A saúde tem sido uma das áreas com maior atenção destinada pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a equipe de transição de governo. A poucos dias do início do mandato, eles buscam uma complementação orçamentária de mais de R$ 22 bilhões para 2023 para atender o que consideram prioridade para a saúde pública no Brasil: a recomposição do Programa Nacional de Imunização e a reestruturação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Para o SUS, a equipe de transição avalia que há necessidade de maior abastecimento de medicamentos e vacinas. Também consta no planejamento a realização de mutirões em todos os estados do Brasil para a diminuição da demanda reprimida de atendimentos médicos.
"Isso quer dizer que nós poderemos realizar consultas, exames, tratamentos que estão parados e não foram realizados porque os hospitais estavam focados nos pacientes com Covid-19 e as pessoas não podiam sair de casa. Então é uma grande preocupação diminuir essa fila que se formou", disse à Gazeta do Povo o senador e membro da equipe de transição na área da Saúde, Humberto Costa (PT-PE).
Já para a imunização, o governo petista pretende fazer com que o Brasil "volte a ser" referência mundial em vacinação pública. O planejamento prevê garantia das doses de reforço contra a Covid-19 e a ampliação da cobertura vacinal para diversas doenças, como poliomielite e sarampo, que apresentaram queda na procura pelo público nos últimos anos.
Exemplo são as vacinas destinadas ao público infantil. Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apenas a vacina BCG cumpriu a meta do Ministério da Saúde de atingir 90% das crianças brasileiras em 2022. Já as imunizações tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), a tetra viral (que inclui também a primeira dose da varicela) e contra a hepatite A apresentam índices abaixo dos 50%.
Por isso, a tendência é que haja uma integração entre a Saúde e outros ministérios para atrelar a vacinação ao acesso de serviços e benefícios sociais, como por exemplo a matrícula de crianças e adolescentes em escolas públicas e o recebimento do Auxílio Brasil – que deve voltar a se chamar Bolsa Família.
"O Brasil era um exemplo para o mundo com seu protocolo e adesão à imunização. De repente, as pessoas deixaram de tomar vacina e não podemos deixar que isso se mantenha. Vamos trabalhar para que a vacinação esteja vinculada a outros programas", pontuou o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), após reunião com os membros do grupo de transição para a Saúde no mês de dezembro.
Lula também destacou a recuperação do PNI como uma tarefa primordial dos primeiros cem dias de governo. Em um encontro online do Grupo Técnico de Saúde, em Brasília, em 24 de novembro, o petista disse que o governo precisa convencer a população sobre a eficácia das vacinas, entre elas as substâncias utilizadas contra a Covid-19, e cobrar que as lideranças evangélicas ajudem nessa tarefa.
"Eu pretendo procurar várias igrejas evangélicas e discutir com o chefe delas: 'Olha, qual é o comportamento de vocês nessa questão das vacinas?' Ou vamos responsabilizar vocês pela morte das pessoas", disse Lula, segundo informações do jornal Folha de S.Paulo. A fala gerou repercussão negativa entre os evangélicos.
Em relação à vacinação contra a Covid-19, o Ministério da Saúde, sob o comando do presidente Jair Bolsonaro (PL), informou que a vacinação contra a Covid-19 está garantida para 2023, devido aos contratos firmados pela pasta com fornecedores. A definição da estratégia está sendo discutida dentro do Programa Nacional de Imunização.
"Mais de 570 milhões de doses de vacinas já foram entregues para todos os estados de forma proporcional e igualitária. Apenas em novembro e dezembro, a pasta entregou mais de 2 milhões de doses para o público infantil e mais de 10,5 milhões de doses para o público adulto", apontou o Ministério da Saúde em nota.
A pasta ainda informou que no mês de dezembro 19,6 milhões de doses de vacinas bivalentes contra a Covid-19 chegaram ao Brasil. Após a avaliação do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), os imunizantes serão distribuídos para todo país.
Filas e digitalização no SUS entram na lista de prioridades
Também é considerado uma prioridade pela equipe de transição o combate à desnutrição infantil. Dados do Sistema de Informação da Saúde da Atenção Básica (Sisab), do Ministério da Saúde, apontam que entre os meses de janeiro e setembro de 2022, foram realizados 977 mil diagnósticos de desnutrição em crianças atendidas pela atenção básica no Brasil.
"Outra preocupação é enfrentar as filas e dificuldades para o tratamento especializado. Nesse aspecto é importante que possamos organizar a regionalização do atendimento, nos diversos estados do Brasil, e promover um processo de digitalização do SUS, não apenas para melhorar a gestão, mas também a própria qualidade do atendimento, administrar as filas e outros problemas", completa Costa.
Para concretizar essas ações, a equipe de transição de governo para a Saúde solicitou um orçamento complementar de R$ 22,7 bilhões para 2023. Esses valores seriam destinados via emenda constitucional, popularmente conhecida como PEC fura-teto. A proposta foi aprovada pelo Senado Federal e deve ser votada na Câmara dos Deputados a partir desta terça-feira (20).
Perfil técnico é preferência de Lula para ministério da Saúde
A importância da área da Saúde para o próximo governo também é notada pelo desejo de Lula em indicar um perfil técnico para a pasta. A favorita é a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade. Ela é doutora em sociologia, mestre em ciência política, tem graduação em ciências sociais e está à frente da organização desde 2017.
Durante a pandemia, Nísia criou o Observatório Covid-19, uma rede de pesquisas de dados epidemiológicos com objetivo de monitorar a circulação e os impactos do vírus no país. A socióloga ainda criou um novo centro hospitalar no campus de Manguinhos e coordenou no Brasil o ensaio clínico Solidarity, da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Além de Lula, o nome da socióloga é defendido pelo ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT) e pelo médico cardiologista Roberto Kalil Filho, ambos conselheiros próximos ao presidente eleito. Caso o favoritismo seja confirmado, Nísia será a primeira mulher a chefiar o Ministério da Saúde.
Durante o governo Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde foi chefiado por quatro pessoas: o deputado federal Luiz Henrique Mandetta (União Brasil-MS), o médico oncologista Nelson Teich, o general Eduardo Pazuello e o médico cardiologista Marcelo Queiroga.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião