vacinação não é obrigatória. Porém, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os estados e municípios poderão impor sanções às pessoas que não se vacinarem, tais como restringir o acesso a determinados locais ou a certos benefícios do governo.
O que dizem as pesquisas de opinião sobre a disposição do brasileiro em se vacinar?
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha mostrou que o percentual de brasileiros dispostos a se vacinar contra a Covid-19 caiu de 89% na primeira quinzena de agosto para 73% em dezembro. No mesmo período, a parcela de pessoas que declararam que não querem tomar a vacina cresceu de 9% para 22% Os entrevistados que preferiram não opinar foram 5%.
Outro levantamento, realizado pelo Fórum Econômico Mundial e pela Ipsos em dezembro, mostrou que o Brasil é o segundo país com mais pessoas dispostas a serem vacinadas. A pesquisa apontou que 78% dos entrevistados pretendem receber a vacina. Foram consultadas mil pessoas, com idades entre 16 e 70 anos, segundo o jornal Valor Econômico. A China é o país que tem a maior intenção de se vacinar: 80% das 13.500 pessoas consultadas disseram que estão dispostas a se imunizar.
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