Um ano após o segundo turno das eleições, com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o clima de acentuada polarização política no país permanece, afetando até a composição da bancada da maior legenda da oposição. O direitista Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro, está entre os alvos do governo para ampliar a base de apoio parlamentar.
Nesse esforço, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), negocia uma ou duas vice-presidências ou diretorias da Caixa Econômica Federal para o PL. A presidência do banco foi entregue ao PP na semana passada, em meio à negociação para assegurar votações de projetos com apoio do Centrão. Os deputados do partido de Bolsonaro somam a maior barreira ao governo.
A busca de infiéis do PL para aderirem ao governo é o capítulo mais novo e controverso da série de investidas de Lula para cooptar deputados das três siglas conservadoras que formaram a coligação de Bolsonaro na campanha pela reeleição em 2022 e de outras de centro-direita, como a União Brasil. PP e Republicanos já estão representados na Esplanada dos Ministérios.
Diante das movimentações, comenta-se nos bastidores que Bolsonaro cobra a expulsão dos dissidentes, mas esbarra na resistência do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Dos 99 deputados eleitos pela legenda, um foi expulso: Yury do Paredão (CE) foi punido em julho por “ter feito o L” ao lado de Lula. Mas há hoje entre 20 e 30 que também poderiam entrar na berlinda.
Em razão de apoio ao governo em votações importantes, oito deputados também sofreram punições na sequência: Bacelar (BA), Detinha (MA), Josimar Maranhãozinho (MA), Junior Lourenço (MA), Junior Mano (CE), Matheus Noronha (CE), Pastor Gil (MA) e Vinicius Gurgel (AP) perderam por três meses o direito de participar de qualquer comissão da Câmara.
Embora seja aliado de Bolsonaro e vote conforme a orientação do PL, o deputado Ricardo Salles (SP), ex-ministro do meio ambiente, tem tido embates com a legenda, sobretudo com o presidente Valdemar da Costa Neto, envolvendo o seu projeto de se candidatar à Prefeitura de São Paulo. O PL paulista está inicialmente apoiando a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) e Salles busca alternativas para concorrer.
25 deputados votaram contra a orientação dos seus líderes
No primeiro grande teste de fidelidade do Centrão em votações, no qual foi aprovado no último dia 26, o projeto para taxação dos fundos offshore e dos chamados super-ricos, dos 98 deputados do PL, 73 foram contra o governo, 12 a favor e 13 se abstiveram. Dos integrantes que não seguiram a orientação dos líderes, destacam-se representantes do Nordeste e o deputado Tiririca (SP).
Foram eles: Daniel Agrobom (GO), Ícaro de Valmir (SE), Jorge Goetten (SC), João Maia (RN), João Bacelar (BA), Luciano Vieira (RJ), Junior Lourenço (MA), Matheus Noronha (CE), Rosângela Reis (MG), Samuel Viana (MG), Robinson Faria (RN) e Tiririca (SP), formando grupo adesista ao Planalto, incluindo os reincidentes, punidos por terem aprovado a estrutura ministerial de Lula.
Apesar da dissidência clara, o pragmatismo favorece a permanência dos infiéis na bancada. Como os deputados não têm a liberdade gozada pelos senadores para migrar de legendas, a desfiliação voluntária deles pode levar à perda de mandato pela regra da fidelidade partidária. Por outro lado, o total de assentos no plenário garante acesso proporcional em comissões.
Em entrevista à Rádio Nova Brasil FM nesta terça-feira (31), Carlos Jordy (PL-RJ), líder da oposição na Câmara, atribuiu o grupo infiel à mudança de perfil do partido após a chegada de Bolsonaro e a onda que elegeu o maior número de deputados em 2022. “O PL desta legislatura é diferente, tem formato conservador de direita e a imagem de Bolsonaro à frente”, disse.
Para Jordy, o maior partido de oposição no país encontra a dificuldade de lidar com os membros de “retrospecto adesista”, mas considera normal que eles tentem “deixar o PL para ser base de Lula”, buscando sinal verde de Valdemar Costa Neto. O partido, inclusive, já fez parte da base dos primeiros governos petistas, incluindo tendo o vice-presidente da República.
Pesquisas têm mostrado a persistência da polarização centrada nas imagens de Lula e Bolsonaro. Sobretudo o público conservador tem sido mais resiliente, graças à agenda externa de Lula e à pauta de costumes evocada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A pesquisa Quaest/Genial divulgada esta semana revelou que 44% dos eleitores votariam em Lula e 39% em Bolsonaro. No primeiro turno da eleição, tiveram 39% e 37%.
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