Operação do MPT encontrou 200 trabalhadores em situação análoga à escravidão contratados para a colheita de uvas em vinícolas do RS.| Foto: MPT/divulgação
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O vereador da cidade de Caxias do Sul (RS), Sandro Fantinel, disse na sessão de segunda (27) que as vinícolas do Rio Grande do Sul deveriam deixar de contratar trabalhadores nordestinos para a colheita de uva e buscar mão-de-obra na Argentina. O áudio do discurso na Câmara Municipal foi tornado público na terça (28) e faz referência à operação do Ministério Público do Trabalho (MPT) que encontrou 192 homens em condições análogas à escravidão na semana passada.

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Fantinel foi expulso do partido Patriota no começo da tarde desta quarta (1) por conta das falas contra os baianos. Pela manhã, um pedido de cassação do mandato foi protocolado na Câmara Municipal da cidade.

De acordo com ele, os agricultores do estado não devem mais “contratar aquela gente lá de cima”, e que os argentinos “são limpos, trabalhadores, corretos” e que, no dia de ir embora, “agradecem o patrão pelo serviço prestado”.

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“Eu vou dar um conselho para vocês: não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo, vamos criar uma linha e vamos contratar os argentinos. Porque todos os agricultores que têm argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantém a casa limpa, e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam”.

No discurso, Fantinel diz que a cultura dos trabalhadores da Bahia “é viver na praia tocando tambor. Era normal que fosse ter esse tipo de problema”. “Deixem de lado aquele povo que é acostumado com carnaval e festa pra vocês não se incomodar (sic) novamente”.

As falas do vereador geraram uma reação imediata entre os outros integrantes da casa, como de Lucas Caregnato (PT), que diz que a declaração de Fantinel foi “xenofóbica e discriminatória”.

“Como cidadão e vereador de Caxias do Sul repudio veementemente as declarações. Jamais silenciamos e silenciaremos frente a qualquer ato de ódio e intolerância”, disse.

Já o vereador Leonel Radde (PT) diz que registrou um boletim de ocorrência contra Sandro Fantinel e que “o Rio Grande do Sul e o Brasil não são lugares para racistas, escravocratas”. Ele ainda criticou uma fala do prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira, de que as vinícolas não sabiam da situação vivida pelos trabalhadores da empresa terceirizada contratada para a colheita.

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O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), também criticou as declarações de Fantinel, dizendo que não vai permitir “que tratem nenhum nordestino ou baiano com preconceito ou rancor”.

“É desumano, vergonhoso e inadmissível ver que há brasileiros capazes de defender a crueldade humana. Determinei, portanto, a adoção de medidas cabíveis para que o vereador seja responsabilizado pela sua fala”, disse.

A direção da Câmara de Caxias do Sul não se pronunciou sobre as declarações de Fantinel. À Folha de São Paulo, o vereador disse que vai pedir desculpas pelas falas nesta quarta (1), na sessão plenária, e que "falou demais".

"Essa pauta ganhou grande repercussão em função dos acontecimentos em Bento Gonçalves, que na minha visão são exagerados e midiáticos. Empresas que são muito importantes para a nossa serra gaúcha e nosso país estão sofrendo um verdadeiro linchamento virtual", disse.

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Assistencialismo aos trabalhadores

No começo desta semana, a Câmara da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (RS) divulgou uma nota afirmando que as vinícolas enfrentam dificuldade para encontrar mão-de-obra.

“Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade”, disse.

Nesta terça (28), a entidade divulgou outra nota em que revê o posicionamento sobre a declaração anterior, dizendo entender que “políticas públicas assistenciais são parte fundamental no compromisso social de oferecer amparo às pessoas em situação de vulnerabilidade”.

“Nosso compromisso, enquanto entidade, é oportunizar que as pessoas não dependam exclusivamente do assistencialismo para sobreviver – mas que encontrem incentivo para ingressar/retornar dignamente ao mercado do trabalho. O maior programa de assistencialismo que pode existir é dignificar as pessoas por meio do emprego e, com esse propósito, o CIC-BG está prestando valiosíssima contribuição social”, conclui (veja na íntegra)

Força-tarefa

Nesta terça (28), o governo do Rio Grande do Sul criou uma força-tarefa para tratar de medidas que evitem a ocorrência de novos casos como o descoberto na semana passada com a Fênix Serviços de Apoio Administrativo, empresa terceirizada contratada pelas vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi para a colheita.

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Segundo o governador Eduardo Leite (PSDB), será colocada toda a estrutura do governo “para amplificar a capacidade de fiscalização, principalmente nas atividades que demandam a expansão de mão de obra de forma muito rápida em determinados momentos, como é o caso das colheitas, e que se tornam situações de risco”.

Ele afirma, ainda, que a Secretaria da Saúde vai emitir uma nota técnica sobre as condições adequadas de hospedagem e alimentação com foco nos trabalhadores das colheitas para auxiliar no trabalho de fiscalização e potencializar as atividades da Vigilância em Saúde do Trabalhador. Em épocas de colheita, diz, a população da Serra Gaúcha recebe cerca de 100 mil trabalhadores.

As três vinícolas alvos da operação dizem que desconheciam as condições de abrigo praticadas pela Fênix.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]